domingo, 8 de dezembro de 2019

Lista | Vinte pérolas cinematográficas da década que não ganharam a devida atenção


O ano de 2019 marca o fim de uma década de transformações para a Sétima Arte. O ‘boom’ dos filmes de super-herói redefiniu o tamanho dos blockbusters. O streaming surgiu como uma poderosa nova janela ao levar o cinema para a casa dos espectadores. Hollywood se viu obrigada a enfrentar a desigualdade de gênero\racial dentro da indústria do entretenimento. Muita coisa mudou. Para o bem e também para o mal. Diante das altas cifras e das bilheterias estratosféricas, porém, alguns pequenos grandes filmes perderam espaço. Uns ganharam relevância graças a temporada de premiações. Outros nem isso. Neste artigo, portanto, decidi resgatar alguns destes títulos numa lista com vinte pérolas cinematográficas da década que merecem ser lembradas. Dito isso, usando a data de publicação com ‘deadline’, começamos com... 

- Reino Animal (2010)


Um thriller policial exemplar, Reino Animal é o tipo de filme absolutamente subestimado. Além de “revelar” nomes como os de Joel Edgerton e Ben Mendelsohn, o longa australiano dirigido por David Michôd causa um misto de tensão e desconforto ao narrar as desventuras de um rapaz às avessas com os seus disfuncionais parentes. Com um texto afiado, grandes atuações e uma direção enervante, Reino Animal coloca o espectador no seio de uma família de criminosos, refletindo sobre o processo de amadurecimento de um jovem acuado entre a cruz e a espada. Um retrato urbano e inclemente sobre o impacto do meio na identidade de um adolescente. Quer entender porque Mendelsohn (antagonista em Rogue One, Jogador Número 1 e Capitã Marvel) se tornou o malvado favorito de Hollywood nos últimos anos, veja Reino Animal e tire as suas conclusões.

- Inverno da Alma (2010)


O que escrever do filme que ajudou a revelar Jennifer Lawrence? Em uma década, a jovem atriz se tornou rapidamente uma referência. Experimentou de tudo, estrelou blockbuster, se arriscou em produções independentes, ganhou um Oscar, errou, acertou. Um status construídos muito em função da sua gigantesca performance no drama ‘indie’ Inverno da Alma. Reduzir o longa dirigido por Debra Ganik já óbvio ‘star power’ de Lawrence, aliás, é um erro crasso. Estamos diante de um filme robusto, inquietante, sobre uma jovem moradoras de uma gélida região obrigadas a encontrar o paradeiro do seu ausente pai (vivo ou morto) para manter a sua casa e a guarda dos seus irmãos. Com uma fotografia pesada, uma condução realística e uma trama instigante, Ganik conseguiu levar o seu pequeno trabalho (US$ 2 milhões de orçamento) a uma inesperada indicação ao Oscar de Melhor Filme, reforçando uma tendência que viria a se tornar uma rotina nos anos seguintes. O que ficou bem claro, por exemplo, com a indicação de pérolas como Moneyball, Indomável Sonhadora, Philomena, Whiplash, Ex_Machina, Moonlight.

- Atração Perigosa (2010)


Um dos melhores filmes de ação da década, Atração Perigosa mostrou que Ben Affleck era um grande diretor. Embora no seu primeiro grande projeto, o tenso Medo da Verdade, o ator já havia mostrado os seus predicados, foi com o thriller coestrelado por Jeremy Renner e Jon Hamm que a sua obra alcançou o grande público. Influenciado por nomes como os de Michael Mann, Affleck tirou do papel um filme de assalto com sólidas bases dramáticas sobre dois irmãos obrigados a conviver com as feridas de um roubo malsucedido. Por mais que, narrativamente, o longa reúna todos as qualidades que precisava para funcionar, Ben Affleck entregou uma obra recheada de momentos elétricos, com personagens complexos, sequências de ação empolgantes e um argumento sólido. Com destaque para o primoroso desenho de som nas cenas de tiroteios, decisivo para o triunfo de Atração Perigosa.

