quarta-feira, 7 de julho de 2021

Crítica | A Guerra do Amanhã

Apocalipse de ideias 


Um dos blockbusters mais burros produzidos em Hollywood em algum tempo, A Guerra do Amanhã busca referências nos filmes certos, mas o faz da forma mais equivocada possível. É um A Chegada sem cérebro. Um Tropas Estrelas sem ironia. Um No Limite do Amanhã que se leva a sério. É difícil acreditar que Chris McKay (dos espertos Uma Aventura Lego e Lego: Batman) é o diretor deste esburacado Sci-Fi de ação sentimentalista. Uma obra rasa em tudo o que propõe. O plot pode até instigar. No futuro, a raça humana está prestes a ser devastada por alienígenas. Desesperados, os sobreviventes “invadem” o passado para recrutar novos soldados. Provavelmente o pior uso do recurso da viagem no tempo já feito dentro do gênero. Em poucos minutos descobrimos que a tal guerra do amanhã sequer aconteceria se o roteiro fosse minimamente inteligente. 

Não existe lógica no texto de Zack Dean. Não científica. O argumento sacrifica regras básicas do segmento ao tentar mudar o futuro a partir do futuro. Por que não se preparar no passado? Não desenvolver novas armas? Não tentar encontrar uma forma de colocar um ponto final na origem do evento? O apocalipse, na verdade, é uma mera desculpa para a construção de um sofrível (e genérico) drama familiar. Um dos muitos “recrutados” para a guerra, o cientista Dan (Chris Pratt, num papel heroico aborrecido) é obrigado a deixar a sua filha e a esposa para cumprir o seu “dever” numa missão quase suicida. A angústia do personagem nasce da cultura bélica norte-americana. Nasce de uma imposição acéfala que fere o direito à liberdade. Numa decisão um tanto contraditória, entretanto, McKay sequer se arrisca ao criticar esta mentalidade. A Guerra do Amanhã compra este arquétipo heroico sem um pingo de vergonha. É assustador ver como, para sustentar o protagonismo de Dan, o roteiro sacrifica todo o contexto. Aniquila também o desenvolvimento dos demais personagens. Alguns descartados ao bel prazer do roteiro. 

O cineasta testa a nossa inteligência ao escorar a trama num roteiro regido por coincidências absurdas e conveniências grosseiras. Para justificar os acontecimentos que sustentam o filme, Chris McKay se vê obrigado a retardar alguns insights óbvios. Em menos de uma hora de projeção você antecipa tudo o que vai acontecer nos 90 minutos seguintes. É óbvio que Dan vai encontrar a (spoiler) no futuro. É óbvio que o soldado doente vai se (spoiler) no final. A burrice dos personagens é tanta que não fica difícil entender porque a raça humana estava próxima da extinção. A Guerra do Amanhã só não é um desastre completo graças as empolgantes sequências de ação. Como se não bastasse o visual caprichado dos alienígenas, McKay rompe com o marasmo criativo ao trazer a linguagem dos videogames para o cinema. Ele usa e abusa da câmera subjetiva e dos planos em primeira pessoa para nos colocar no olho do furacão. O sopro de genuinidade numa colcha de retalhos incapaz de extrair algo novo ou sólido das ótimas referências. Um Sci-Fi incapaz de pensar. 


OBS: Algo está errado quando a seleção brasileira capitaneada por Peralta (OMG!) chega a final da Copa do Mundo... 

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