quinta-feira, 15 de março de 2018

Dez Grandes Filmes de Ficção científica para refletir sobre a nossa existência


Alguns filmes não estão interessados somente em entreter. Um dos mais tradicionais gêneros cinematográficos, a ficção científica se tornou o terreno perfeito para os realizadores que gostam de propor uma reflexão mais profunda a partir das suas obras. Mirando no futuro, nomes como os de Fritz Lang, Stanley Kubrick, George Lucas, Ridley Scott entre muitos outros encontram no Sci-Fi e no universo futurista os ingredientes para discorrer sobre temas genuinamente humanos, questionando a nossa própria existência em trabalhos ora instigantes, ora provocantes. Um dos novos representantes desta seleta lista, Alex Garland mostrou em Aniquilação (leia a nossa opinião aqui) a perspicácia necessária para questionar o nosso próprio poder de autodestruição. Num trabalho com múltiplas camadas, o promissor realizador pincela um comentário crítico acerca da nossa relação com o meio ambiente, encontrando na intensidade de Natalie Portman a bagagem dramática para propor um denso e humano estudo de personagem. Com a estreia da mais nova produção original Netflix, no Cinemaniac preparamos uma lista com outros dez grandes filmes de ficção científica que fazem pensar sobre a nossa existência\comportamento numa estrutura social. Este post já estava planejado previamente, mas nada mais justo que servir como uma singela homenagem ao gênio Stephen Hawking, um homem inspirador e um grande “nerd” apaixonado pela cultura pop. 

- Metrópolis (1927) 


Um dos grandes expoentes do expressionismo alemão, Metrópolis mostrou o seu visionarismo ao pincelar um retrato assustadoramente atual sobre o impacto da desigualdade numa sociedade futurista. Sob a batuta de Fritz Lang, o longa se posicionou a frente do seu tempo ao construir um poderoso duelo de classes, refletindo sobre os problemas da Europa na primeira guerra ao tentar costurar um elo mais estreito entre a elite e o proletariado. Embora não seja um filme fácil, Metropolis causa até hoje um indiscutível fascínio ao tentar quebrar esta barreira entre as classes, usando o contexto futurista\Sci-Fi para revelar não só o impacto da desigualdade social junto aos menos abastados, como também questionar o perigo da manipulação, da centralização do poder e da industrialização desenfreada. Em pensar que, pouco tempo depois, a Alemanha de Fritz Lang veria a ascensão de Adolph Hitler e de um discurso de ódio que só traria dor e destruição ao redor do mundo. Um baita filme que, graças ao vanguardismo estético de Lang, se tornaria um dos pilares do gênero, influenciado obras do quilate de Gattaca (1997), Filhos da Esperança (2006) e Expresso do Amanhã (2013). 

- 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) 


Embora seu psicodélico clímax passe uma impressão complexa e distante da nossa realidade, 2001: Uma Odisseia no Espaço segue, ainda hoje, como uma das obras mais influentes do universo Sci-Fi. Longe de ser um filme acessível, o clássico longa dirigido por Stanley Kubrick se tornou referência estética, um trabalho a frente do seu tempo que, um ano antes da chegada do homem a lua, já tratava a rotina de um astronauta com uma propriedade assustadora. 2001, porém, não fica reduzido de maneira nenhuma aos predicados técnicos\visuais. Ainda hoje, cinquenta anos após o seu lançamento, o clássico de Kubrick segue causando discussões e levantando instigantes questões interpretativas. Afinal de contas, o que são os monolitos? Qual o sentido do clímax? Hal 9000 era o vilão ou o herói? Respostas que, sinceramente, não tenho. Nas entrelinhas, porém, o tema central me parece bem claro: a evolução\involução do ser humano. Num dos maiores ‘time-travlings’ do cinema, Kubrick associa a evolução símia à corrida espacial, estabelecendo o contexto evolucionista para logo em seguida contestar a nossa relação com as novas tecnológicas. No cenário proposto por Arthur C. Clark, e adaptado pelo realizador norte-americano, os tripulantes são pessoas apáticas “comandadas” por uma inteligência artificial. Sempre que possível, Kubrick trata a tecnologia como um problema, um agente distanciador. As conversas entre os tripulantes da nave e as suas respectivas famílias, por exemplo, são em sua maioria frias e tristes, expondo o vazio causado por esta missão familiar. No momento em que percebem algo de errado com Hal 9000, os tripulantes se tornam presas fáceis, numa crítica clara a vigilância e a relação de dependência entre os homens e as máquinas. Nas entrelinhas, inclusive, Kubrick aponta a sua mira especificamente para a IBM, uma poderosa empresa do ramo da informática que, num passado obscuro, foi aliada de Adolf Hitler e do regime Nazista no mapeamento dos judeus em solo alemão. A sigla Hal, na verdade, é composta por três letras anteriores ao (H)I (A)B (L)M no alfabeto, uma cutucada genial que sintetiza a crítica proposta de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Isso porque, sendo o monolito o símbolo de evolução, nada mais claro que um computador (um símbolo do desenvolvimento tecnológico) se torne o único obstáculo entre o homem e uma versão melhor de si mesmo. 

