Sob a insana batuta de Martin Scorsese longa aposta no talento de Leonardo DiCaprio para recriar uma das vergonhosas e imorais historias norte-americanas
Se inspirando em uma das mais insólitas e ousadas histórias reais
envolvendo trapaças e promiscuidade, o diretor Martin Scorsese mostra em O Lobo de Wall Street porque é considerado um dos melhores realizadores em atividade. Sem
perder a mão apesar dos excessos, Scorsese vende ao publico uma trama
regada de drogas, sexo, falcatruas e loucuras em geral. E vende muito bem, diga-se de passagem, já que mesmo com a censura elevada o longa fez grande sucesso nos EUA. Contando com a alucinada atuação de
Leonardo DiCaprio, em sua quinta colaboração com o diretor, o veterano realizador mostra habilidade na condução destes exageros e na forma surtada como adapta uma daquelas histórias norte-americanas que - normalmente - são jogadas
para debaixo do tapete.
E o personagem em questão é Jordan Belfort, um vendedor com problemas financeiros que acaba se tornando um profissional da bolsa de valores. Durante as décadas de 1980 e 1990, ainda jovem, Belfort assumiu um cobiçado cargo em uma grande empresa de Wall Street. No entanto, após a conhecida crise do dia 19 de Outubro de 1987, chamada popularmente de "segunda-feira negra", Belfort terminou demitido precocemente. Sem opções financeiras e com o mercado em crise, ele aceita trabalhar em uma pequena empresa de ações de baixo valor. A partir daí, ao lado de seu amigo Donnie Azoff (Jonah Hill), Jordan Belfort inicia a sua incrível ascensão dentro do obscuro mercado da bolsa de valores, com direito a uma série de excentricidades envolvendo drogas, mulheres, amizades e muito, mais muito dinheiro. A maioria dele, aliás, conseguido através de atitudes ilegais e da venda de ações furadas. Estima-se que, ainda jovem, Belfort tenha acumulado a fortuna de oito bilhões de dólares, gastos com sexo, mansões, drogas e bizarrices em geral.
Em cima deste fantástico argumento, Scorsese tem como grande mérito a opção de não amenizar na apresentação do modo de vida do corretor, mesmo sabendo que o excesso de nudez e uso de drogas poderia afastar o público mais conservador. Por incrível que pareça, os absurdos fatos levados à tela pelo roteirista Terence Winter são verdadeiros. Explorando este lado "aventureiro" de Belfort, as sequências envolvendo um pouso forçado, um naufrágio, uma orgia em um avião e uma "confusa" volta para casa são reais, retiradas diretamente da biografia escrita pelo próprio Belfort. Através de ótimos diálogos, recheados de acidez e humor, Scorsese faz com que o longa escape do tom caricatural, filmando com criatividade as excêntricas atitudes de Belfort. Se prepare então para muitas cenas de sexo, as mulheres são praticamente um objeto, para o uso de diversas drogas, das mais variadas formas possíveis, e para o excesso de xingamentos, a palavra Fuck é dita 506 vezes - novo recorde em Hollywood. Todos esses episódios, porém, são rodados sob uma estética muito mais voltada para o humor, para a sátira, repletos de cortes rápidos e imagens contrastantes. Narrada em primeira pessoa, apesar das suas quase 3 horas de duração, a trama apresenta ainda um interessante ritmo, repleto de idas e vindas dentro dos imorais fatos apresentados pelo protagonista. Após um início cheio de estilo, e uma hora final realmente empolgante, é o miolo do longa o grande ponto falho do roteiro. Ao longo da ascensão de Belfort, o argumento parece se perder no exagero e nos muitos discursos do protagonista. Essa opção, inclusive, deixa a inevitável impressão que com 20 minutos a menos o resultado final teria sido ainda melhor. Nada disso, porém, atrapalha o desenvolvimento de O Lobo de Wall Street, graças - principalmente - ao desempenho do afiado elenco.
Flutuando entre a ostentação e a promiscuidade, O Lobo de Wall Street é um daqueles retratos surtados sobre a droga que mais vicia. Independente dos equívocos do longa, quase todos ligados aos excessos, Martin Scorsese nos apresenta a mais um empolgante trabalho, repleto de ritmo e intensidade. Acusado de atribuir um desnecessário glamour ao personagem e as suas atitudes, Scorsese, na verdade, só se preocupa em mostrar a figura de Belfort, utilizando o próprio ponto de vista do imoral corretor. Um extravagante homem que teve com a cocaína a mesma relação que o Popeye tem com o espinafre.
A começar pelo trabalho de Leonardo DiCaprio, que não se preocupou com a exposição excessiva e se entregou de corpo e alma ao interpretar Jordan Belfort. Um fato, diga-se de passagem, raro para um ator do seu status. Absolutamente carismático, ele convence como um transloucado usuário de drogas, se submetendo as mais bizarras situações. Alternando entre o surtado e o alucinado, o ator demonstra grande química com os seus parceiros de cena, com destaque para a relação com Jonah Hill. Na verdade, me arrisco a dizer que se não fosse a atuação elétrica de Leonardo DiCaprio, o ator de SuperBad e Moneyball teria tomado para si o longa. Baseado na tradicional figura do yuppie norte-americano, Hill vive Donnie Azoff, o afetado braço direito de Belfort. Responsável por grande parte dos (muitos) momentos hilários do filme, o jovem cria um personagem repleto de trejeitos, conquistando o espectador desde a primeira cena. Merecidamente indicado ao Oscar como ator coadjuvante, desta vez no gênero que o consagrou. Além da dupla, vale destacar ainda os ótimos desempenhos de Matthew McConaughey, infelizmente com pouquíssimo tempo em cena, do expressivo Jean Dujardin, impagável na pele de um banqueiro suíço, do competente Kyle Chandler, muito bem como o correto inspetor do FBI, e da bela Margot Robbie, que exala sensualidade como a segunda esposa de Belfort.
Flutuando entre a ostentação e a promiscuidade, O Lobo de Wall Street é um daqueles retratos surtados sobre a droga que mais vicia. Independente dos equívocos do longa, quase todos ligados aos excessos, Martin Scorsese nos apresenta a mais um empolgante trabalho, repleto de ritmo e intensidade. Acusado de atribuir um desnecessário glamour ao personagem e as suas atitudes, Scorsese, na verdade, só se preocupa em mostrar a figura de Belfort, utilizando o próprio ponto de vista do imoral corretor. Um extravagante homem que teve com a cocaína a mesma relação que o Popeye tem com o espinafre.
2 comentários:
O Popoye foi um toque de classe. rsrs. Pois é, Leonardo DiCaprio no melhor momento de sua carreira. Disparado. É o Touro indomável dele! Acho que este é o melhor filme de Scorsese desde "Os bons companheiros". Diferentemente de vc, não vejo excessos no filme. Há sim o excesso de drogas, mas essa é uma reprodução calculada da ostentação surtada do lifestyle de Belfort e sua trupe. Enfim, elenco primoroso, roteiro espetacular, direção segura e esperta. Só elogios do lado de cá para este novo clássico americano.
Abs
Na minha opinião os excessos ficaram pela repetição desnecessárias de algumas cenas, mas nada que estrague o filme. De resto concordo plenamente com vc, apesar de achar que DiCaprio teve outros grandes desempenhos recentemente. Com destaque pra O Aviador e Os Infiltrados. Um baita filme mesmo...
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