Spielberg não poderia errar duas vezes seguidas
Adaptação de um dos mais clássicos
personagens das histórias em quadrinhos, As Aventuras de Tintim mostra por que
o diretor Steven Spielberg é um dos mais cultuados de todos os tempos. Tudo
bem, todos tem o direito de errar, e Cavalo de Guerra sem dúvidas foi um grande
retrocesso na carreira do diretor. No entanto, é justamente na comparação com o drama
de guerra que vemos como Tintim se mostra uma obra inventiva e extremamente
bem construída. Explorando uma animação que mistura verossimilhança à
traços caricatos, o longa é um brinde para os fãs do genuíno gênero
aventura, que cada vez mais vem perdendo espaço nos cinemas.
Aliando ação à um ágil roteiro,
a adaptação cinematográfica dos quadrinho de Hergé, acima de tudo, não
decepciona os fãs do personagem Tintim. Conseguindo manter o equilíbrio do
gênero, sem descambar para a ação desenfreada, ou para a lentidão excessiva,
o roteiro do trio Steven Moffat, Edgar Wright e Joe Cornish (Scott Pilgrim)
conduz bem a trama, repleta de promissores mistérios. Sem perder a atenção do
espectador em momento algum, o longa narra a história de Tintim (Jamie
Bell), um jovem repórter que está sempre atrás de boas matérias. Um dia, ele vê à
venda o modelo de um barco antigo e resolve comprá-lo. Neste aparente artefato de colecionador estava guardado um segredo inestimável, daqueles que
prometiam trazer problemas a ele. Principalmente através do doutor Sakharine
(Daniel Craig), um dos interessados em comprar o modelo, que escondia um
passado misterioso. Tintim, no entanto, só passa a ter noção do que o persegue quando, por acidente, acaba encontrando uma enigmática charada dentro do
barco. Sedento por uma nova aventura, Tintim e seu fiel escudeiro cão Milu se
juntam ao capitão Haddock (Andy Serkis) na disputa contra Sakharine para
desvendar o misterioso segredo de Licorne.
Utilizando a técnica de captura de
movimentos, a animação criada pelos estúdios Disney consegue um
resultado estupendo, poucas vezes visto, misturando habilmente traços realísticos ao estilo caricato que marcou os desenhos de
Hergé. Sem se preocupar em valorizar uma estética realista, os personagens são
expressivos e tem uma ótima movimentação, o que só contribui para o melhor
aproveitamento das frenéticas e bem construídas cenas de ação. Vale destacar ainda a fotografia construída digitalmente, que recria belos e
vastos cenários dando um toque especial ao efeito 3-D. Por falar
nele, a técnica muitas vezes utilizada como caça níquel, aqui
ganha total fundamento. Não se resumindo apenas a objetos arremessados na tela,
Spielberg explora bem as noções de profundidade e acaba dando um efeito ainda
mais eficiente as já comentadas cenas de ação. Portanto, se você estiver com
dinheiro a mais assista ao filme em 3-D, porque a experiência promete ser muito
mais interessante. É uma pena, no entanto, que por ter utilizado atores na
construção digital, As Aventuras de Tintim não possa concorrer ao Oscar na
categoria. Sem dúvidas, tecnicamente falando, o melhor longa do gênero nos
últimos anos.
No quesito atuação, aliás, o resultado
também é brilhante. Com personagens animados cada vez mais expressivos,
fica nítida a importância dos atores "humanos"
por trás dos virtuais. A começar pelo jovem e talentoso Jamie Bell (Billy
Elliot), que aos poucos vai ganhando seu espaço no mainstream e aqui consegue
um resultado empolgante. Por outro lado temos o especialista Andy Serkis, mais
uma vez trabalhando com animação, e novamente mostrando que hoje é o cara no
gênero. Interprete de personagens já considerados clássicos, como Smigol, do
Senhor dos Anéis, King Kong e o macaco Cesar, do recente Planeta dos Macacos,
Serkis tem mais uma eficiente apresentação na pele do beberrão e
atrapalhado capitão Haddock. Além da dupla, temos ainda outros nomes de
peso como Daniel Craig (007-Cassino Royale), e a dupla de comediantes Simon
Pegg e Nick Frost, muito bem na pele dos atrapalhados irmãos Duppont, dois policiais que acabam sempre ajudando Tintim.
Projeto antigo do diretor Steven Spielberg
- que desde a década de 80 buscava forças pra levar o personagem às telonas -
As Aventuras de Tintin é daqueles filmes que dá orgulho de se assistir. Afinal, não estamos apreciando somente a mais uma leve e divertida história, mas sim, a
evolução da própria sétima arte. Méritos para colaboradores como o próprio
Spielberg e o produtor Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), que batalharam
atrás de recursos na tentativa de nos brindar com mais um grande trabalho e de
criar o que antes parecia impossível. Sem dúvida, o cinema agradece.
E que venha o segundo filme.
4 comentários:
Não estava muito animado para ver este filme, mas lendo agora seu post ele parece ser um bom filme.
um abraço
A técnica é muito boa mesmo, impressiona os detalhes. Agora achei o roteiro confuso, tolo até em alguns momentos. Mas, é um bom filme mesmo.
P.S. Agora, Thiago, não entendo essa informação de que ele não pode concorrer ao Oscar por usar atores reais. Já tinha visto isso em outro lugares, mas não sei exatamente de onde veio. Falo isso, porque Tintim estava na lista dos pré-indicados que saiu em novembro. Só na hora de escolher os cinco que a Academia percebeu o erro?
abraços
Na verdade amanda, o fato da animação ser concebida por atores, segundo a academia, descaracteriza o gênero e por isso ela ficou de fora. Pelo menos essa foi a informação q eu tive. até pq tintin ficar de fora seria uma grande injustiça. bjs.
Veja sim Rodrigo, pois assim como eu, vc vai se surpreender.
Sim, Thiago, quando falei atores reais quis dizer isso, hehe. E realmente, fui ver no site da Academia e esta é a regra: http://www.oscars.org/awards/academyawards/rules/rule07.html Mas, eu continuo sem entender porque ele estava na pré lista de novembro.
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