O setentão Arnold Schwarzenegger
até se esforça, é legal ver um ator do seu nível buscando novas “experiências”
cinematográficas à essa altura da sua inquestionável carreira, mas o thriller
dramático Aftermath (Em Busca de Vingança, no Brasil) é o tipo de produção que
esbarra nas suas próprias pretensões. Por mais que o longa seja realista ao
explorar a dor da perda e o desamparo por trás de uma tragédia na aviação, tecendo
um pertinente comentário sobre o desdém das companhias aéreas diante de um
devastador acidente, falta ao roteiro profundidade no desenvolvimento dos
desequilibrados personagens e a direção pulso para evitar a nítida queda de ritmo nos
dois terços finais.
Na verdade, o argumento assinado por Javier Gullón (O Homem Duplicado) merece o crédito por tentar mostrar os bastidores deste doloroso processo sob duas perspectivas diferentes, a da vítima e a do “responsável” pelo acidente. O primeiro ato, inclusive, é bem decente, principalmente por humanizar ambos os lados. Por se preocupar em fugir dos dualismos maniqueístas. Da batida história de vingança erroneamente vendida nos trailers. As reações são críveis. O desespero é nítido. A tensão é perceptível. O vazio é desconfortável. A embaçada fotografia gélida de Pieter Vermeer, inclusive, ajuda a criar um nebuloso clima de luto, realçando a carga dramática enquanto traduz o impacto deste “erro” na rotina da dupla.
O problema é que, na sua segunda
metade, Aftermath se perde por completo. O ritmo cai drasticamente. O diretor
Elliot Lester (Blitz), embora acerte ao se esquivar dos melodramas, pesa a mão
em momentos chaves, flertando com simbolismos baratos na tentativa de criar um
artificial paralelo entre o viúvo introspectivo vivido por um (positivamente)
frio Arnold Schwarzenegger e o controlador de voo em frangalhos emocionais
interpretado por um exagerado Scott McNairy. Os personagens primeiro empacam
nos mesmos dilemas, depois avançam precipitadamente. As lacunas temporais,
aqui, são muito mal preenchidas. De tanto olhar para dentro dos personagens, Lester
parece esquecer de externalizar os seus anseios, os seus sentimentos
pós-tragédia. O que explica o abrupto clímax, um desfecho mal dirigido (e
consequentemente mal atuado) incompatível com as ações (e reações) dos
protagonistas até então. A questão não são os atos em si, perfeitamente
plausíveis dentro do contexto proposto pela trama, mas o descuido do argumento
em solidifica-los. Em torna-los críveis aos olhos do público.
E na tentativa (forçada) de estabelecer
um círculo vicioso em torno da tragédia inicial, o argumento ainda surge com um
deslocado epílogo, uma solução encontrada aparentemente para justificar os acontecimentos
em torno do desastrado clímax. E que, verdade seja dita, não tem muito a acrescentar.
Um filme b com pretensões, Aftermath tinha potencial, o primeiro ato não me
deixa mentir, mas o desperdiça com arcos mal desenvolvidos, atuações aquém do
esperado (o talentoso Scott McNairy abusa do 'overacting'), uma direção
errática, coadjuvantes subaproveitados e um desfecho narrativamente frustrante.
Ainda não foi desta vez que o carismático Arnold Schwarzenegger emplacou um
‘hit’ dramático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário