Um dos temas mais tragicamente ricos da história moderna, a Segunda Guerra
Mundial se tornou um assunto recorrente dentro da Sétima Arte. Antes mesmo do
conflito terminar, alguns corajosos realizadores já utilizavam o cinema para
retratar o impacto deste doloroso período na rotina dos inocentes. Sete décadas
depois do término do embate, o conflito entre as tropas do Eixo e o exército
Aliado seguiu rendendo uma enxurrada de produções, a maioria delas envolvendo
grandes feitos, populares batalhas ou personalidades importantes dentro do
conflito. Após Mel Gibson narrar a história de um militar antibélico no
premiado Até o Último Homem, o cultuado Christopher Nolan resolveu também
recriar um importante momento do conflito em Dunkirk. Com um elenco recheado de
talentosos nomes e uma direção à moda antiga, com direito a inúmeros efeitos
práticos, uso de película e expressivos takes aéreos, o longa reconta a
história de um grupo de militares britânicos que, durante a Operação Dínamo,
uma missão de resgate\evacuação das tropas inglesas em solo francês, foram
encurralados pelos Nazistas. E como o assunto é a Segunda Grande Guerra, neste
Top 10 iremos falar sobre alguns dos melhores filmes envolvendo o
conflito. Como a lista de títulos sobre o tema é gigantesca, nessa matéria
seguirei basicamente o meu gosto pessoal e tentarei fugir (ao máximo) do lugar
comum. Dito isso, começamos com...
10º Fugindo do Inferno
(1962)
"É dever de todo oficial tentar escapar". Esta simples
sentença diz muito sobre o excelente Fugindo no Inferno, uma aventura dramática
inspirada numa incrível história real. Dirigido por John Sturges (Sete Homens e
um Destino), o filme transita por uma enorme gama de gêneros ao acompanhar a
tentativa de fuga de um grupo de oficiais de uma das mais seguras prisões
nazistas, o Stalag Luft III. Embora num primeiro momento a clássica abordagem
heroica possa dar contornos escapistas ao longa, o respeitado realizador mostra
esmero ao transitar por temais bem mais realísticos, mostrando o impacto do
conflito na rotina de um grupo de organizados militares. Com um elenco recheado
de nomes estrelares, entre eles Steve McQueen, James Garner, James Coburn,
Charles Bronson e Richard Attenborough, Sturges esbanja categoria ao se
aprofundar nas nuances dos singulares personagens, preenchendo as fluídas 2 h e
50 min de película com arcos sólidos e realmente bem escritos. Na verdade, o
argumento é competente ao fazer o espectador criar um sincero vínculo com os
prisioneiros, o que se torna decisivo para a construção do tenso último ato.
Além disso, o clássico surpreende ao se preocupar em realçar o código de ética
entre os oficiais, se distanciando do teor unidimensional ao mostrar que nem
todo nazista parecia crer no código de conduta defendido pelo 3º Reich. Um dos
pilares dos populares "filmes de fuga", Fugindo do Inferno nos brinda
também com empolgantes cenas de ação. Oriundo do popular Western, John Sturges
mostra um excepcional senso de simultaneidade ao acompanhar a escapada sob
diversos pontos de vista, dando ao 'old-school' Steve McQueen a possibilidade
de exibir a sua perícia sobre uma motocicleta numa fantástica sequência de
ação. E quando o assunto são os filmes sobre prisioneiros da 2ª Guerra, não
podemos deixar de citar outro clássico do segmento, o afiado O Inferno Nº 17
(1953), um dos grandes trabalhos do cultuado diretor Billy Wilder.
9º Bastardos Inglórios
(2009)
Um acerto de contas recheado de ironia, Bastardos Inglórios é um filme
de guerra com a cínica assinatura de Quentin Tarantino. Tenso, violento e
deliciosamente irônico, o longa estrelado por Brad Pitt, Diane Kruger e Mélanie
Laurent reinventa o conflito ao acompanhar a incursão de um grupo de espiões
judeus em pleno solo alemão. Com uma abordagem pop, personagens engraçadíssimos
e um antagonista naturalmente ameaçador, ponto para a magnífica performance de
Christoph Waltz, o cultuado realizador norte-americano mostra a sua reconhecida
criatividade ao dividir a trama em cinco memoráveis capítulos. Impulsionado
pela fluidez narrativa do argumento, pelos afiados diálogos e pelas excelentes
atuações, Tarantino nos brinda com uma perspicaz história de vingança, um filme
tecnicamente primoroso recheado de passagens espetaculares. Como não citar, por
exemplo, a fantástica sequência do bar, a perversa cena de abertura ou então o
catártico clímax, três dos momentos mais inspirados da filmografia deste
aclamado diretor. O resultado é uma produção autoral sobre a Segunda Grande
Guerra, um longa sarcástico, pop e provocador sobre um dos períodos mais
sombrios da história moderna. Por falar em missões inusitadas em solo inimigo,
outro filme que merece destaque é o clássico Os Doze Condenados (1967),
um épico sobre um grupo de condenados treinados para combater os nazistas num
perigosíssima missão. Uma espécie de Esquadrão Suicida (2016) que deu certo.
7º O Pianista (2002)
Inspirado numa devastadora história real, O Pianista se revela um dos
relatos mais intimistas sobre a desoladora situação dos judeus no ápice do
holocausto. Reconhecido por sua singular filmografia, o polêmico diretor Roman
Polanski conquistou o público e a crítica ao narrar a jornada do músico
Wladyslaw Szpilman, um pianista talentoso que se encara uma degradante na
rotina na luta para escapar das crueldades do exército nazista. Acostumado a
trabalhar com personagens\tramas recheadas de cinismo, o realizador polonês
surpreende ao investir numa obra sensível e intimista, um poderoso drama sobre
o limite da resiliência humana durante este violento período. Um tema
naturalmente trágico potencializado pelo cuidado de Polanski ao realçar o pano
de fundo artístico. É de cortar o coração ver um homem que dedicou a sua vida à
música, obrigado a enfrentar uma realidade tão dura e desoladora. Sem querer
revelar muito, as sequências no apartamento, em especial, são genuinamente
dolorosas e resumem o estado de espírito de um homem levado ao limite da
sanidade. Apesar dos inúmeros predicados técnicos, entre eles a direção elegantíssima
de Polanski, a imersiva fotografia soturna de Pawel Edelman e a expressiva
direção de arte, o grande trunfo de O Pianista reside na soberba atuação de
Adrian Brody. Numa performance transcendental, o ator nova-iorquino sucumbe em
cena com enorme naturalidade, tornando o processo de deterioração de Szpilman
indiscutivelmente doloroso aos olhos do público. Indo além da sua notória
entrega física, Brody interioriza as emoções do músico com extrema intimidade,
evidenciando a sensibilidade do biografado mesmo nos momentos mais árduos. Como
não citar, por exemplo, a arrepiante sequência em que o pianista, desgastado
fisica e emocionalmente, entra em contato com a sua arte ao simplesmente ouvir
no seu solitário refugio um concerto de um apartamento vizinho. Assim como O
Pianista, aliás, outros grandes filmes emocionaram ao descortinar a
desaventurada jornada dos judeus em solo nazista, com destaque para o
inquestionável O Diário de Anne Frank (1959) e o aclamado A Vida é
Bela (1997), duas obras singulares que não merecem passar em branco em
qualquer lista sobre o tema.
6º A Conquista da Honra
(2006) e Cartas de Iwo Jima (2006)
Num projeto extremamente ousado, o mestre Clint Eastwood resolveu
colocar o dedo na ferida ao mostrar o impacto da Segunda Guerra na rotina dos
EUA. Para isso, com a intenção de oferecer uma abordagem completa sobre o tema,
o sensível realizador resolveu investigar os dois lados da moeda. No crítico A
Conquista da Honra (2006), Eastwood fugiu do lugar comum ao mostrar o conflito
sob o prisma americano, expondo as consequências da guerra na rotina dos
soldados responsáveis por participar de uma clássica foto. Numa abordagem
extremamente humana, ele expõe o lado mais inglório da guerra, a dura volta
para casa, se insurgindo contra a ação do governo na época ao revelar as
verdades por trás de uma das maiores propagandas de guerra dos EUA. Foi quando
decidiu mostrar o conflito sob o ponto de vista nipônico, entretanto, que Clint
Eastwood entregou um dos melhores trabalhos da sua laureada filmografia. Sem a
pretensão de encontrar culpados, Cartas de Iwo Jima conquistou a crítica ao
revelar a nobreza e o forte idealismo dos japoneses diante da pesada incursão norte-americana. Sob um prisma bem amplo, Eastwood impressiona ao reproduzir tanto a
deteriorante rotina dos soldados japoneses enclausurados em opressivas
cavernas, quanto os motivos que levaram muitos deles a um conflito deste porte.