- O Abrigo (2011)


Preciso confessar. O Abrigo por muito pouco não ficou na minha lista final com os melhores filmes da década. Com dois dos meus atores favoritos na atualidade como protagonistas, os extraordinários Michael Shannon e Jessica Chastain, o longa escrito e dirigido por Jeff Nichols se apropria com brilhantismo do suspense psicológico ao narrar as desventuras de um pai de família disposto a tudo para construir um bunker à espera do fim do mundo. Com filmes como O Abrigo, Nichols se tornou o tipo de diretor que me faz parar tudo para conferir os seus novos lançamentos. Insinuante do começo ao fim, o longa testa as expectativas do público ao invadir a psique de um homem quebrado, acuado pelas suas visões, pela sua obsessão, pela incerteza do que estar por vir. Seria tudo um delírio de uma mente frágil? Ou o mundo está mesmo perto do seu fim¿ Isso só vendo esta indispensável pérola.

- Os Descendentes (2011)


Um dos meus filmes favoritos, Os Descendentes é o tipo de obra que acolhe sem desrespeitar o drama dos seus personagens. Com George Clooney inspiradíssimo, o longa dirigido por Alexander Payne investiga o turbilhão que repentinamente toma conta de um executivo pai de família obrigado a se reconectar com a sua família quando a sua esposa entra em estado vegetativo após um acidente. Tudo aqui é muito autêntico. O paradisíaco cenário havaiano, por exemplo, contrasta com o clima pesado da trama. O humor por vezes involuntário enriquece um ‘plot’ recheado de temas espinhosos. Os cativantes personagens nem sempre reagem a situação em questão da forma como esperamos. Ao invés de reduzir tudo ao sentimentalismo barato, Payne surpreende ao nos brindar com um filme inteligente (e a sua maneira surpreendente). Uma produção recheada de diálogos marcantes, com gags espontâneas, conflitos sólidos, sequências emocionantes e um visual de embasbacar. Com um elenco de apoio luxuoso, Shailene Woodley, Amara Miller, Beau Bridges, Judy Greer e o saudoso Robert Forster estão excelentes, Os Descendentes é um filme família único.

- Os Suspeitos (2013)


De um filme ensolarado para um thriller pesadíssimo. Os Suspeitos mostra o quão perigoso pode ser a busca por justiça a qualquer custo. Sob a intensa batuta de Dennis Villeneuve, no seu primeiro grande projeto em Hollywood, o longa reuniu alguns dos nomes mais talentosos do cinema norte-americano na atualidade ao revelar a desesperadora jornada de duas famílias quando as suas respectivas filhas são sequestradas. Com Hugh Jackman, Terrence Howard, Viola Davis, Melissa Leo e Paul Dano no elenco, o realizador canadense toca em feridas reais ao revelar a deterioração de um homem diante da impotência. Mais do que um thriller surpreendente, o longa surge como uma crônica sobre o mundo em que vivemos, sobre a cultura da violência, sobre a descrença quanto a figura do Estado\Policia. A indignação transformada em violência para combater a... violência. Um sentimento de incoerência que, graças ao misto de sagacidade e contundência de Dennis Villeneuve, só torna tudo mais complexo e desconcertante.

- Amor Bandido (2013)


Um ‘coming of age movie’ primoroso, Amor Bandido é de uma delicadeza sem tamanho. Embora inserido num contexto árido, uma região em que homens eram obrigados por um senso comum a reprimir as suas emoções, o longa dirigido por Jeff Nichols (olha ele aqui de novo) causa um misto de fascínio e tensão ao acompanhar os passos de dois amigos disposto a ajudar um andarilho a recuperar o amor da sua vida. Com Matthew Mcgounaghey na pele do misterioso forasteiro, o realizador toca em questões de cunho afetivo\sentimental dentro de um contexto improvável, transitando entre o romance, o drama e o suspense com enorme autenticidade. Por trás de um elo de amizade aparentemente pueril existe o perigo, existe uma ameaça real capaz de desafiar uma intensa relação de amor. Trazendo no elenco nomes como os de Tye Sheridan, Sam Sheppard, Michael Shannon, Reese Whiterspoon e Sarah Paulson, Amor Bandido é o Conta Comigo da década de 2010. Um filme com muito a dizer sobre uma geração disposta a lutar contra o seu ‘status quo’ na busca por aquilo que acredita.

- Frances Ha (2013)


Um dos grandes expoentes do cinema indie da década, Greta Gerwig é hoje uma realidade em Hollywood. Em 2013, porém, ela era apenas uma jovem radiante em busca do seu lugar ao sol. Algo que veio naturalmente com o marcante Frances Ha. Sob a batuta do seu marido Noah Baumbach, Gerwig encara uma jovem adulta desengonçada disposta a superar as suas próprias limitações na busca pelo sonho de se tornar dançarina. Com uma expressiva fotografia preto em branco, um particular senso de humor, personagens agradáveis, diálogos inteligentes e conflitos sólidos, o longa reflete sobre a imaturidade dentro de um contexto genuinamente urbano, se revelando um peculiar (e atrasado) ‘coming of age movie’. Um filme com um charme próprio guiado por dois nomes que nos anos seguintes viriam a ser tornar dois verdadeiros porta voz dos jovens adultos da nossa geração.

