Um dos mais populares astros do cinema de ação, o carismático Arnold
Schwarzenegger chegou aos 70 anos. Com uma carreira recheada de passos
inusitados, o astro de Conan: O Bárbaro (1982) entrou em Hollywood pela porta
dos fundos. Antes de encarnar este imponente guerreiro, o ator nascido na
Áustria ficou conhecido pela sua enorme presença física, o que lhe rendeu o
título de Mr. Olympia por sete vezes. Conhecido no universo do fisiculturismo,
Schwarzenegger usou a "força" para conquistar o seu primeiro papel na
ficção, o mitológico filho de Zeus no tosco Hércules em Nova Iorque (1970).
Inicialmente preso a este rótulo, Schwarzenegger teve que trabalhar duro para
conquistar o seu espaço dentro da indústria. Com um sotaque fortíssimo e uma
performance extremamente artificial, o ator só foi mostrar o primeiro traço de talento na comédia-dramática O Guarda-Costas (1976). Embora
novamente na pele de um personagem fisiculturista, o aniversariante do dia
desta vez mostrou talento, tanto que foi premiado com o Globo de Ouro de Melhor
Atuação num Filme de Estreia. O que mostra o quão bizarro e esquecido foi Hércules em Nova
Iorque. Nos anos seguintes Schwarzenegger seguiu aprimorando a sua atuação,
sendo contemplado com o primeiro grande papel de sua carreira, o popular guerreiro
bárbaro em Conan (1982) e na sequência Conan: O Destruidor (1984).
Após emplacar o seu primeiro sucesso de público, Arnold Schwarzenegger
foi enfim "descoberto" por um dos realizadores mais ascendentes em
Hollywood. Sob a batuta de James Cameron, o ator encarnou o papel mais popular
da sua carreira no cultuado O Exterminador do Futuro (1984). Na pele de um
caçador assassino, Arnold escreveu o seu nome na cultura pop após o segundo
lançamento da franquia, o fantástico O Exterminador do Futuro 2 (1991). O que
mais chama a atenção na trajetória de Schwarzenegger, no entanto, foi a sua
indiscutível evolução enquanto ator. Ao longo de cinco décadas, o astro de
títulos como O Predador (1987), Um Tira no Jardim de Infância (1991), Queima de
Arquivo (1996) e do recente Rota de Fuga (2013) buscou sempre o aprimoramento,
o amadurecimento do seu cinema, conseguindo superar as suas evidentes
limitações ao nos brindar com personagens carismáticos, performances dedicadas
e produções dos mais variados gêneros. Na verdade, Schwarzenegger foi a
primeira grande estrela do cinema de ação a rir de si mesmo, ao encontrar
"vida" fora do cinema de ação, o que fica bem claro em títulos como
Irmãos Gêmeos (1987), Junior (1994) e Um Herói de Brinquedo (1996). Para
celebrar os setenta anos deste querido astro hollywoodiano, neste
Cinco Filmes iremos listar os (subestimados) trabalhos que transformaram Arnold
Schwarzenegger no rosto mais autoral do popular cinema de ação oitentista.
- O Sobrevivente (1987)
E já começo com o cult O Sobrevivente, um dos filmes mais singulares da
carreira de Arnold Schwarzenneger. Com uma proposta à frente do seu tempo, o
distópico longa dirigido por Paul Michael Glaser avança para um futuro em que
os reality shows, hoje tão populares, eram realmente adorados pelos
espectadores. No cenário totalitário proposto pelo longa, entretanto, ao invés
das intrigas, do show de talentos e dos relacionamentos amoroso, o foco estava
na violência, um verdadeiro jogo de vida ou morte. Na trama, o
"governator" vive um homem condenado por um crime que não cometeu
obrigado a participar de um reality mortal, uma espécie excêntrica de Jogos
Vorazes. Com uma premissa realmente particular, personagens totalmente exóticos
e inventivas sequências de ação, O Sobrevivente surge como uma inusitada e
premonitória crítica à espetacularização da violência, à faceta mais
alienatória da televisão, um filme audacioso que ainda merece uma chance. Após
brilhar no mesmo ano com o popular O Predador (1987), Schwarzenneger cria mais
um dos seus heróis carismáticos e corpulentos, um protagonista imponente capaz
de "roubar a cena" no bizarro reality show proposto pelo longa. Como
a maioria das visionárias produções, no entanto, O Sobrevivente não foi
tão bem recebido pelo público e faturou regulares US$ 38 milhões nos EUA. Um valor até interessante, mas frustrante perto do elevado custo de produção,
cerca de US$ 27 milhões. Curiosamente, aliás, o filme se passa no ano de 2017,
uma visão de futuro que, guardada as devidas proporções, não se distancia tanto
da nossa realidade cultural na atualidade.