Guiados pelas tais cartas que dão título ao longa, o veterano surpreendeu ao
criar um laço de intimidade com alguns personagens, entre eles o general
interpretado por Ken Watanabe, dando uma compreensiva voz ao outro lado do
confronto. Na verdade, apesar dos inúmeros triunfos técnicos, vide a pálida
fotografia de Tom Stern e as realísticas sequências de ação, Cartas de Iwo Jima
surpreende ao tratar os "inimigos" com extrema humanidade, mostrando
que para Clint Eastwood a guerra não deve ser analisada num contexto
unidimensional. Aqui, aliás, destaco também A Ponte do Rio Kwai (1957) e
O Império do Sol (1987), um par de ótimos filmes sobre o lado asiático
da Segunda Guerra.
6º O Barco (1981)
Tecnicamente magnífico, o claustrofóbico O Barco é mais uma pérola do
cinema de guerra. Conduzido com extremo virtuosismo por Wolfgang Petersen, o
longa se despe dos rótulos ao acompanhar a angustiante jornada de um grupo de
marinheiros alemães a bordo de um resistente submarino. Mais do que escolher
lados, o realizador alemão coloca o dedo na ferida ao revelar a desoladora
situação dos "peões" no tabuleiro da guerra, os soldados que
sacrificavam as suas vidas em prol de uma ideologia que não era a deles. Sob um
prisma humano, multidimensional e genuinamente íntimo, Petersen é cuidadoso ao
dar voz às "estatísticas". Ao mostrar a pressão, o pavor, a desesperança
e a desilusão de homens comuns, militares isolados num sufocante submarino
alemão. Fazendo um primoroso uso deste ambiente imersivo, o argumento esbanja
propriedade ao se distanciar dos clichês do nazista cruel. Através de diálogos
inteligentes, Petersen abraça o teor crítico ao mostrar não só a face mais
humana dos marinheiros, como também o incômodo dos oficiais diante das
descabidas ordens daqueles que "lutavam" no conforto do Quartel
General. Um dos melhores personagens do filme, por exemplo, o Capitão interpretado
pelo excelente Jürgen Prochnow se torna o porta-voz deste discurso mais
incisivo, justamente por se insurgir contra a pretensa superioridade alemã no
campo de batalha.
Além disso, Petersen brilha ao traduzir o 'modus operandi' de
uma tripulação no auge da Segunda Guerra. Através do olhar incrédulo do
correspondente de guerra vivido pelo Herbert Grönemeyer, o diretor realça a
tensão ao capturar a desconfortável rotina dos marinheiros, ao mostrar o misto
de marasmo e desespero durante os realísticos ataques. Embora limitado pelas
questões técnicas da época, Petersen escreveu seu nome na história do cinema ao
rodar um filme de quase três horas e meia de duração (na versão do diretor)
dentro de um claustrofóbico submarino. Com uma câmera sempre fluída e
fantásticos planos sequências, ele transita pelos fechados corredores da
embarcação com impensável agilidade, potencializando o senso de urgência ao
investir em cenas nervosas e minuciosamente pensadas. Um 'mise en scene' sujo e
angustiante que faz de O Barco um dos filmes de guerra mais realísticos da história
da Sétima Arte. Ainda sobre os longas claustrofóbicos sobre o tema, precisamos
lembrar também dos ótimos U-571: A Batalha no Atlântico (2000) e Corações de Ferro (2014).
