quinta-feira, 15 de julho de 2021

Crítica | Invocação do Mal 3

Volta James Wan


Um diretor talentoso tem o poder de elevar qualquer material. A franquia The Conjuring é talvez o maior exemplo disso. O abismo que separa as produções comandadas pelo imaginativo James Wan das demais é evidente. O universo é o mesmo. A estrutura das obras idem. O desnível, porém, é grosseiro. O que explica isso? Invocação do Mal 3 tem a resposta. Um filme que assusta, de fato, pela falta de ideias do diretor Michael Chaves na construção do horror. É frustrante ver a incapacidade dele em explorar o potencial de um instigante plot. Talvez a premissa mais sólida de toda a trilogia. No papel, a continuação outra vez estrelada por Patrick Wilson e Vera Farmiga lembra muito o último grande hit sobre possessão lançado, o provocante O Exorcismo de Emily Rose (2005).

Após se envolver no exorcismo malsucedido de um garoto (Julian Hilliard), o gentil Arne (Ruairi O'Connor) é levado a cometer um assassinato por uma força maligna. Confiantes na inocência dele, o casal Ed e Lorraine Warren decidem provar a existência da entidade. As suas descobertas, porém, são realmente perigosas. Invocação do Mal 3 começa deixando a sua marca. Michael Chaves troca o terror intimista de James Wan por um viés trash que soa original. O uso de um caricato CGI sugeria algo livre de amarras dramáticas. O estranhamento causado pelos efeitos digitais potencializa o impacto da cena de abertura. É tosco? Muito! Poderia fazer sentido? Claro! Mas não faz. Isso porque o cineasta é incapaz se manter fiel a esta assinatura extravagante. Ele troca o exagero visual pelo sentimental. Ao invés de trabalhar o horror ou a ambiguidade em torno do crime (o julgamento é absurdamente negligenciado pelo roteiro), Chaves prefere se concentrar na deterioração física\emocional dos personagens. A sinistra presença perde espaço diante de um processo de investigação tolo repleto de facilitações narrativas e gatilhos dramáticos previsíveis.

Por mais que a natureza obscura do plot cause um frio na espinha, o diretor não consegue enxergar além dos signos básicos do pasteurizado cinema de horror moderno. Os jump scares são banais. A construção de atmosfera artificial. A maquiagem é genérica. Cego pela vocação realista da premissa, Michael Chaves nunca se compromete com o terror sobrenatural. A enervante (e breve) sequência do necrotério é sintomática. O realizador parece jogar contra o gênero. A edição é tão apressada que até os jump scares não causam o efeito esperado. Nem o labiríntico jogo de câmera no enervante clímax atenua esta sensação de piloto automático que toma conta da trama a partir do segundo ato. Refém do “fantasma” de James Wan, Invocação do Mal 3 é um thriller paranormal banal e sem identidade que se sustenta na grife de uma marca cada vez mais saturada. Está cada vez mais chato exorcizar assombrações no universo The Conjuring.

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