- THX 1138 (1971) 


Antes de revolucionar a indústria do entretenimento com o poderoso universo Star Wars, George Lucas pisou filme no Sci-Fi ‘hardcore’ com o instigante THX 1138. Levando a nossa sociedade para um futuro distópico, o realizador buscou inspiração em clássicos do quilate de 1984 e Admirável Mundo Novo ao questionar a maneira com que lidamos com os nossos sentimentos. Numa análise a frente do seu tempo, um predicado que, diga-se de passagem, se torna quase redundante nesta lista, Lucas nos leva a uma civilização futurista e consumista que vivia sob as rédeas de um governo autocrático. Neste cenário, toda e qualquer manifestação de afeto era suprimida, substituída pelo uso de entorpecentes químicos e experiências virtuais. Disposto a experimentar uma conexão mais física, THX (Robert Duvall) decide parar com o coquetel de drogas, sem saber que as consequências o colocariam perante o pulso forte de um Estado centralizador. Recheado de inspiradas metáforas visuais, THX 1138 é contundente ao criticar a manipulação das massas, a opressão governamental e a aridez dos sentimentos. Numa época em que as plataformas digitais da atualidade sequer sonhavam em existir, George Lucas é pessimista ao traduzir a nossa problemática relação com as novas tecnologias, se antecipando aos fatos ao fazer referências a dispositivos de realidade virtual e a gadgets de vigilância constante. É interessante ver também a maneira com que ele se refere às forças policiais, uma abordagem impessoal e agressiva que segue dialogando com alguns enraizados problemas ao redor do mundo. Como se ali não existisse uma voz, uma alma, apenas um indivíduo preparado para cumprir as ordens dos seus superiores. Custe o que custar. Contando ainda com uma libertadora sequência final, THX 1138 mostra pessimismo quanto ao futuro da humanidade ao questionar a derrocada de sentimentos genuinamente humanos. Uma obra inteligente que, ainda hoje, segue influenciando títulos do segmento, entre eles os ótimos 1984 (1984), Equilibrium (2003) e V de Vingança (2005). 

- Blade Runner (1982) e Blade Runner: 2049 (2017) 


Um dos pilares do universo cyberpunk, Blade Runner (leia a nossa opinião aqui) revolucionou a ficção científica da sua época ao propor uma pessimista visão de futuro. Numa realidade caótica em que o clima sucumbiu a poluição, as grandes metrópoles se tornaram ainda mais superpopuladas e a mão de obra humana foi praticamente substituída por humanos sintéticos, Ridley Scott colocou o dedo na ferida ao deixar uma célebre pergunta no ar: o que nos define enquanto seres humanos? Embora a película transite por uma série de outras questões sociais, se insurgindo contra a ação das grandes corporações, o preconceito diante de uma “raça” considerada inferior e a desigualdade neste universo superpopuloso, o diretor inglês abraçou o existencialismo ao narrar o jogo de gato e rato entre o caçador Deckard (Harrison Ford) e o replicante Roy Batty (Rutger Hauer). Sem a pretensão de "reinventar a roda", Blade Runner é cuidadoso ao propor o debate filosófico em torno da existência humana, colocando o dedo na ferida ao discorrer sobre o tempo, as memórias e o que nos define enquanto ser pensante. Na sua camada mais periférica, o longa sugere um instigante debate ético ao questionar o perigo de se "brincar" de Deus e a nossa arrogante relação com as novas tecnologias. À medida que a trama avança, entretanto, percebemos que, tal qual Deckard e Roy, somos "apenas" peões, peças movidas por um 'status quo' amoral e opressivo. Embora sigamos insistindo em não enxergar a realidade, o fato é que a tecnologia se transformou num "algo" quase onipresente. Aplicativos, algoritmos e dispositivos virtuais fizeram os androides parecerem criaturas obsoletas, guiando os nossos caminhos, armazenando as nossas memórias, moldando os nossos pensamentos, monitorando os nossos passos. Ao diluir estas barreiras, Blade Runner se colocou na vanguarda do gênero, nos brindando com uma visão de futuro que hoje, trinta anos depois, faz completo sentido. 


