quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Ataque

Filme tinha tudo para ser um novo Duro de Matar, mas se contenta em se tornar apenas mais um dentro do gênero


Década de 1980. Nomes como Sylvester Stallone, Bruce Willis, Chuck Norris e Arnold Schwarzenegger, se tornavam astros com os seus divertidos filmes de ação, sem qualquer preocupação com a realidade. Os chamados exércitos de um homem só invadiam os cinemas. Tanto espaço, aliás, acabou esgotando a fórmula, que foi se desgastando e obrigando o cinema do gênero a mudar. No entanto, muitos diretores acabaram sendo criados em meio a esse período, e um dos que melhores conseguem explora-lo é Rolland Emmerich, o "mestre da destruição". Homem por trás dos grandiosos Independence Day, 2012 e O Dia depois do Amanhã, o diretor bem que tenta renovar o gênero com O Ataque, mas o resultado fica aquém do esperado. Principalmente porque Emmerich cai em um erro que tem se tornado comum dentro do gênero: confundir o fato do filme não se levar à serio, com a tentativa de adicionar humor a qualquer custo.

É nítida a inspiração de Emmerich no clássico Duro de Matar. Na verdade, o diretor mantém o seu estilo -sempre competente quando o assunto é catástrofe - mas ao longo das quase 2 h e 15 de duração percebemos muitas semelhanças entre os dois filmes. Desde a detalhada invasão terrorista, até a ligação do herói com um dos reféns, tudo é respeitado e bem trabalhado por Emmerich. O tom de homenagem fica ainda mais nítido nos detalhes, já que aqui o herói também se chama John, e a regata branca que consagrou Bruce Willis como John Mclane, também está presente em Channing Tatum. O problema é que na tentativa de dar novo frescor a essa fórmula, O Ataque acaba buscando formas de amenizar uma trama séria, explorando principalmente gags fora de hora, a já esperada "patriotada", e situações absurdas, que até para um filme de ação da década de 1980, são exageradas.


A trama assinada por James Vanderbilt é até interessante e explora bem os seus personagens. O roteiro tem eficientes reviravoltas, e a construção de todos os personagens e suas motivações dentro da trama são coerentes. O problema é que ao trabalhar tudo isso, tanto o roteiro como a própria direção escolhem os caminhos errados, diminuem a densidade do filme ao longo da projeção e deixam a impressão que a única preocupação é divertir o espectador. Como de costume Emmerich consegue, mas aquele espectador mais exigente pode se incomodar com o rumo da trama. No longa, Channing Tatum é John Cale, um ex-militar que faz segurança de políticos, mas sonha em se tornar agente do serviço secreto. Divorciado, ele é pai de Emily Cale (Joey King), uma jovem patriota que tem como grande ídolo o presidente dos EUA James Swayer (Jamie Foxx). Sabendo dessa idolatria da filha, John aproveita uma entrevista de emprego no serviço secreto e leva a menina para visitar a Casa Branca. John é recusado em função de seu histórico, mas acaba ganhando uma grande oportunidade de salvar o dia quando um bando de terroristas liderados por Emil Stenzl (Jason Clark) resolve dizimar o serviço secreto e sequestrar a Casa Branca. Assim John passa a ser a única chance do Presidente Swayer e também de sua jovem filha.


Com essa boa trama em mãos, Emmerich não economiza nas cenas de ação, que como de costume são de tirar o fôlego. O diretor sabe como ninguém filmar catástrofes e explora - na medida certa - explosões, quedas de aviões e as cenas de tiroteio. No entanto, se tecnicamente o diretor mantém o seu bom nível, o grande acerto do longa fica pela condução da dupla Channing Tatum e Jamie Foxx, que funciona muito bem em cena. A química dos dois chama a atenção, e ver o Presidente dos EUA atirando com um lança foguetes é realmente divertido. A questão é que isso funciona uma vez, talvez duas, mas na terceira passa a ser repetitivo. Somado a isso, a fórmula mais light que popularizou o cinema de Rolland Emmerich, aqui não funciona tão bem, principalmente porque diferente de 2012 e Independence Day, aqui as ameaças são reais e completamente contextualizadas. (Com todo o respeito àqueles que acreditam em alienígenas e que o mundo pode acabar com previsões do calendário Maia).

Apesar desses problemas, O Ataque consegue cumprir o que promete: ser um filme altamente divertido. Afinal, conta com um grande elenco, destaque ainda para a boa atuação de James Woods, tem uma boa trama e consegue explorar, ainda que de forma irregular, todo o escapismo dos filmes de ação da década de 1980. Eu fico com a impressão, no entanto, que o longa poderia ir ainda mais longe, e com um pouco de ousadia, representar uma nova cara para o cinema de ação. Pelo menos Channing Tatun segue trilhando o seu espaço pelo cinema do gênero e pode, quem sabe futuramente, se tornar o próprio Bruce Willis de sua geração.


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