quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As Aventuras de Tintim


Spielberg não poderia errar duas vezes seguidas

Adaptação de um dos mais clássicos personagens das histórias em quadrinhos, As Aventuras de Tintim mostra por que o diretor Steven Spielberg é um dos mais cultuados de todos os tempos. Tudo bem, todos tem o direito de errar, e Cavalo de Guerra sem dúvidas foi um grande retrocesso na carreira do diretor. No entanto, é justamente na comparação com o drama de guerra que vemos como Tintim se mostra uma obra inventiva e extremamente bem construída. Explorando uma animação que mistura verossimilhança à traços caricatos, o longa é um brinde para os fãs do genuíno gênero aventura, que cada vez mais vem perdendo espaço nos cinemas. 

Aliando ação à um ágil roteiro, a adaptação cinematográfica dos quadrinho de Hergé, acima de tudo, não decepciona os fãs do personagem Tintim. Conseguindo manter o equilíbrio do gênero, sem descambar para a ação desenfreada, ou para a lentidão excessiva, o roteiro do trio Steven Moffat, Edgar Wright e Joe Cornish (Scott Pilgrim) conduz bem a trama, repleta de promissores mistérios. Sem perder a atenção do espectador em momento algum, o longa narra a história de Tintim (Jamie Bell), um jovem repórter que está sempre atrás de boas matérias. Um dia, ele vê à venda o modelo de um barco antigo e resolve comprá-lo. Neste aparente artefato de colecionador estava guardado um segredo inestimável, daqueles que prometiam trazer problemas a ele. Principalmente através do doutor Sakharine (Daniel Craig), um dos interessados em comprar o modelo, que escondia um passado misterioso. Tintim, no entanto, só passa a ter noção do que o persegue quando, por acidente, acaba encontrando uma enigmática charada dentro do barco. Sedento por uma nova aventura, Tintim e seu fiel escudeiro cão Milu se juntam ao capitão Haddock (Andy Serkis) na disputa contra Sakharine para desvendar o misterioso segredo de Licorne. 


Utilizando a técnica de captura de movimentos, a animação criada pelos estúdios Disney consegue um resultado estupendo, poucas vezes visto, misturando habilmente traços realísticos ao estilo caricato que marcou os desenhos de Hergé. Sem se preocupar em valorizar uma estética realista, os personagens são expressivos e tem uma ótima movimentação, o que só contribui para o melhor aproveitamento das frenéticas e bem construídas cenas de ação. Vale destacar ainda a fotografia construída digitalmente, que recria belos e vastos cenários dando um toque especial ao efeito 3-D. Por falar nele, a técnica muitas vezes utilizada como caça níquel, aqui ganha total fundamento. Não se resumindo apenas a objetos arremessados na tela, Spielberg explora bem as noções de profundidade e acaba dando um efeito ainda mais eficiente as já comentadas cenas de ação. Portanto, se você estiver com dinheiro a mais assista ao filme em 3-D, porque a experiência promete ser muito mais interessante. É uma pena, no entanto, que por ter utilizado atores na construção digital, As Aventuras de Tintim não possa concorrer ao Oscar na categoria. Sem dúvidas, tecnicamente falando, o melhor longa do gênero nos últimos anos.


No quesito atuação, aliás, o resultado também é brilhante. Com personagens animados cada vez mais expressivos, fica nítida a importância dos atores "humanos" por trás dos virtuais. A começar pelo jovem e talentoso Jamie Bell (Billy Elliot), que aos poucos vai ganhando seu espaço no mainstream e aqui consegue um resultado empolgante. Por outro lado temos o especialista Andy Serkis, mais uma vez trabalhando com animação, e novamente mostrando que hoje é o cara no gênero. Interprete de personagens já considerados clássicos, como Smigol, do Senhor dos Anéis, King Kong e o macaco Cesar, do recente Planeta dos Macacos, Serkis tem mais uma eficiente apresentação na pele do beberrão e atrapalhado capitão Haddock. Além da dupla, temos ainda outros nomes de peso como Daniel Craig (007-Cassino Royale), e a dupla de comediantes Simon Pegg e Nick Frost, muito bem na pele dos atrapalhados irmãos Duppont, dois policiais que acabam sempre ajudando Tintim. 

Projeto antigo do diretor Steven Spielberg - que desde a década de 80 buscava forças pra levar o personagem às telonas - As Aventuras de Tintin é daqueles filmes que dá orgulho de se assistir. Afinal, não estamos apreciando somente a mais uma leve e divertida história, mas sim, a evolução da própria sétima arte. Méritos para colaboradores como o próprio Spielberg e o produtor Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), que batalharam atrás de recursos na tentativa de nos brindar com mais um grande trabalho e de criar o que antes parecia impossível.  Sem dúvida, o cinema agradece. E que venha o segundo filme. 



4 comentários:

Rodrigo disse...

Não estava muito animado para ver este filme, mas lendo agora seu post ele parece ser um bom filme.

um abraço

Amanda Aouad disse...

A técnica é muito boa mesmo, impressiona os detalhes. Agora achei o roteiro confuso, tolo até em alguns momentos. Mas, é um bom filme mesmo.


P.S. Agora, Thiago, não entendo essa informação de que ele não pode concorrer ao Oscar por usar atores reais. Já tinha visto isso em outro lugares, mas não sei exatamente de onde veio. Falo isso, porque Tintim estava na lista dos pré-indicados que saiu em novembro. Só na hora de escolher os cinco que a Academia percebeu o erro?

abraços

thicarvalho disse...

Na verdade amanda, o fato da animação ser concebida por atores, segundo a academia, descaracteriza o gênero e por isso ela ficou de fora. Pelo menos essa foi a informação q eu tive. até pq tintin ficar de fora seria uma grande injustiça. bjs.

Veja sim Rodrigo, pois assim como eu, vc vai se surpreender.

Amanda Aouad disse...

Sim, Thiago, quando falei atores reais quis dizer isso, hehe. E realmente, fui ver no site da Academia e esta é a regra: http://www.oscars.org/awards/academyawards/rules/rule07.html Mas, eu continuo sem entender porque ele estava na pré lista de novembro.