sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cinemaniac Indica (Solomon Kane: O Caçador de Demônios)

Com um ano de atraso chega aos cinemas Brasileiros Solomon Kane - O Caçador de Demônios, uma mistura de aventura com terror, que sofre com a falta de identidade. Explorando fórmulas que deram certo em outros filmes do gênero, como O Senhor dos Aneis, Solomon Kane parece ser uma mistura de Van Helsing, ambientado no cenário de Coração Valente, com fortes referências A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Com direito, inclusive, a cena de crucificação. Apesar destas "semelhanças", o longa dirigido pelo inexperiente Michael J. Bassett funciona como entretenimento e deixa a nítida impressão que poderia, ou ainda pode, ser melhor aproveitado nos cinemas.

Adaptação do personagem de quadrinhos homônimo criado por Robert E. Howard, o mesmo de Conan: O Barbáro, o longa narra a história de Solomon Kane, um cruel capitão que dizimava seus inimigos afim de conseguir riqueza. Líder brutal e eficiente, ele e seus homens lutam sempre em nome da Inglaterra, pulando de guerra em guerra ao redor do planeta. Em uma destas incursões, na Àfrica, com a intenção de saquear um castelo próximo, Kane acaba se deparando com demônios e tem um encontro com o próprio Ceifador, que reivindica a sua alma. Kane consegue escapar, mas na tentativa de se reabilitar perante Deus, renuncia a violência e passa a levar uma vida tranquila, dentro de um mosteiro para qual ele cedeu todas as suas riquezas. Só que logo seu novo comportamento é colocado à prova quando, ao retornar a Inglaterra, ele não consegue impedir o massacre da família Crowthorn. Meredith (Rachel Hurd-Wood), a filha mais velha, sobrevive ao ataque, mas é transformada em escrava. Kane promete então libertá-la, mesmo que isto custe sua própria alma.

Com uma trama não muito inovadora, o roteiro assinado pelo próprio Michael J. Basset tem um início promissor. A primeira parte do filme é extremamente atrativa e desenvolve bem os motivos que levaram Kane a deixar de ser um cruel mercenário, para se tornar um caçador de demônios. O problema é, que a partir daí, o longa descamba para a ação deixando o desenvolvimento da história um pouco de lado. No início, as boas batalhas funcionam, mas com o desenrolar do filme, as cenas ficam repetitivas e impedem que personagens interessantes como o pai de família William, interpretado por Pete Postlethwaite, e o pai de Solomon Kane, vivido pelo grande Max Von Sydow, se desenvolvam de maneira interessante. Ao menos, as fórmulas repetidas exploradas pelo diretor são bem utilizadas, garantindo assim o bom funcionamento da trama, que acaba ficando pouco densa do meio para o final.

Se atores de peso como Max Von Sydow, Pete Postlethwaite e o vilão Jason Flemyng, são pouco explorados pelo diretor, o protagonista James Purefoy assume bem a responsabilidade de conduzir Solomon Kane. A vontade no papel título, o ator segura bem tanto nas cenas de ação, como nas partes mas dramáticas, contribuindo para o êxito do filme. Mesmo sendo pouco explorados, os experientes Max Von Sydow e Pete Postlethwaite, apesar do pouco tempo em cena, preenchem bem alguns espaços deixados pela trama, que sem dúvidas, poderiam ser bem maior. Já Flemyng, apesar de ser o grande vilão do filme, pouco aparece e não se destaca. Com toda a maquiagem do seu personagem, o espectador mais desatento pode nem perceber a participação do ator.

Se a trama não é original, a parte visual salva Solomon Kane da mesmice. Utilizando um orçamento de 45 milhões de dólares, relativamente baixo para filmes do gênero, a estética visual do filme é interessante e muito bem desenvolvida. Se mostrando fiel ao clima pesado da Idade Média, onde as mortes e o sangue eram situações corriqueiras, a obra de Michael J. Basset explora com eficiência as fortes cena de ação. A fotografia de Dan Laustsen contribui também para este clima pesado apresentado, destacando bem as paisagens medievais, como florestas e grandes castelos. O resultado é excelente. Além disto, os efeitos especiais apresentados são convincentes e as criaturas, apesar de algumas referências a obra de Peter Jackson, funcionam bem. O mesmo, porém, não pode se dizer da trilha sonora composta por Klaus Badelt. De todas as referências já citadas no texto, esta é a que soa mais como cópia. Na primeira parte do filme, quando a ação é menor e a história se desenvolve, a trilha é uma mistura de tudo o que já foi visto nos filmes de época. Já na segunda parte, quando a ação ganha força, o ritmo muda se assemelhando diretamente a trilha sonora dos Batmans de Cristopher Nolan. Outra cópia que ficou escancarada ficou pelo visual do protagonista. Tudo bem que o Solomon Kane original usava roupas pretas e chapéu, mas não precisava ficar com a cara do Van Helsing de Hugh Jackman. O chapéu grande, a capa, e até mesmo os traços físicos do ator James Purefoy lembram, e muito, a aparência do caçador de vampiros. Os mais desatentos podem até pensar que Van Helsing foi parar na idade média.

Apesar das referências e da pouca criatividade, Solomon Kane funciona bem como entretenimento, principalmente para os fãs do gênero. Com um visual interessante, um roteiro pouco inventivo e uma direção que não explora tão bem o elenco, a trama acerta em usar, pelo menos, bons exemplos como inspiração. Vale como diversão, mas não espere nada de muito inovador.

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