- O Vingador do Futuro (1990)
Da ácida mente do criativo Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro
foi a ficção-científica da minha infância. Apesar do conteúdo adulto, o longa
se tornou popular junto a garotada da década de 1990, principalmente por seu
visual fantástico, pelos exóticos personagens e pela presença do astro Arnold
Schwarzenegger. Inspirado no livro "We Can Remember It for You
Wholesale", do escritor Philip K. Dick, o filme deixou as questões sobre a
memória e o simulacro presentes no texto original em segundo plano para
construir um empolgante duelo de classes entre os rebeldes deformados e os
humanos colonizadores. Como de costume em sua filmografia, Verhoeven volta a
sua mira para as grandes corporações e entrega uma ficção-científica crítica e
inegavelmente divertida. Na pele de um homem comum envolvido numa grande
conspiração, Schwarzenegger esbanja o seu reconhecido carisma ao interpretar o
indomável Douglas Quaid, um herói errático e inseguro quanto ao seu passado que
decide ir ao planeta Marte para encontrar as respostas em torno da sua
verdadeira identidade. Com sequências de ação memoráveis, impactantes efeitos
práticos e uma inusitada direção de arte, Verhoeven empolga ao mostrar a sua
particular visão de futuro, nos brindando com o segundo grande hit 'cult' da
carreira de Schwarzenegger. Diferente de O Sobrevivente, no entanto, O Vingador
do Futuro faturou expressivos US$ 261 milhões ao redor do mundo, premiando a
ousadia dos envolvidos neste memorável projeto. Em pensar que, duas décadas
mais tarde, este vigoroso Sci-Fi de ação ganhou um remake sem sal dirigido por
Len Wiseman.
- O Último Grande Herói
(1993)
"Ser ou não ser? Não ser!" |
O que falar de um blockbuster com referências aos clássicos O Sétimo
Selo (1957), O Poderoso Chefão (1972), Monthy Phyton Em Busca do Cálice Sagrado
(1974) e Amadeus (1984)? Uma verdadeira ode ao cinema de ação oitentista, O
Último Grande Herói é talvez o filme mais incompreendido da carreira de Arnold
Schwarzenegger. Recebido com desdém pelo público e pela crítica, a inteligente
aventura dirigida por John McTiernan (Duro de Matar) usa e abusa da
metalinguagem ao brincar com os clichês deste popular gênero. Misturando
realidade e ficção com enorme inspiração, o roteiro assinado pelo inventivo
Shane Black (Beijos e Tiros, Máquina Mortífera, Dois Caras Legais) arranca
sucessivas risadas ao acompanhar as desventuras de um adolescente cinéfilo que,
num passe de mágica, se vê dentro do seu filme predileto, uma franquia de ação
protagonizada pelo letal Jack Slater (Schwarzenegger). Um prato cheio para os
fãs do cinema oitenista, O Último Grande Herói empolga ao nos brindar com uma
série de referências à titulos do quilate de E.T: O Extraterrestre, Duro De
Matar, O Exterminador do Futuro 2, Uma Cilada para Roger Rabbit entre muitos
outros. No melhor estilo 'buddy cop movie', McTiernan é sagaz ao rir do gênero
que o consagrou, apontando a sua irreverente mira para o lado mais absurdo do
cinema de ação. Por mais que o humor familiar renda algumas (poucas) piadas bem
bobas, o realizador é criativo ao escancarar não só os excessos do cinema de
ação, entre eles a invulnerabilidade do protagonista, o ilimitado número de
balas e o uso recorrente das explosões, como também ao questionar os lugares
comuns da própria indústria, entre eles a banalização da violência e as
limitações impostas pela classificação etária, o que torna o longa uma
experiência irresistível para os fãs do segmento. Nem só de fantasia, porém,
vive O Último Grande Herói. Impulsionado pela carismática presença de espírito
do astro Arnold Schwarzenegger, McTiernan surpreende ao fazer um uso mais
ousado da metalinguagem dentro do último ato, se insurgindo contra os críticos
ao mostrar que a violência é bem mais cruel no mundo real. Contando ainda com
empolgantes sequências de ação e inúmeras aparições especiais, O Último Grande
Herói é, em sua mais pura essência, uma verdadeira homenagem ao
fantástico\escapista mundo do cinema. O Cinema Paradiso (1988) do universo
blockbuster.