Eis que, três décadas e meia depois, Dennis Villeneuve teve a audácia de revisitar este tão respeitado universo. E o resultado foi o incrível Blade Runner 2049 (leia a nossa opinião aqui). Indo além da simples revisitação, o realizador canadense foi além das expectativas ao projetar uma evolução dos conceitos apresentados no longa anterior. E isso sem descaracterizar a visão de futuro pensada por Scott na década de 1980. Diante de uma nova descoberta, o longa nos leva por um novo caminho ao deixar o existencialismo em segundo plano. A questão, aqui, se torna biológica, um conceito de evolução mais científico. Enquanto no primeiro filme "desbravamos" o universo Blade Runner sob o ponto de vista humano (será?) de Deckard, em 2049 Villeneuve brilha ao colocar no centro da trama um novo modelo de replicante. Ao seguir os passos do introspectivo K (Ryan Gosling), a continuação expõe o que não foi mostrado no original, o processo de "humanização" de um "androide" a luz das suas descobertas, contrastando com a frieza dos personagens “naturalmente” humanos. Numa proposta bem mais atual, ele é astuto ao dialogar com as novas tecnologias, refletindo sobre a nossa problemática relação com os dispositivos virtuais sob uma perspectiva bem mais íntima e sentimental. Em suma, um filmaço que, assim como o original, não teve o reconhecimento merecido, o que, verdade seja dita, não chega a ser um grande problema. Vide a influência do seu antecessor, um “fiasco” na época do seu lançamento que ainda hoje segue embalando os debates de alguns fãs do gênero. 

- Ghost in The Shell (1995) 


Adaptação do cultuado mangá de Masamune Shirow, Ghost in The Shell (leia a nossa opinião aqui) instiga ao extrair as reflexivas questões existências presentes no riquíssimo material original. Sob a batuta de Mamoru Oshii, o longa é inteligente ao se aprofundar nas questões filosóficas presentes na trama, preenchendo a imersiva película com preciosos diálogos acerca da existência humana. Sem apelar para explicações didáticas, a animação exibe um invejável senso de plenitude ao não só questionar a nossa perigosa relação com as novas tecnologias, como também ao reforçar o profundo debate proposto por Shirow. Num relato à frente do seu tempo, Mamoru Oshii utiliza a jornada da cibernética Major, uma policial robótica com cérebro humano errática quanto a sua humanidade, para refletir sobre a nossa existência, sobre aquilo que nos define enquanto indivíduo. Sem a intenção de apontar respostas fáceis, o longa é perspicaz ao colocar a memória no centro do debate. Numa época em que os dispositivos eletrônicos são definidos pela sua capacidade em armazenar\processar conteúdo, é inquietante ver um mangá da década de 1980 criar um inspirado paralelo entre o homem e a máquina, entre o cérebro humano e uma placa de rede. Se a memória define a nossa existência, o nosso legado, por que uma inteligência artificial não pode ser tratada como um individuo? Como um ser "pensante"? Uma indagação aparentemente fantasiosa, de fundo retórico, mas que se torna pertinente num momento em que algoritmos e programas de IA vêm cada vez mais definindo o rumo das nossas vidas. Fazendo um primoroso uso do cenário 'cyberpunk', o realizador resgata também o viés crítico do mangá ao expor a perigosa presença da tecnologia na nossa rotina. Numa visão de futuro reconhecível aos olhos do público atual, ele é incisivo ao falar sobre a invasão da privacidade, o ciberterrorismo e a perda da identidade neste cenário virtual. Nas entrelinhas, inclusive, Oshii é habilidoso ao realçar os escusos interesses das grandes corporações e do governo, levantando questões que hoje se tornariam recorrentes nos debates acerca da nossa "segurança" online e do ‘fake news’. O resultado é uma obra poderosa que influenciou outras grandes clássicos do gênero, entre eles o popular Matrix (1999). 

