terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Cinemaniac Indica (O Grande Gatsby)

A ousadia estética dita o tom do mais novo trabalho do diretor Baz Luhrman


Muitos fãs da sétima arte, incluindo essa pessoa que vos escreve, são extremamente críticos com relação ao excessivo número de refilmagens que estão tomando conta das salas de cinema. Afinal, com poucas exceções, esses "remakes" quase sempre seguem uma mesma cartilha, apostando tão somente na entrada de novos atores, ou de pequenas mudanças na essência do filme. Pois bem, Baz Luhrmann não pensa assim - felizmente. Quarta versão da clássica obra de F. Scott Fitzgerald, essa nova adaptação de O Grande Gatsby consegue levar para a tela a verdadeira grandeza que a obra original destacava. Conduzida com toda a criatividade de Luhrmann, o longa aposta numa estética visual fantástica, numa trilha altamente pop e no talentoso elenco ao dar uma roupagem atual a todo o frenesi social destacado pela obra da década de 1920.

Adaptado pelo próprio Baz Luhrmann, essa nova e excêntrica versão da clássica obra opta por maximizar todos os personagens envolvidos, que ganham um status ainda maior. Principalmente o bilionário Jay Gatsby (Leonardo Di Caprio), um misterioso novo rico que ficou conhecido por promover grandiosas festas em sua gigantesca mansão. Vizinho desta residência, Nick Carraway (Tobey Maguire) parecia não ser adepto deste estilo de vida. Tanto que nunca havia estado lá, mesmo com as festas abertas para o público. Escritor frustrado, o corretor da bolsa de valores mantinha uma forte amizade com o também poderoso Tom Buchanan (Joel Edgerton), um ex-atleta de família rica casado com Dayse (Carey Mulligan), a prima de Nick. Tentando se adaptar ao frenesi social da década de 1920, no auge da Lei-Seca, que, aliás, só aumentou o consumo de bebidas em Nova Iorque, Nick desperta o interesse de Gatsby. De forma misteriosa, ele recebe um convite para uma dessas festas. Surpreso, Nick aceita o convite e finalmente passa a conhecer este novo mundo de glamour, jazz e bebidas, Encantado com o carisma de Gatsby, Nick acaba se tornando uma peça chave para o grande plano de vida montado pelo bilionário.


Em cima desta clássica premissa, Baz Luhrmann cria o seu espetáculo visual, embasado pelas ótimas atuações. Fiel ao clássico da literatura norte-americana, o também roteirista desenvolve habilmente o mistério envolvendo Gatsby, seu passado e as suas verdadeiras intenções. Camada a camada, Luhrmann vai descascando o seu personagem principal, tal como uma fruta, guardando a sua verdadeira essência, a sua real personalidade, para o excelente clímax. Assim como em Moulin Rouge, o diretor australiano alia a sua habilidade estética com a condução do bem escalado time de atores. A começar pelo ótimo Leonardo DiCaprio, que esbanja carisma como o misterioso Jay Gatsby. É impressionante como o ator consegue flutuar entre a força e a fragilidade ao longo das duas horas e quinze de projeção. Me arrisco a dizer que esta nova versão, inclusive, traz um Gastby mais intenso e bem construído do que o vivido por Robert Redforfd, na adaptação de 1974. Assim como DiCaprio, Tobey Maguire também tem um excelente desempenho na pele de Nick Carraway. Apesar do personagem menos expressivo, Maguire tem a responsabilidade de ligar toda a trama, repleta de especulações sobre as verdadeiras intenções de Gatsby. E cumpre muito bem essa missão, mostrando uma ótima química com DiCaprio. Os dois são seguidos de perto pelos ótimos Joel Edgerton e Carey Mulligan, que nos brindam com desempenhos não menos ótimos. Com carreira em franca ascensão, Edgerton não se intimida diante de DiCaprio, o que fica claro nas explosivas cenas protagonizadas pela dupla. 


O grande apelo dessa nova versão de O Grande Gatsby, no entanto, fica pelo inimaginável cuidado estético e tecnológico. Ao recriar o frenesi social da década de 1920, Luhrmann aposta nas cores, no brilho e no impacto que as imagens podem criar. Toda construção da mansão de Gatsby e de suas festas são impressionantes. Aliando ótimos figurinos e danças à trilha sonora pop, escolhida a dedo pelo produtor e músico Jay Z, a nova versão é visualmente impactante. A construção digital também chama a atenção, principalmente quando recria a contrastante Nova Iorque do início do século passado. Sem querer revelar muito, o realizador esbanja categoria nas incríveis cenas em alta velocidade, com destaque para as cenas que envolvem o carro "tunado" de Gatsby. Na verdade, ao atualizar uma clássica e importante obra norte-americana, Baz Luhrmann mostra que algumas refilmagens podem ter o seu valor. O resultado é uma refilmagem exuberante, exótica e extremamente expressiva.

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