terça-feira, 7 de novembro de 2017

A Noite é Delas

Um completo desperdício de talento 

Imagine uma mistura, sem graça, de Um Morto Muito Louco (1989), com Se Beber, Não Case (2009) e Missão Madrinha de Casamento (2011). Capitaneado por uma deslocada Scarlett Johansson, A Noite é Delas é uma comédia sem um pingo de originalidade que se escora, basicamente, no talento do seu renomado elenco. Conduzido no piloto automático pela novata em grandes produções Lucia Aniello (Broad City), o longa se esvai diante do fraquíssimo roteiro, requentando piadas e soluções batidas num projeto que, acima de tudo, carece de humor. Um problema que só fica evidente quando nem mesmo a ótima Kate McKinnon (Saturday Night Live), com um impagável sotaque australiano, consegue "render" boas gags. 

Com roteiro assinado pela própria Lucia Aniello, ao lado do também ator Paul W. Downs, A Noite é Delas começa a errar quando reluta em relação ao tom do projeto. Embora inicialmente o plot pareça tender ao absurdo, no melhor estilo Segurando as Pontas (2008) e Anjos da Lei (2012), a realizadora o faz com um pudor PG-13, pisando constantemente no freio ao reduzir não só o peso das insossas piadas, como também ao flertar constantemente com o sentimentalismo típico das comédias românticas. Por mais que a ideia de explorar o universo das despedidas de solteiro sob um prisma feminino fosse promissora, o argumento falha ao tratar as protagonistas como figuras rasas e estereotipadas, como se estivéssemos diante de adolescentes travestidas de mulheres adultas. Entre piadas envolvendo depilação à cera e absorventes, o roteiro se distancia completamente da realidade ao subaproveitar os dilemas destas independentes figuras femininas, esvaziando a trama ao entender que um 'mise en scene' frouxo e genérico fosse o bastante para garantir a diversão. O que, definitivamente, não acontece. 


Em A Noite é Delas acompanhamos as desventuras de Jess (Scarlet Johansson), uma política certinha que, na véspera do seu casamento, se vê quase que obrigada a participar da despedida de solteira organizada pela sua melhor amiga, a entusiasmada Alice (Jillian Bell). Com o aval do seu futuro marido, o sem sal Peter (Paul W. Downs), ela parte para Miami para reencontrar as suas antigas parceiras de universidade, entre elas a recém-divorciada Blair (Zoë Kravitz), a ativista Frankie (Ilana Glazer) e a australiana Pippa (Kate McKinnon). A empolgação do grupo, entretanto, logo se transforma em pânico quando, por acidente, Alice atinge um stripper na cabeça e o mata. Apavoradas, as cinco amigas decidem dar um sumiço no corpo, sem sequer desconfiar dos perigos que as cercavam. 


Com um roteiro marcado pelo humor frágil em mãos, a diretora Lucia Aniello peca pela falta de originalidade ao explorar a absurda situação das protagonistas. Qualquer fã minimamente assíduo do gênero vai perceber o quão requentadas são as piadas e o quão esquemático é o argumento. Diferente, por exemplo, do clássico da Sessão da Tarde Um Morto Muito Louco, as gags envolvendo elas e o corpo são fraquíssimas, rendendo poucos momentos genuinamente engraçados. No melhor deles, a charmosa Blair é convidada por um "liberal" casal de vizinhos (vividos pelos ótimos Ty Burrel e Demi Moore) para uma "nova experiência" e o resultado é uma situação ao menos divertida. Somado a isso, na maior parte da trama a reação imatura das personagens não faz o menor sentido, o que, aliado a uma previsível reviravolta, praticamente anula o senso de perigo em torno do quinteto de amigas. Pra piorar, apesar do evidente talento individual do elenco, a química coletiva entre as protagonistas é extremamente frágil. Longe da sua "zona de conforto", Scarlett Johansson, por exemplo, parece deslocada em meio ao 'non sense'. Limitada pelo texto, a versátil atriz até se esforça, busca dar algum peso aos clichês sentimentais defendidos pelo roteiro, mas pouco tem a fazer diante da sua caricata parceira de set, a exagerada Jillian Bell. O mesmo, aliás, acontece com a excelente Kate McKinnon que, apesar das suas hilárias caras e bocas, soa aqui como um reforço de luxo num elenco desentrosado. Por outro lado, Zoë Kravitz e Ilana Glazer mostram um consistente vínculo em cena e rendem alguns dos melhores momentos da película. 


Em suma, contando ainda com uma subtrama esdrúxula envolvendo o futuro marido de Jess, o bisonho Peter, A Noite é Delas se revela um daqueles projetos em que a diversão parece ter ficado nos sets de filmagens. Com um plot mal resolvido, piadas sem graça e personagens ocos, o longa subaproveita um talentoso elenco feminino ao tentar simplesmente replicar o (imaturo) formato frequentemente utilizado nas comédias do universo masculino.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado pela crítica. Eu acho que esse filme foi muito bom, apesar de não ter tido muito sucesso, acho que valeu a pena pelas risadas. O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Nesse filme Scarlett Johansson fez um bom trabalho como atriz. Falar de ela significa falar de uma grande atuação garantida, ela se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. A verdade desfrutei muito sua atuação. Se vocês são amantes dos filmes de comédia, este é um filme que não devem deixar de ver.