terça-feira, 21 de agosto de 2018

Em Busca de Vingança

Dor, luto e pretensão

O setentão Arnold Schwarzenegger até se esforça, é legal ver um ator do seu nível buscando novas “experiências” cinematográficas à essa altura da sua inquestionável carreira, mas o thriller dramático Aftermath (Em Busca de Vingança, no Brasil) é o tipo de produção que esbarra nas suas próprias pretensões. Por mais que o longa seja realista ao explorar a dor da perda e o desamparo por trás de uma tragédia na aviação, tecendo um pertinente comentário sobre o desdém das companhias aéreas diante de um devastador acidente, falta ao roteiro profundidade no desenvolvimento dos desequilibrados personagens e a direção pulso para evitar a nítida queda de ritmo nos dois terços finais.

Na verdade, o argumento assinado por Javier Gullón (O Homem Duplicado) merece o crédito por tentar mostrar os bastidores deste doloroso processo sob duas perspectivas diferentes, a da vítima e a do “responsável” pelo acidente. O primeiro ato, inclusive, é bem decente, principalmente por humanizar ambos os lados. Por se preocupar em fugir dos dualismos maniqueístas. Da batida história de vingança erroneamente vendida nos trailers. As reações são críveis. O desespero é nítido. A tensão é perceptível. O vazio é desconfortável. A embaçada fotografia gélida de Pieter Vermeer, inclusive, ajuda a criar um nebuloso clima de luto, realçando a carga dramática enquanto traduz o impacto deste “erro” na rotina da dupla.


O problema é que, na sua segunda metade, Aftermath se perde por completo. O ritmo cai drasticamente. O diretor Elliot Lester (Blitz), embora acerte ao se esquivar dos melodramas, pesa a mão em momentos chaves, flertando com simbolismos baratos na tentativa de criar um artificial paralelo entre o viúvo introspectivo vivido por um (positivamente) frio Arnold Schwarzenegger e o controlador de voo em frangalhos emocionais interpretado por um exagerado Scott McNairy. Os personagens primeiro empacam nos mesmos dilemas, depois avançam precipitadamente. As lacunas temporais, aqui, são muito mal preenchidas. De tanto olhar para dentro dos personagens, Lester parece esquecer de externalizar os seus anseios, os seus sentimentos pós-tragédia. O que explica o abrupto clímax, um desfecho mal dirigido (e consequentemente mal atuado) incompatível com as ações (e reações) dos protagonistas até então. A questão não são os atos em si, perfeitamente plausíveis dentro do contexto proposto pela trama, mas o descuido do argumento em solidifica-los. Em torna-los críveis aos olhos do público.


E na tentativa (forçada) de estabelecer um círculo vicioso em torno da tragédia inicial, o argumento ainda surge com um deslocado epílogo, uma solução encontrada aparentemente para justificar os acontecimentos em torno do desastrado clímax. E que, verdade seja dita, não tem muito a acrescentar. Um filme b com pretensões, Aftermath tinha potencial, o primeiro ato não me deixa mentir, mas o desperdiça com arcos mal desenvolvidos, atuações aquém do esperado (o talentoso Scott McNairy abusa do 'overacting'), uma direção errática, coadjuvantes subaproveitados e um desfecho narrativamente frustrante. Ainda não foi desta vez que o carismático Arnold Schwarzenegger emplacou um ‘hit’ dramático.

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