terça-feira, 16 de maio de 2017

Top 10 (Ridley Scott)


De volta ao universo que o lançou em Hollywood, o inglês Ridley Scott soube explorar o dispositivo cinema em sua máxima potência. Dono de uma versatilidade ímpar, que será justificada na lista abaixo, o diretor estreou no Sci-Fi, mas não demorou muito para experimentar novos gêneros, entre eles a fantasia, a ação, o drama, o épico e até mesmo o romance. Hoje com 79 anos, Scott segue arriscando, vide o surpreendente Perdido em Marte (2015), e após o subestimado Prometheus (2012) volta à franquia Alien (leia a nossa crítica aqui) com a missão de resgata-la junto ao grande público. De volta às origens, o experiente realizador resolveu apostar novamente no clima de suspense, na atmosfera imersiva do clássico de 1979, mostrando fôlego de jovem ao construir um filme que se garante no seu apuro estético. Uma obra que, entre erros e acertos, mostra a assinatura desta legenda chamada Ridley Scott. Neste Top 10, portanto, vamos celebrar a carreira deste grande diretor e reunir dez dos melhores filmes da sua aclamada filmografia. Dito isso, começamos com... 


10º Um Bom Ano (2006)


E para abrir esta lista um romance com uma pitada de comédia. Um excelente 'feel good movie', Um Bom Ano é uma filme apaixonante. Como se não bastasse o bucólico e ensolarado cenário francês, valorizado pela radiante fotografia de Philippe Le Sourd (Sete Vidas), o longa estrelado por Russel Crowe e Marion Cotillard cativa ao narrar a trajetória de um 'workaholic' que reencontra o amor ao voltar para a velha fazenda do seu querido tio. Indo além do romance propriamente dito, Ridley Scott é habilidoso ao explorar as questões afetivas do protagonista, a sua relação com o tio (Albert Finney) e com o passado, preenchendo a trama com reflexões sobre o modo de vida urbano. Além disso, Crowe e Cottilard mostram uma excelente química em cena, tornando o romance entre os dois naturalmente atraente aos olhos do público. Em suma, Um Bom Ano é um filme charmoso que, embora não seja propriamente inovador, ganha um inegável frescor graças à condução refinada de Ridley Scott.

9º A Lenda (1985)


Fazendo um primoroso uso dos recursos práticos, A Lenda é uma Fantasia à moda antiga. Após escrever o seu nome no cinema Sci-Fi com os memoráveis Alien: O Oitavo Passageiro (1978) e Blade Runner (1982), Ridley Scott resolveu mostrar o seu reconhecido repertório ao encarar este verdadeiro clássico da década de 1980. No rastro de filmes como Krull (1983) e História sem Fim (1984), o realizador inglês tirou do papel uma obra ainda hoje impactante, um conto de fadas lúdico, visualmente expressivo e inesperadamente assustador. Narrativamente simples, o longa é sagaz ao transitar sobre temas mais adultos, preenchendo esta mágica aventura com questões envolvendo a infidelidade, a perda da inocência e a ganância. Por mais que o primeiro ato custe a engrenar, Scott enche a tela de energia no momento em que a trama abraça o universo fantástico, introduzindo cativantes personagens de apoio, um imponente vilão e um magnífico trabalho da equipe de maquiagem.


Limitado pela precariedade dos efeitos digitais da época, Scott investe pesado na construção de mundo, na exuberância da direção de arte, embalando a trama com cenários ricos, sombrios e naturalmente aventurescos. Além disso, Scott tira o máximo do seu talentoso elenco, dando ao inexperiente Tom Cruise a possibilidade de se destacar na pele do selvagem Jack e ao magnético Tim Curry à chance de exibir a sua faceta mais afetada como o antagonista Senhor das Trevas. Contando ainda com a colorida fotografia de Alex Thompson, impecável ao realçar a aura mais sombria da trama, A Lenda é um romance aventuresco e levemente 'creep' que envelheceu muitíssimo bem. Numa época em que O Senhor dos Anéis, Harry Potter e as Crônicas de Nárnia ainda nem sonhavam em chegar as telas grandes, A Lenda preencheu o imaginário dos fãs do gênero e abriu as portas para clássicos do porte de Labirinto (1986), A Princesa Prometida (1987) e Willow: Na Terra da Magia (1988).