- O Juiz (2014)


Um dos filmes mais subestimados da década, O Juiz é o tipo de projeto pessoal que reflete a paixão impressa nele. Numa das raras brechas na agenda na sua fase Tony Stark, Robert Downey Jr e sua esposa Susan Downey decidiram lançar a sua produtora Team Downey com o lançamento de O Juiz. Um dos atores mais bem pagos da década, ele estreou em grande estilo na função com um drama comovente sobre um advogado egocêntrico obrigado a defender o seu distante pai quando ele é acusado de um homicídio. Conduzido com sutileza por David Dobkin, o longa toca em feridas reconhecidas ao investigar a raiz de um complexo conflito. Usando os elementos dos filmes de tribunal com enorme perspicácia, o realizador superar as expectativas ao nunca permitir que o drama escorregue no terreno de sentimentalismo. Poucos filmes, na verdade, exploraram de forma tão sensível as sequelas causadas pelo mal de Alzheimer em um indivíduo. Recheado de momentos memoráveis, a lavagem de roupa suja no tribunal, em especial, é uma aula de cinema, O Juiz é um filme robusto que (preciso confessar) me demoliu enquanto assistia. Indiscutivelmente uma das obras mais subestimadas da década.

- Deus Branco (2014)


Da Hungria para o mundo, Deus Branco é um filme infelizmente visionário. Bem antes da crise dos imigrantes na Europa alcançar o seu nível mais drástico, o diretor Kornél Mundruczó usou o viés fabulesco para questionar uma realidade tão reconhecível. Embora parta de uma premissa com cara de filme família, uma jovem e o seu cão são obrigadas a se separar quando o seu pai assume a sua guarda, o longa coloca o dedo na ferida ao, sob a perspectiva do animal, mostrar a reação da sociedade húngara a um ser considerado mestiço. Fazendo um brilhante uso do elemento distópico, o drama propõe um inusitado duelo de classes quando o acuado cachorro decide se revoltar contra todos os seus algozes. Com um texto afiado e uma desconcertante visão de mundo\futuro, Mundruczó usa o choque como um instrumento de reflexão ao mostrar como um indivíduo pode ser moldado pelo meio em que vive. O resultado é impactante, inteligente e brilhante.

- Fênix (2014)


Tal qual a ave mitológica, Fênix narra a jornada de reafirmação de uma mulher desfigurada pela Segunda Guerra. Ao ir além da dramaticidade do fato em questão, entretanto, Christian Petzold temperou a trama com elementos ainda mais complexos ao coloca-la frente a frente do homem que pode ter denunciado ela aos nazistas: o seu próprio marido. Com uma reconstrução de época marcante, o longa invade a psique desta mulher destroçada com peso e intensidade, acompanhando o seu tênue processo de reconstrução\reafirmação à medida que ela se vê tentada a encarar o mal de frente. Estamos diante de um thriller dramático poderosos, sustentados por conflitos dilacerantes, que culminam numa das sequências finais mais memoráveis da década. Uma pérola que merece, mesmo que tardiamente, ser reconhecida.

- Brooklyn (2015)


Poucos filmes resumem tão bem a mudança na ordem das coisas dentro da indústria ao longo desta década quanto Brooklyn. Com a expressiva Saoirse Ronan como protagonista, o sensível longa dirigido por John Crowley se insurgiu contra alguns velhos clichês ao acompanhar a jornada de uma jovem imigrante dividida entre o passado e o futuro, o conforto e a independência. No papel, Brooklyn soou na época do seu lançamento como mais um típico romance adocicado com pouco acrescentar. Que engano. Que engano. Fazendo jus ao processo de transformação social na luta pela igualdade de gêneros e o empoderamento feminino, Crowley nos presenteou com um estudo de personagem profundo sobre uma desprotegida jovem mulher à procura de um norte. Embora ambientado num contexto diferente, os EUA dos anos 1950, Crowley conseguiu tocar em temas e feridas extremamente atuais, tornando o arco da sua resiliente protagonista sólido o bastante para inspirar. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Brooklyn foi uma das grandes surpresas da década. Uma obra aparentemente pequena, mas com uma mensagem gigantesca.

