Uma homenagem com vida própria
O melhor de Rua do Medo: 1978, contudo, está na maneira com que o longa se encaixa dentro da trilogia. Por trás da nova história de sobrevivência existe a mitologia. A cineasta encontra um equilíbrio interessante entre o presente e o futuro ao tratar o acampamento quase que como um personagem. As descobertas estão em todo lugar. O roteiro encontra atalhos inteligentes para se aprofundar nos elementos introduzidos no filme anterior e sugerir o que está por vir. A complexa relação entre as irmãs, a centrada Cindy (Emily Rudd, convincente) e a rebelde Ziggy (Sadie Sink, elétrica), tem muito a dizer sobre o todo. A rixa entre elas nasce da disfuncionalidade familiar gerada pela desigualdade. A briga entre elas permite que a trama costure o social ao paranormal com desenvoltura. Apesar do deslocado flerte com o sentimentalismo (o subplot romântico envolvendo o jovem policial Goode é insosso), Leigh Janiak solidifica a mitologia sem sacrificar o desenvolvimento das novas protagonistas. A maldição ganha um contexto mais íntimo aqui. O mal fantasioso se confunde com o mal da realidade. Mesmo que de maneira superficial e expositiva, a cineasta estuda o subtexto escondido na raivosa presença da “bruxa” Sarah Fier. É interessante ver, aliás, como o filme promete tridimensionalizar a figura da antagonista. Rua do Medo: 1666 já tem a minha expectativa.
O único senão desta continuação, de fato, fica pela construção dos demais personagens. Indo de encontro ao antecessor, o longa nunca dedica o tempo necessário para desenvolver as microdinâmicas entre os jovens. Os coadjuvantes são peças vazias à serviço do horror. O que ajuda a explicar, em especial, o ritmo arrastado do primeiro ato. Ainda assim, é legal ver como a cineasta (sem grande alarde) aborda a desigualdade entre os moradores de Shadyside e Sunnyside dentro das convenções do cinema de horror. Um slasher movie de respeito, Rua do Medo: 1978 conduz a história para o (agora aguardado) último capítulo ao sugerir uma inteligente subversão do status quo até aqui construído. O futuro como resposta ao passado. Gostei! Um “filme de meio” com vida própria (e uma trilha sonora empolgante) que tem tudo para abrir as portas do subgênero para uma nova geração de fãs.
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