Apocalipse de ideias
Não existe lógica no texto de Zack Dean. Não científica.
O argumento sacrifica regras básicas do segmento ao tentar mudar o futuro a
partir do futuro. Por que não se preparar no passado? Não desenvolver novas
armas? Não tentar encontrar uma forma de colocar um ponto final na origem do
evento? O apocalipse, na verdade, é uma mera desculpa para a construção de um
sofrível (e genérico) drama familiar. Um dos muitos “recrutados” para a guerra,
o cientista Dan (Chris Pratt, num papel heroico aborrecido) é obrigado
a deixar a sua filha e a esposa para cumprir o seu “dever” numa missão quase suicida.
A angústia do personagem nasce da cultura bélica norte-americana. Nasce de uma
imposição acéfala que fere o direito à liberdade. Numa decisão um tanto
contraditória, entretanto, McKay sequer se arrisca ao criticar esta mentalidade.
A Guerra do Amanhã compra este arquétipo heroico sem um pingo de vergonha. É
assustador ver como, para sustentar o protagonismo de Dan, o roteiro sacrifica
todo o contexto. Aniquila também o desenvolvimento dos demais personagens.
Alguns descartados ao bel prazer do roteiro.
O cineasta testa a nossa inteligência ao escorar a trama num roteiro regido por coincidências absurdas e conveniências grosseiras. Para justificar os acontecimentos que sustentam o filme, Chris McKay se vê obrigado a retardar alguns insights óbvios. Em menos de uma hora de projeção você antecipa tudo o que vai acontecer nos 90 minutos seguintes. É óbvio que Dan vai encontrar a (spoiler) no futuro. É óbvio que o soldado doente vai se (spoiler) no final. A burrice dos personagens é tanta que não fica difícil entender porque a raça humana estava próxima da extinção. A Guerra do Amanhã só não é um desastre completo graças as empolgantes sequências de ação. Como se não bastasse o visual caprichado dos alienígenas, McKay rompe com o marasmo criativo ao trazer a linguagem dos videogames para o cinema. Ele usa e abusa da câmera subjetiva e dos planos em primeira pessoa para nos colocar no olho do furacão. O sopro de genuinidade numa colcha de retalhos incapaz de extrair algo novo ou sólido das ótimas referências. Um Sci-Fi incapaz de pensar.
OBS: Algo está errado quando a seleção brasileira capitaneada por Peralta (OMG!) chega a final da Copa do Mundo...
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