- Contato (1997) 


Quem disse que ciência e religião não podem dividir a mesma prateleira? Um dos filmes mais subestimados do gênero, Contato é um Sci-Fi reflexivo, com múltiplas camadas, que explora a questão da vida extraterrestre sob um ponto de vista propositalmente ambíguo. Dirigido por Robert Zemeckis, um dos bem-sucedidos pupilos de Steven Spielberg, o longa estrelado pela talentosa Jodie Foster narra a busca por respostas de uma obstinada cientista que, contra tudo e contra todos, decide seguir o rastro de um enigmático sinal oriundo de uma fonte desconhecida. Como se não bastasse o arco pessoal envolvendo a figura da cientista, uma mulher cética que se ergue contra a desconfiança (e o machismo) para ter a sua tese reconhecida, Zemeckis é habilidoso ao explorar o dualismo entre a fé e a ciência como o pano de fundo das descobertas da protagonista. O diretor, aliás, é igualmente contundente ao realçar os perigos por trás do fanatismo religioso, um tema que se torna decisivo para o desenvolvimento dos dois terços finais do longa. Além disso, inspirado nos conceitos do astrônomo Carl Sagan (Cosmos), Contato é cuidadoso ao traduzir as questões científicas em torno da trama, sustentadas através de diálogos profundos ("Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço") e das excelentes atuações. O resultado é um clímax magnífico, uma experiência visual memorável marcada pelas inteligentes reflexões existenciais e pela maneira inventiva com que tenta aproximar dois polos filosoficamente distantes. 

- Wall-E (2008) 


Quem disse que um filme precisa ser complexo para dialogar com temas genuinamente complexos? Wall-E está ai para provar o contrário. Uma das mais inteligentes animações da Pixar, o longa dirigido por Andrew Stanton vislumbrou um futuro pessimista para os habitantes da Terra ao criticar a maneira com que lidamos com o meio ambiente. Num cenário em que o nosso planeta se tornou impróprio para a vida, e que os poucos sobreviventes passaram a viver em organizadas espaçonaves, a película segue os passos de Wall-e, um simpático robô catador de lixo que ficou com a missão de higienizar a Terra enquanto busca por um sinal de vida do nosso ecossistema. Indo além dos questionamentos envolvendo o nosso comportamento predador, Stanton encontrou nesta verdadeira obra de arte os ingredientes necessários para apontar a sua mira contra o nosso sedentário estilo de vida. Os habitantes das naves se tornaram obesos e inertes, uma postura “cultivada” pela influência da tecnologia na rotina dos sobreviventes. Ao contrário de outros filmes do gênero, porém, Wall-E não se opõe somente aos adventos virtuais. Embora o vilão seja uma inteligência artificial, numa clara alusão ao Hal 9000 de 2001, Stanton decide não poupar os seres humanos, questionando a nossa dependência dentro deste meio “virtualizado”. Uma crítica que só se torna mais profunda quando nos deparamos com a cativante história de amor entre Wall-E e Eva, um arco adorável que surge como um contraste diante da postura individualista dos personagens humanos. Um filmaço que, indiscutivelmente, merece estar entre os melhores dentro deste reflexivo gênero. 

- Ela (2013) 


Quando o assunto é a “virtualização” dos sentimentos, porém, poucos filmes tiveram o pioneirismo de Ela (leia a nossa opinião aqui). Numa visão de futuro naturalmente reconhecível aos olhos de uma geração conectada pelas plataformas virtuais, o longa dirigido por Spike Jonze encanta e inquieta ao narrar a história de amor entre um homem desiludido e uma inteligência artificial. Impulsionado pelas soberbas performances de Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson, Ela propõe uma profunda reflexão acerca das nossas relações com as novas tecnologias. Num cenário cada vez mais aberto as experiências virtuais, vide o assustador crescimento das inteligências artificiais, o criativo diretor é direto ao se debruçar sobre alguns males recorrentes nos grandes centros urbanos, entre eles a solidão, a antissocialidade e a depressão. Mais do que simplesmente apontar a sua mira para os perigos de uma relação essencialmente virtual, Jonze é astuto ao traçar um interessante paralelo entre os dois protagonistas. Enquanto o homem, cansado de se iludir com as experiências humanas, parece cada vez mais aberto ao “conforto” de um relacionamento com uma IA e a sensação de controle dentro desta interação, a inteligência artificial parece cada vez mais disposta a sentir, a buscar experiências humanas, um cenário instigante que rende algumas geniais discussões filosóficas acerca do nosso comportamento num meio virtual. Contando com um afetuoso clímax, que, a sua maneira, sintetiza a mensagem defesa por Spike Jonze, Ela se revela um romance original, um pouco longo, é verdade, mas brilhante dentro da sua proposta. 