- Blue Jay (2016)


Por falar em pequena surpresa, Blue Jay valida o esforço de gigantes do streaming como a Netflix em dar voz ao cenário independente. Sob a estilosa batuta de Alex Lehmann, o longa reuniu os talentosíssimos Mark Duplass e Sarah Paulson numa trama sobre amizade, amor, relacionamentos frustrados, depressão e o futuro que nunca aconteceu. Com uma charmosa fotografia em preto e branco, diálogos profundos e a completa química entre os protagonistas, Blue Jay se agarra ao naturalismo com entusiasmo ao identificar a força do elo entre dois amigos separados pelo tempo. Sem nunca entregar tudo de mão beijada para o público, Lehman é categórico ao passear pelo passado dos dois sob uma óptica madura e calejada, investindo numa obra que cresce à medida que despe os seus personagens. Um filme íntimo, complexo e reflexivo sobre a juventude e as frustrações do mundo adulto.

- A Qualquer Custo (2016)


Um verdadeiro representante do faroeste revisionista, A Qualquer Custo é um filme poderoso. Conduzido com peso e um inteligente viés crítico por David Mackenzie, o longa estrelado por Chris Pine, Ben Foster e Jeff Bridges invade um Estados Unidos abandonado à sua própria sorte num thriller dramático com muito a dizer sobre a abrupta mudança no rumo do país. A rigor, seguimos os passos de dois irmãos dispostos a colocar em prática uma série de roubos para salvar o decadente rancho da sua família. Por mais que o filme funciona brilhantemente dentro do que se propõe, Mackenzie eleva o nível da trama graças ao seu olhar atento para esta América rancorosa e embrutecida. Um lugar que a lei do mais forte ainda se fazia valer. Fazendo um brilhante uso dos símbolos, o realizador desconstrói a imagem cosmopolita ao dar voz aos conflitos de uma parcela esquecida, tornando tudo o mais venal\visceral possível ao justificar as drásticas ações dos seus protagonistas. Um filme com bastante a dizer sobre os EUA de hoje em dia.

- Dois Caras Legais (2016)


A década de 2010 não foi marcante para a comédia. Muito pelo contrário. Caiu a qualidade e principalmente a quantidade. O gênero caiu em desuso dentro do cinema pipoca. Começamos a ter drama com comédia, terror com comédia, ação com comédia. Ainda assim tivemos gratas surpresas. Melissa McCarthy, por exemplo, se tornou o grande fenômeno do humor cinematográfico da década. O neozelandês Taika Waititi ganhou status de ‘must see’ com a sua transloucada comicidade. Dentre essas novidades, Dois Caras Legais se revelou talvez a grande surpresa do gênero neste período. Com Ryan Gosling e Russel Crowe como dois impagáveis detetives, o longa dirigido por Shane Black abraçou a sátira com gosto ao se apropriar de elementos clássicos dos filmes policiais setentistas com um afiadíssimo senso de humor. O absurdo e a ironia refinada andam de mãos dadas numa obra inteligente, com personagens engraçadíssimos, um ‘plot’ instigante e um teor descompromissado que faz todo o sentido. Impulsionado pela improvável química entre Crowe e Gosling, magníficos ao subverterem a lógica do ‘good cop\bad cop’, Dois Caras Legais é uma comédia indispensável. Poucos filmes me fizeram rir tanto nos últimos anos.

- A Incrível Aventura de Rick Baker (2016)


Como escrevi acima, Taika Waititi está entre as grandes revelações da comédia da década. Com toda justiça. E o seu grande cartão de visitas para Hollywood foi A Incrível Jornada de Rick Baker. Com o seu improvável senso de humor, que já havia sido exposto no ótimo O Que Fazemos nas Sombras (2014), o realizador neozelandês entrega uma aventura pop com coração, humor afiado, drama consciente, personagens cativantes e um forte senso de jornada. Um filme família autêntico valorizado pelas maiúsculas performances de Sam Neill e Julian Dennison. Com um coração gigante, A Incrível Aventura de Rick Baker se revela uma obra real, emotiva, criativa e acolhedora. Como um reconfortante abraço numa bolsa de água quente.

