Com toques de Borat, Pequena Miss Sunshine e da trupe Jackass, road-movie liderado por Johnny Knoxville é uma das grandes surpresas do ano.
Lançado no ano de 2000 pela MTV, o programa Jackass se tornou uma grande febre junto aos jovens fãs da emissora. Apostando no humor escatológico e nas peripécias físicas da trupe de loucos, o programa idealizado por Johnny Knoxville logo ganhou as telonas. No ano de 2002, Jackass o filme se tornou um grande sucesso nos EUA, faturou mais de 70 milhões de dólares e liderou por algumas semanas o ranking dos filmes mais assistidos. E um dos personagens que sempre provocou muitas risadas, se tornando um dos mais emblemáticos da série, é o "velho" Irvin Zisman. Um judeu desbocado e trapalhão, que sempre se aproveitou da inocência das pessoas para aprontar das suas. Não é por menos que treze anos depois, de forma completamente despretensiosa, a MTV Filmes aposta em Vovô sem Vergonha, um hilário road-movie que apresenta as aventuras do octogenário vivido por Johnny Knoxville. Explorando câmeras escondidas e as espontâneas reações do público em meio às pegadinhas de Irving, o longa apresenta uma linha narrativa simples, mas interessante, não se resumindo apenas a um emaranhado de esquetes.
Dirigido e roteirizado por Jeff Termaine, condutor da franquia Jackass nos cinemas, com participação do próprio Johnny Knoxville e do também produtor Spike Jonze, a trama de Vovô sem Vergonha mostra a nova rotina de Irvin Zisman (Knoxville), após a morte de sua esposa Glória (Jonze). Livre do matrimônio, Irvin planejava viver os últimos anos de sua vida de forma diferente, curtindo mulheres, bebidas e todo o tempo vago. O que ele não esperava era que sua filha Kimmie (Georgina Cates) fosse novamente detida por uso de drogas, quebrando assim a sua condicional. Irvin então acaba ficando com a responsabilidade de levar o seu neto Billy (Jackson Nicoll) para os cuidados de seu pai, o desajustado e interesseiro Chuck (Greg Harris). O problema é que Chuck mora do outro lado dos EUA, fato que acaba irritando Zisman. No entanto, Irvin começa a criar certo vínculo com o garoto, principalmente após coloca-lo em uma série de enrascadas. Em cima dessa divertida premissa, Jeff Termaine e a trupe do Jackass têm como grande mérito a criatividade para criar todas essas pegadinhas, que exploram não só as gags mais físicas, como também um texto muito interessante. Vale ressaltar, inclusive, o esforço dos roteiristas em nos apresentar uma trama. Ainda que ele seja de certa forma previsível, e um pouco distante do já apresentado pela trupe Jackass, o roteiro aposta em funcionais clichês. Tentando dar uma certa amenizada no tom das piadas e no andamento da história, até para pegar uma classificação mais baixa, os roteiristas não esquecem da verdadeira essência do grupo. Em outras palavras, apesar de algumas concessões com as fórmulas do cinema pipoca, Termaine e seus comandados não se esquecem do seu passado na MTV, equilibrando bem as doses do humor, seja ele escrachado ou mais inocente.
Apresentando uma excelente química da dupla Knoxville e Jackson Nicoll, os diálogos são simples, mas inocentemente divertidos. Nicoll é a grande surpresa do filme, e apesar da pouca idade, mostra um excelente tempo de comédia, principalmente nos improvisos. Sem qualquer tipo de embaraço, o jovem tem um ótimo desempenho nas abordagens ao longo do filme, formando uma excelente dupla com Knoxville. Por falar nele, com um já conhecido excelente trabalho de maquiagem, Knoxville segue arrancando muitas risadas na pele do velho Irving. Sem qualquer tipo de pudor, ainda que no filme o personagem seja menos "atrevido", o ator mostra a já conhecida "cara de pau" para promover uma série de bem concebidas pegadinhas. Independente dos já esperados clichês escatológicos, as pegadinhas se mostram originais, sarcásticas e acabam rendendo momentos épicos. Uma dessas cenas, que logicamente não vou revelar aqui, acaba se tornando o momento mais engraçado de 2013 no cinema. Além disso, o grande mérito de Termaine é a forma como ele explora a reação dos envolvidos nas "cenas". Contando com poucos atores profissionais, a maioria do elenco é composto de pessoas comuns que acabaram caindo nessas pegadinhas, o diretor explora com destreza esse recurso de filmagem. E como essas gags são divertidas e criativas, as reações são as mais engraçadas e expressivas. A cena do funeral de Glória, por exemplo, é um dos momentos mais hilários nesse sentido, sendo muito bem preenchida pela reação do público em meio as bizarrices.
Como se não bastasse a surpreendente qualidade do humor apresentado, já que o longa foi rodado e finalizado em apenas três meses, tecnicamente ele também tem os seus méritos. Apostando em uma trilha sonora conhecida, e numa fotografia leve e iluminada, o filme é criativo na forma como explora as "câmeras escondidas". Sabendo utilizar muito bem as locações, Termaine não deixa escapar os bons momentos de surpresa dos envolvidos, criando cenas, independente do gosto de algumas piadas, verdadeiramente engraçadas. Essencialmente divertido, Vovô sem Vergonha é sim uma das grandes surpresas de 2013. Concebido para tapar um buraco deixado pelo adiamento de Atividade Paranormal 5, a comédia capitaneada por Johnny Knoxville prova que simplicidade e originalidade ainda são duas qualidades necessárias dentro do gênero comédia. Surpresa maior, no entanto, fica pelo talentoso jovem Jackson Nicoll, que acrescenta um grande carisma ao filme, demonstrando ótima química com a trupe Jackass.
Nenhum comentário:
Postar um comentário