5º O Resgate do Soldado
Ryan (1998) - Empate -
Nascido numa família de origem judia, Steven Spielberg elevou a sua
filmografia para um novo patamar no momento em que resolveu "apontar a sua
câmera" para a Segunda Guerra Mundial. Após dirigir o primoroso A Lista de
Schindler, que obviamente também marcará presença na lista, o realizador nos
brindou com um relato realístico sobre o tão comentado Dia D no magnífico O
Resgate do Soldado Ryan. Responsável por uma das sequências de abertura mais
icônicas da história do Cinema, o gigantesco ataque costeiro na praia de Omaha,
inclusive, foi eleito pela revista Empire a melhor cena de batalha de todos os
tempos, Spielberg mostrou através de um ponto de vista particular a ação dos
Aliados durante este enorme conflito. Embora a missão de resgate liderada pelo
militar vivido por Tom Hanks seja apenas levemente inspirada em fatos, o longa
conquistou o público e a crítica ao reproduzir sob um prisma realmente visceral
a incursão do exército americano na Batalha da Normandia, revelando a
letalidade do conflito como poucos filmes conseguiram. Como de costume na sua
filmografia, aliás, Spielberg transita do macro ao micro com enorme
desenvoltura, realçando o fator humano ao se debruçar sobre os dilemas dos
soldados em solo inimigo. Além disso, fazendo um virtuoso uso dos recursos
práticos, a sequência da morte do soldado interpretado por Giovani Ribisi, por
exemplo, está entre as mais realísticas da Sétima Arte, o diretor nos coloca no
centro da ação, permitindo que compartilhemos do medo, da vulnerabilidade, da raiva
e da desesperança dos militares. Em suma, impulsionado pela soturna e expansiva
fotografia acinzentada de Janusz Kaminski, O Resgate do Soldado Ryan surge como
um relato quase documental sobre uma das passagens mais violentas deste
degradante conflito. Ainda sobre o tema, aliás, precisamos destacar também o
épico O Mais Longo dos Dias (1962), um verdadeiro clássico sobre a
invasão Aliada no Dia D.
5º Dunkirk (2017) - Empate -
E olha quem, por direito, já merece um relevante destaque entre os clássicos do gênero. Trabalhando com símbolos como a bravura, a resiliência e o heroísmo,
Dunkirk se revela um filme de guerra à moda antiga, um relato íntegro,
verossímil e incrivelmente sensorial sobre uma das manobras militares mais
celebradas da Segunda Guerra Mundial, a miraculosa Operação Dínamo. No trabalho
mais sincero da sua filmografia, Christopher Nolan (Interestelar) elevou o
nível da sua arte ao utilizar o seu espantoso virtuosismo cinematográfico única
e exclusivamente em prol da trama, nos colocando no centro do combate numa
experiência tensa, imersiva e emocionante. Indo além das firulas estéticas, o
realizador britânico encontra aqui a perfeita sincronia entre o virtuosismo
técnico e a construção narrativa, reforçando o seu status junto ao grande
público ao narrar os bastidores desta operação sob um poderoso ponto de vista
humano. Na verdade, além de ressaltar as diferenças entre heroísmo e
patriotismo, Nolan se preocupa em dar voz aos esquecidos, se sustentando em
símbolos universais ao nos oferecer uma arrebatadora experiência
cinematográfica. Uma obra em que o ato de sobreviver já é o bastante. Leia a
nossa crítica completa aqui
.