- Rua Cloverfield 10 (2016)


J.J Adams sabe como proteger as suas surpresas. Um dos grandes expoentes do gênero blockbuster nos últimos anos, o que o levou ao universo Star Wars, o realizador se acostumou a fazer do mistério parte integrante das suas produções. Em Rua Cloverfield 10, no entanto, Abrams levou a brincadeira para um outro nível. Produzido em segredo, o longa estrelado por Mary Elizabeth Winstead e John Goodman se apropriou do conceito de universo compartilhado com originalidade. Parte integrante do universo Cloverfield, algo que só foi revelado na época do seu lançamento, o suspense se distanciou do formato ‘found footage’ e também do elemento catástrofe ao mostrar a invasão alienígena sob uma nova perspectiva. Dirigido por Dan Tratchenberg, a continuação trouxe a tensão para um claustrofóbico ‘bunker’ ao narrar as desventuras de uma jovem “salva” por um complexado homem. Mais do que se distanciar do original, o realizador conseguiu trazer novos elementos para a trama, conseguindo mais uma vez testar as expectativas do público ao nos deixar sempre em dúvida quanto a veracidade dos fatos em questão. O resultado é um thriller instigante e inquietante que, potencializado pelas marcantes performances do reduzido elenco, se colocou entre os melhores representantes do gênero da década.

- Sete Minutos Depois da Meia Noite (2017)


Outro representante do gênero fabulesco da lista, Sete Minutos Depois da Meia Noite é um dos títulos mais comoventes desta lista. Conduzido com extrema sutileza por J.A Bayona, o subestimado longa estrelado por Lewis MacDougall causa um misto de sensações ao narrar a jornada de um garoto diante da iminente morte da sua querida mãe. Com uma abordagem lúdica sobre o luto, o filme encanta ao investigar o estado de espírito do protagonista sob uma realística óptica fantástica. Tal qual O Labirinto do Fauno, Bayona transforma uma árvore gigante (voz de Liam Neeson) em uma peça importante na luta de um menino para entender o que está acontecendo o seu redor. Sete Minutos Depois da Meia Noite fala sobre amadurecimento, claro, mas também sobre o duro processo do luto, sobre aceitação, sobre a difícil missão que é dar adeus a um ente tão querido. Um filme profundo que, numa combinação de grandes atuações (Felicity Jones, para variar, está incrível) e efeitos visuais impressionantes, enxerga bem além da fantasia ao tocar em temas tão reconhecíveis aos olhos de qualquer um.

- Sem Rastros (2018)


Quem me conhece e lê o Cinemaniac sabe que acho Ben Foster um dos atores mais subestimados da atualidade. Seus filmes, embora recheados de predicados, nem sempre ganham o alcance esperado. Algo que fica bem claro com Sem Rastros. Um drama ‘indie’ denso e intenso, o longa dirigido por Debra Ganik até ganhou certo ‘status’ na temporada de premiação, mas isso não se reverteu em popularidade. Com a jovem Thomasin McKenzie como protagonista, o longa dá voz aos marginalizados ao acompanhar a jornada de pai e filha dispostos a levar um estilo de vida “alternativo”. Sustentado na realidade, o longa é cuidadoso ao traduzir o impacto da guerra na identidade de um homem e da sua família. Foster e McKenzie exibem uma química ímpar, Ganik se debruça sobre a natureza disfuncional desta relação com maestria e, somado a isso, o longa toca em temas como paternidade e amadurecimento precoce com enorme sutileza. Mais um belo filme que pouca gente viu.

- Maus Momentos no Hotel Royale (2019)


Por fim, o mais novo representante desta lista, Maus Momentos no Hotel Royale é um espetáculo que inexplicavelmente não alcançou o grande público. Com um elenco de primeira, o criativo diretor Drew Goddard testou as expectativas do espectador ao colocar um grupo de estranho num exótico hotel às avessas com uma misteriosa ameaça. Extraindo o máximo do excêntrico cenário e do contexto histórico, o realizador alimenta a imprevisibilidade ao nunca proteger demais os seus personagens. A sensação de que tudo pode acontecer cresce gradativamente, principalmente quando descobrimos as reais intenções dos protagonistas e os segredos em torno deste espaço. Um filme estiloso, bem-humorado, com grandes atuações, um sólido clima de suspense e uma direção repleta de virtudes, Maus Momentos no Hotel Royale é um cult instantâneo.

2 comentários:

Unknown disse...

Porque será que alguns filmes com boas histórias, bom enredo e trama envolvente, como oa citados acima, não alcançam a visibilidade e atenção que merecem?

thicarvalho disse...

O problema a meu ver está na distribuição. Muitos ótimos filmes sequer são lançados aqui. Quando chegam no streaming, com raras exceções, são pouco divulgados. Por isso que gosto deste tipo de lista. Abraços e valeu pela visita.