- True Lies (1994)
Remake do hit francês La Totale! (1991), True Lies está entre um dos
meus filmes de ação prediletos. E os motivos são bem claros. Com Arnold
Schwarzenegger no auge da sua forma, o longa dirigido pelo "midas"
James Cameron trouxe o humor para os filmes de espionagem numa película que não
peca pela omissão. Reconhecido pelo seu virtuosismo técnico, o realizador
norte-americano apostou numa mistura perfeita, investindo numa obra recheada de
diálogos engraçadíssimos, personagens magnéticos e imponentes sequências de
ação. Fazendo um inspirado uso do escapismo, Cameron elevou o nível da
brincadeira ao colocar Schwarzenegger nas situações mais absurdas possíveis. No
melhor estilo "exército de um homem só", ele persegue os "caras
maus" na neve, a cavalo e até mesmo pilotando um caça. Nem só de
"tiro, porrada e bomba", porém, vive True Lies. Com um roteiro
irreverente e indiscutivelmente sólido, o longa narra as desventuras de Harry
Tasker, um agente do governo que reluta em revelar a sua verdadeira profissão
para a família. Tudo muda, no entanto, quando ele desconfia que a Helen, a
esposa interpretada pela excelente Jamie Lee Curtis, estava insatisfeita com o
rumo do seu casamento. Disposto a aquecer a sua relação matrimonial, Harry
decide envolve-la numa fictícia missão, sem saber que um perigoso terrorista estava
prestes a tornar este caso mais real do que eles esperavam. Impulsionado pela
extraordinária química de Schwarzenegger e Curtis, James Cameron resolveu
apostar numa premissa irreverente e descompromissada, um filme de ação capaz de
rir de si mesmo. Recheado de impagáveis
(e mentirosas) sequências, True Lies conquistou o público e a crítica ao se
revelar uma obra envolvente e recheada de divertidas reviravoltas. Com
orçamento de US$ 115 milhões, o longa faturou ótimos US$ 378 milhões ao redor
do mundo, comprovando a força da parceira James Cameron\Arnold Schwarzenegger.
- O Último Desafio (2013)
Talvez o filme mais subestimado da carreira de Arnold Schwarzenegger, O
Último Desafio é um blockbuster de ação com a cara dos anos oitenta. Sob a
batuta estilizada do diretor sul-coreano Jee-woon Kim, o longa resgatou a
imagem 'badass' do velho Terminator ao narrar a jornada de um xerife linha dura
que se torna o último "obstáculo" na fuga de um perigoso traficante.
E que obstáculo. Embora narrativamente o longa não soe tão inovador, Kim mostra
criatividade ao reciclar velhos arquétipos, criando um filme de ação
irreverente, despretensioso e estupidamente divertido. Impulsionado pela
vibrante fotografia ensolarada de Ji-yong Kim, o diretor asiático esbanja
categoria ao compor os empolgantes
momentos mais frenéticos, preenchendo a trama com intensas cenas de
ação, ágeis sequências de perseguição e um clímax recheado de absurdas
situações. Não se engane, porém, com o aparente tom escapista do filme. Com a
coragem necessária para "ferir" os seus personagens, Kim foge do
lugar comum ao encontrar também pequenas brechas para o drama, impedindo que o
longa se torne apenas mais um genérico representante do gênero. Na verdade, o diretor
é perspicaz ao estreitar o vínculo entre o público e os protagonistas, ao
permitir que sintamos a dor deles, preparando o terreno para que o bom e velho
Arnold salve o dia de maneira espetacular. Em suma, com uma direção
tecnicamente impactante, um eclético elenco de apoio (Rodrigo Santoro é um
coadjuvante de respeito) e um roteiro eficaz, O Último Desafio é um filme de
ação à moda antiga com um visual inegavelmente moderno.
Menção Honrosa
- Maggie: A Transformação (2015)
No meio de uma epidemia zumbi, um pai (Arnold Schwarzenegger) tenta
proteger a sua filha infectada (Abigail Breslin) enquanto precisa lidar com os
perigos em torno da sua iminente transformação. Com base nesta promissora
premissa, Maggie: A Transformação oscila ao se revelar um drama 'indie' com
mania de grandeza. Responsável pelo design de produção de títulos como
Histórias Cruzadas e Se Beber Não Case: Parte II, o novato Henry Hobson pesa a
mão ao extrair as emoções por trás desta instigante história, exibindo um
injustificável pretensiosismo estético ao tentar "mostrar serviço"
numa obra que só precisava ser intimista. No momento em que deixa as intrusivas
firulas técnicas de lado, entretanto, o jovem realizador consegue criar
momentos genuinamente satisfatórios, tirando um bom proveito da química dos
protagonistas ao transitar com habilidade pelo drama e pelo suspense. O
resultado é um filme de zumbi pouco convencional, com uma mitologia própria,
uma atmosfera angustiante, mas executado de maneira frustrante. Uma pena já que
é bem interessante ver Schwarzenegger no tipo mais dramático da sua vasta
filmografia. Leia a nossa crítica completa.
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