4º A Queda! As Últimas
Horas de Hitler (2004)
Corajoso e revelador, A Queda: As Últimas Horas de Hitler ganhou status
dentro do segmento ao revelar o destino do tirano Adolf Hitler. Inspirado nos
relatos de Traudl Junge, a última secretária pessoal do líder do governo
Nazista, o longa dirigido por Oliver Hirschbiegel fascina ao reproduzir os
bastidores da derrocada alemã sob um prisma tenso, intenso e genuinamente
intimista. Com uma abordagem quase claustrofóbica, já que o longa se passa
basicamente no superprotegido bunker do Führer, o realizador é cuidadoso ao
narrar a implosão do partido Nazista, o misto de desespero, desinformação e
esperança dos homens e mulheres de confiança de Hitler. Sob um prisma detestavelmente humano, Hirschbiegel permite que o público enxergue não só o poder do líder
sobre os seus comandados, como também a sua completa devoção aos distorcidos
ideais nazistas, revelando o impacto da derrota iminente na rotina deste
pequeno grupo de oficiais. Um clima de crescente nervosismo potencializado pela
estrondosa atuação de Bruno Ganz, um daqueles trabalhos que parecem transcender
as barreiras da arte. Impecável ao absorver a imponência, a energia e as
crenças deste nefasto personagem, o talentoso ator alemão explode em cena ao
traduzir a derrocada do líder nazista, indo do confiante ao desiludido com rara
intensidade. Além disso, por mais que o longa possa soar cansativo num primeiro
momento, Oliver Hirschbiegel surpreende ao investir num 'mise en scene' ágil e
dramático, se distanciando por diversas vezes da figura de Hitler ao
descortinar a sensação de caos em torno dos seus colaboradores mais fieis. Dito
isso, indispensável enquanto relato histórico, A Queda: As Últimas Horas de
Hitler envolve ao jogar uma reveladora luz sobre um dos episódios mais
nebulosos da Segunda Guerra Mundial.
3º O Túmulo dos Vagalumes
(1989)
Só mesmo o estúdio Ghibli para nos brindar com esta dilacerante pérola
da animação. Incisivo ao revelar a face mais covarde de um conflito do porte da
2ª Guerra Mundial, O Túmulo dos Vagalumes é um dos filmes mais dolorosamente
belos que eu já tive a oportunidade de assistir. Conduzido com extrema
sensibilidade pelo diretor Isao Takahata, o longa choca e emociona ao expor a
degradante jornada de dois irmãos órfãos da guerra. Indo da poesia ao realismo
com absoluta inspiração, o realizador não poupa o espectador ao retratar a
desoladora rotina dos inocentes durante os ataques americanos em solo japonês.
Como de costume nas produções da companhia, os belíssimos traços da animação
ganham aqui um sentido mais fúnebre. Os contrastes são evidentes e realçados ao
longo da película. Logo na impactante sequência de abertura percebemos que, ao
contrário da maioria das produções dos estúdios Ghibli, O Túmulo dos Vagalumes
não busca refúgio no reconforto do universo lúdico. A esperança, aqui, sucumbiu
a dor. Ainda que em alguns momentos Takahata aposte em algumas soluções mais
simbólicas, os vagalumes, por exemplo, dialogam perfeitamente com a inocência
da pequena Setsuko, o longa é contundente ao mostrar a morte, a destruição, a
indiferença e a miséria imposta por um conflito deste porte, tornando tudo
muito nítido aos olhos do espectador. Somado a isso, o realizador é cuidadoso
ao tornar este cenário naturalmente rotineiro, ao mostrar o quão supérfluo era
o luto em tempos de guerra, o que só reforça o sincero e amoroso vínculo entre
os dois irmãos. Contando ainda com uma reflexiva cena final, daquelas que
parecem querer lembrar dos erros passados, Túmulo dos Vagalumes é um relato
devastadoramente indispensável sobre os ecos de uma guerra que não escolhe as
suas vítimas. O estúdio Ghibli, aliás, voltou a falar sobre a 2ª Guerra no
lúdico Vidas ao Vento (2014), um relato comovente sobre o homem que viu
o seu sonho se tornar uma verdadeira máquina de destruição.