- Ex_Machina: Instinto Artificial (2014) 


Recheado de símbolos, Ex-Machina (leia a nossa opinião aqui) faz um brilhante uso das cores ao propor uma releitura atualizada do velho duelo entre a razão e a emoção. Sob a batuta de Alex Garland, no seu primeiro trabalho na direção, o longa estrelado por Alicia Vikander provoca ao propor uma discussão envolvendo a nossa relação com as tecnologias. Ao contrário de Ela, porém, a película investe numa abordagem mais física, personificando a figura da inteligência artificial ao dar contornos mais sensuais a este suspense. A partir de três tipos aparentemente bem definidos, um egocêntrico inventor, um inocente programador e uma sedutora robô, Garland dialoga com temas estritamente humanos, permitindo que o público se identifique com os dilemas e as reações de cada um deles. Na verdade, ao proteger os segredos da trama com enorme categoria, o argumento permite que a desconfiança gerada na relação entre Caleb, Ava e Nathan exponha algumas das falhas mais comuns ao comportamento humano, as tornando decisivas na construção das inteligentes reviravoltas. Nesse sentido, aliás, é interessante ver como o longa aponta para diversos caminhos durante os envolventes 110 minutos, dando ao público a possibilidade de não só se enxergar dentro das atitudes dos protagonistas, mas também de absorver a reflexiva premissa nas suas mais variadas camadas. Nas entrelinhas, inclusive, Garland levanta uma série de discussões completamente atuais, mostrando objetividade ao debater sobre a crescente vigilância individual, o impacto das relações virtuais na nossa existência e os limites éticos por trás do desenvolvimento tecnológico. O grande diferencial de Ex_Machina, porém, está na maneira com que o longa investiga a situação feminina dentro de um espaço majoritariamente masculino. Para não dizer machista. Antes do fortalecimento de movimentos como o Time’s Up e o #MeToo, Garland colocou o dedo na ferida ao refletir também sobre a autonomia da mulher dentro da nossa sociedade, promovendo um “silencioso” grito de liberdade ao expor a rotina de abusos e violência dentro de um contexto absolutamente original. Em suma, Ex_Machina usa uma criatura artificial para investigar algumas das nossas inúmeras “falhas de programação”. 

- A Chegada (2016) 


Por fim chegamos ao filme mais humano desta lista. Embora dialogue com questões de cunho geopolítico, A Chegada (leia a nossa opinião aqui) propõe um emocionante estudo sobre a natureza humana. Com Amy Adams no papel de uma cientista especialista em linguística recrutada para descodificar a linguagem de uma raça alienígena, o longa dirigido por Dennis Villeneuve, em sua essência mais pura, questiona a nossa incapacidade de dialogar com os nossos semelhantes. Adotando uma inspirada narrativa circular, o realizador canadense encanta ao discorrer sobre a maneira com que encaramos as nossas vidas, os nossos obstáculos, valorizando a jornada em detrimento do fim ao nos brindar com um dos clímax mais belos da história recente do cinema. Uma visão otimista que, com brilhantismo, explora os conceitos da ficção científica em prol de um relato comovente sobre a nossa existência.

Um comentário:

Unknown disse...

Boa lista! Eu acrescentaria Jogador n1 que é mais um excelente trabalho do Spielberg e se passa num mundo distópico.Adoro os filmes de animação e juro que é meu gênero preferido, mas Jogador n1 passou as minhas expectativas, em sério é uma história genial e os personagens são demais. Eu adorei os efeitos especiais do filme jogador n1 . Eu gosto de todos os filmes dirigidos pelo Steven Spielberg, sempre tão fantásticos e com um universo tão particular e bem estruturado. Recomendo a quem ainda não viu.