2º O Grande Ditador (1940)
Da mente do gênio Charlie Chaplin, O Grande Ditador se revelou uma das
mais contundentes e importantes sátiras envolvendo a Segunda Guerra Mundial. No
auge do conflito, um fato raro dentro do segmento, o realizador inglês resolveu
questionar através do humor as investidas do exército Nazista. Apesar de
admitir que não sabia das crueldades impostas aos judeus durante o conflito, e
que não teria realizado o longa se soubesse de "tamanha insanidade
homicida", Chaplin resolveu produzir esta crítica graças a sua
impressionante semelhança física com Adolph Hitler. Na trama, após servir ao
exército inglês durante a Primeira Guerra Mundial, um barbeiro judeu (Chaplin)
entra em coma por vários anos. Quando desperta, sem qualquer tipo de memória,
percebe que está novamente em um conflito quando Adenoid Hynkel assume o
comando da fictícia Tomainia. Vivendo em guetos, o barbeiro se apaixona pela
bela Hannah (Paulette Goddard) e através dela acaba entrando num pequeno grupo
de resistência. Apresentando algumas das mais icônicas cenas da Sétima Arte,
como não lembrar, por exemplo, do enérgico discurso final ou da bela sequência
em que Adenoid baila com o globo terrestre, Chaplin fez de um filme de comédia
uma das mais incisivas respostas a toda covardia imposta pelos nazistas. Uma
obra prima. Por falar em sátiras sobre a 2ª Guerra, precisamos lembrar do
hilário Top Secret (1984), uma comédia que, embora fique a léguas do nível de
qualidade do clássico de Chaplin, tem os seus valores.
1º A Lista de Schindler
(1993)
E o nosso primeiro lugar não poderia ser de outro se não o chocante A
Lista de Schindler. Inspirado na fantástica história real de Oskar Schindler,
um empresário astuto e oportunista que fez da sua influência uma poderosa arma
na luta contra o holocausto, o longa estrelado por Liam Neeson se tornou um dos
símbolos da filmografia de Steven Spielberg, principalmente pela forma como
valoriza o fator humano por trás deste grande conflito. Numa obra com mais de
três horas de duração, o realizador emociona ao expor não só a dor, a
degradação e trágica rotina nos campos de concentração, como também a
crueldade, a ignorância e a tirania dos nazistas. Brindando-nos com uma série
sequências primorosas, vide a sutileza com que ele utiliza a cor em dois
momentos dilacerantes, Spielberg é cuidadoso ao transitar também por temas como
a manipulação da informação e a construção do discurso de ódio aos judeus, se
esquivando a qualquer custo da unidimensionalidade ao construir um relato
poderoso e indiscutivelmente abrangente. Contando ainda com as inspiradas
atuações de Ben Kingsley e Ralph Fiennes, A Lista de Schindler é ainda um filme
tecnicamente impressionante. Apesar da elegante roupagem em preto e branco,
Steven Spielberg não poupa o espectador ao expor o lado mais conflito do
sombrio, ao reproduzir a violência e o sofrimento imposta pelos nazistas, um
teor realístico potencializado pela incrível direção de arte e pela expansiva
fotografia de Janusz Kaminski. Embora não tenha o peso de A Lista de Schindler,
outro drama inspirado em fatos que merece uma menção é o telefilme O
Corajoso Coração de Irena Sendler (2009), um relato emocionante uma
polonesa que usou os seus contatos para salvar a vida de centenas de crianças
judias.
Menções Honrosas
- Phoenix (2014)
Tal qual a ave mitológica que dá titulo a este belíssimo exemplar do
cinema alemão, Phoenix impressiona ao narrar de maneira elegante a jornada de
uma mulher que renasce das cinzas após sobreviver a brutalidade do holocausto.
Impulsionado pela soberba atuação de Nina Hoss (O Homem mais Procurado),
brilhante ao explorar as nuances de uma cantora desfigurada pelos nazistas,
este intenso drama sobre o pós-Segunda Guerra encanta pela inesperada sutileza
com que acompanha a corajosa busca desta emblemática personagem por sua
identidade perdida no conflito. Dirigido com rara inspiração por Christian
Petzold (Barbara), o longa se distancia por completo da previsibilidade ao se
aprofundar nas consequências deste tenebroso período, construindo com
assombrosa frieza uma dolorosa história de amor e descobertas. Por falar em
grandes filmes sobre o pós-guerra, seria um pecado não citar o clássico Hiroshima
Meu Amor (1959), uma obra aclamada por nomes do quilate de Jean-Luc Godard
e François Truffaut, o que a transformou num dos pilares do expressivo
movimento da Novelle Vague.
- Filhos da Guerra (1990)
Inspirado na incrível história real do judeu Solomon Perel, Filhos da
Guerra é um daqueles relatos impressionantes que de tão improváveis podem até
parecer mentirosos. Mas não são. Conduzido com um extraordinário senso de
plenitude pela polonesa Agnieszka Holland (O Jardim Secreto), o longa estrelado
pelo carismático Marco Hofschneider (Minha Amada Imortal) investiga as nuances
de um confronto como a Segunda Guerra Mundial sob um ponto de vista completo e
original. Na trama, seguimos os passos de um jovem judeu alemão que, após ser
salvo e educado num campo de órfãos soviéticos, se vê obrigado a omitir as suas
origens no momento em que é capturado pelo exército nazista. Acuado, Solomon
utiliza o seu alemão para convencer os militares que é um ariano e se torna um
herói de guerra ao desvendar o esconderijo de um grupo de soviéticos. Com uma
premissa naturalmente envolvente em mãos, Holland é sutil ao mostrar a
influência dos dois exércitos sobre os mais jovens e a lavagem cerebral imposta
por socialistas e nazistas. E por falar no impacto da guerra na formação de uma
criança\adolescente, precisamos lembrar também do excelente Esperança e
Glória (1987), um filme de guerra que cativa ao revelar as mazelas do
conflito sob um prisma genuinamente infantil.
- O Trem (1964)
Numa época em que para se tirar uma grande produção do papel era
necessário um árduo trabalho cênico, engenhosidade técnica e uma considerável
dose de coragem, John Frankenheimer testou os limites da velha Hollywood no
grandioso O Trem (1964). Convocado às pressas para substituir o antigo
comandante do longa, o importante Arthur Penn (Bonnie e Clyde: Uma Rajada de
Balas), o diretor norte-americano resolveu fazer do seu jeito, exigiu o corte
final do filme, um novo roteiro, um orçamento dobrado, o seu nome no título
original e uma Ferrari como pagamento. Mesmo diante dos inúmeros obstáculos, as
locações na Normandia logo se tornaram um agente complicador, Frankenheimer
resolveu prezar pelo realismo, pelo virtuosismo estético e pela imponência da
ação ao construir um épico de guerra de proporções ainda hoje espantosas.
Fazendo um magnífico uso dos elementos práticos, entre eles as gigantescas
locomotivas e os velozes caças, o realizador nos brinda com sequências de tirar
o fôlego, capturadas com brilhantismo através dos seus expressivos
enquadramentos e dos seus inventivos takes aéreos. Por trás de tamanho
preciosismo técnico, porém, existe uma trama sólida e contundente, uma jornada
de obsessão e dor protagonizada pelos excelentes Burt Lancaster e Paul
Scofield.
- A Espiã (2006)
Um dos trabalhos mais subestimados do cultuado diretor Paul Verhoeven, A
Espiã é um hipnotizante thriler de espionagem. Indo do drama ao suspense com
enorme desenvoltura, o diretor holandês esbanja a sua reconhecida autoralidade
ao investigar o impacto da guerra sob um prisma denso, íntimo e naturalmente
tenso. No embalo da primorosa performance da bela Carice van Houten, que, ao
seu estilo, cria uma figura moderna e sensual, uma mulher devastada pela guerra
que encontra uma oportunidade de se vingar. Na pele de uma judia traída salva por
um grupo de resistência, Van Houten mostra um invejável magnetismo ao realçar a
degradação, a resiliência e a ascensão da sua incrível personagem. Somado a
isso, Verhoeven brilha ao explorar a questão da espionagem, investindo em
personagens tridimensionais e arcos totalmente imprevisíveis. Em suma, um
herdeiro relevante do clássico Mata Hari (1931), A Espiã é uma película
expressiva e tecnicamente memorável que instiga ao mostrar a Segunda Guerra
dentro de um contexto pessoal e extremamente realístico.
- Os Falsários (2007)
Por falar em filmes originais sobre a Segunda Guerra Mundial, Os
Falsários é uma daquelas incríveis histórias reais custaram a ganhar
notoriedade. Inspirado no livro de memórias The Devil's Workshop: A Memoir of
the Nazi Counterfeiting Operation, de Adolf Burger, o longa dirigido por Stefan
Ruzowitzky surpreende ao jogar uma luz sobre a
"Operação Bernhard", um núcleo nazista que usava artistas
judeus para falsificar libras e dólares. Na trama seguimos os passos de Salomon
Smolianoff (Karl Markovics), um falsificador de obras de arte judeu que, após
ser raptado pelos alemães, foi escolhido para liderar este decisivo grupo.
Tratados com maior "comodidade" pelos oficiais nazistas, os
prisioneiros inicialmente deixam se levar pelo tratamento diferenciado, mas
logo percebem que o seu trabalho poderia ajudar a Alemanha a ganhar a guerra.
Indo do drama ao suspense com vigor e bom senso, Smolianoff consegue não só
investigar a improvável rotina deste seleto grupo de judeus em pleno holocausto,
como também dialogar com os antigos filmes de sabotagem ao reproduzir a maneira
que eles encontraram para lutar esta violenta guerra, nos brindando com um
relato completo e singular sobre um aspecto do conflito que pouca gente tinha
ouvido falar até então.
- Os Deuses Vencidos
(1958)
Por fim um dos clássicos mais subestimados do gênero, Os Deuses Vencidos
foi talvez um dos primeiros longas do gênero ao tratar um oficial nazista de
maneira indiscutivelmente humana. Disposto a mostrar a 2ª Guerra sob o prisma
mais amplo possível, o diretor Edward Dmytryk fugiu do lugar comum ao investir
em três arcos bem específicos. Com um enorme senso de simultaneidade, o
realizador aposta na multidimensionalidade ao se debruçar sobre o tema seguindo
os passos de um idealista soldado alemão (Marlon Brando), um militar judeu
perseguido por sua origem (Montgomery Clift) e uma americano galanteador que
faz de tudo para não fazer parte da linha de frente (Dean Martin). Indo de
encontro ao teor heroico frequentemente explorado na época, Dmytryk investiu
num relevante viés crítico e pacifista, convidando o espectador para uma
reflexão astuta acerca da trajetória dos três protagonistas. Sem nunca
ficcionalizar os fatos, ele consegue não só realçar a manipulação da informação
e a desilusão de um oficial nazista diante da dilacerante realidade que o
esperava, como também acabar com o clichê que os EUA eram a terra da liberdade
onde todos eram tratados de maneira igual. Com uma inesperada contundência,
inclusive, o canadense coloca o dedo na ferida ao retratar o preconceito de
parte dos americanos, mostrando que – guardada as evidentes proporções - não
era só na Alemanha que os judeus eram perseguidos. Assim como a maioria dos
filmes citados na lista, aliás, Deuses Vencidos se revela também uma obra
tecnicamente majestosa, com direito a uma expressiva direção de arte, uma
imponente fotografia e uma condução intimista que em nenhum momento sucumbe
diante das envolventes 2 h e 47 min de película. Um completo relato sobre a 2ª
Guerra.
4 comentários:
...só um detalhe sobre o numero 1. No filme a cor aparece em 8 objetos e não cenas, 4 são fáceis e os outros 4 difíceis de se enxergar. Preste atenção deste uma vela acesa aos tons azulados de uma fumaça de fosforo... a cor enfatizar a cena (tendo em vista que o filme é preto e branco não para emular uma época mas sim pra emular os sonhos humanos) trazendo ela do sonho para a realidade. Descobri essa ideia do P/B ao observar que a imagem está em P/B mas não foi aplicado nenhum filtro de sefia ou parecido as imagens.
Interessante interpretação. Uma sacada de gênio do Spielberg que abre espaço para essas interpretações. Só citei a cena da garotinha porque ela é memorável. Mas você tem razão.
Sem dúvida excelente top do filmes. Dunkirk tem uma historia muito interessante, acho que sem dúvida o êxito de Dunkirk se deve ao grande roteiro que tem este filme, pois é extraordinário e consegue nos comover. é um dos melhores filmes de guerra Chirstopher Nolan é responsável do um excelente filme com bons efeitos especiais, o que não me surpreende, pois em outras ocasiões já demonstrou ser um dos melhores de todo Hollywood, espero ansiosamente seu próximo projeto.
E o bom disto tudo, é que você reconduz a gente a ver de novo.
Cada filme cresce e se ilumina ainda mais.
Viva!
spiritualsdoovalho.blogspot.com
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