8º Falcão Negro em Perigo (2001)


Impecável ao reproduzir o aspecto mais caótico dos grandes conflitos bélicos, Falcão Negro em Perigo mostra a guerra segundo Ridley Scott. Com uma câmera sempre nervosa, uma fotografia desconfortavelmente saturada e extraordinários efeitos visuais, o veterano realizador coloca o espectador no centro da ação ao acompanhar os desesperados passos de um grupo de militares americanos em solo somali. Sem a preocupação de estabelecer uma trama propriamente dita, Scott impacta ao reproduzir as desventuras dos soldados em solo inimigo, dividindo a película em pequenos arcos ao revelar a batalha sob diversos pontos de vistas. O resultado são duas e vinte de pura adrenalina, uma obra tensa potencializada pelas realísticas sequências de ação, pelo talentoso elenco, pelos imersivos efeitos sonoros e pela expansiva fotografia desértica de Slawomir Idziak (Gattaca). Um filme que poderia figurar facilmente na lista de melhores do gênero se não fosse o desleixo do roteiro quanto ao contexto do conflito e teor por vezes patriótico. Ainda assim, um excelente longa. 

7º Cruzada - Versão do Diretor (2005)


Talvez o último representante da velha Hollywood, vide a sua grandiosidade e o uso pontual do CGI, Cruzada é um épico com pedigree. Um dos poucos realizadores a retratar os históricos conflitos em torno da Palestina, Ridley Scott ampliou o escopo da película ao reproduzir a gigantesca batalha entre as cruzadas do sábio Rei Balian (Edward Norton) e as tropas do respeitado Saladino (Ghassan Massoud). Embora sob um prisma romantizado, o realizador inglês é cuidadoso ao revelar o aspecto mais complexo em torno do conflito, preenchendo a trama com personagens marcantes e diálogos expressivos. O frágil rei Balien, por exemplo, é uma figura incrível, um tipo doente que, quando necessário, se impõe em cena com rara contundência. Além disso, Scott preza pelos detalhes, pela excepcional direção de arte, traduzindo a realidade da época ao investir em personagens sujos e esteticamente deteriorados. Isso, obviamente, sem esquecer da magnífica fotografia de John Mathieson, irretocável ao capturar a imponência do conflito e as paisagens desérticas. Vale frisar, entretanto, que muito da qualidade narrativa da película se perdeu na versão lançada no cinema, um fato que, diga-se de passagem, não é novo na carreira de Ridley Scott. Portanto a melhor versão do filme é a do diretor.

6º Thelma e Louise (1991)


Daqui para frente só clássicos. Numa época em que a questão da igualdade feminina em Hollywood ainda era pouco discutida, Thelma e Louise surge como um dos relatos mais feministas da história do cinema. Estrelado pelas excelentes Susan Sarandon e Geena Davis, a libertadora película narra a trajetória de duas amigas donas de casa que, cansadas da rotina doméstica, decidem colocar o pé na estrada e mudar a sua rotina. No meio do caminho, entretanto, uma delas mata um caminhoneiro que havia tentado a violentar. Perseguidas pela policia, elas resolve iniciar uma fuga pelo interior dos EUA, expondo as incoerências por trás das suas respectivas situações. Com uma premissa audaciosa e um forte teor crítico, Ridley Scott nos brinda com duas personagens femininas impactantes, uma história envolvente e um contexto completamente atemporal, um belo relato sobre alguns dos inúmeros problemas enfrentados pelas mulheres na nossa sociedade. Além disso, como se não bastasse o sincero entrosamento entre Sarandon e Davis, Scott nos brinda com um desfecho corajoso, uma sequência final poderosa e realmente marcante.

5º O Gangster (2007)


Um dos últimos grandes filmes de máfia produzidos em Hollywood, O Gangster se revela um relato humano sobre a trajetória do criminoso Frank Lucas. Indo de encontro a maioria dos filmes do gênero, Ridley Scott se distancia do contexto ítalo-americano ao narrar a ascensão e a queda de um traficante negro. Sem precisar apelar para clichês e estereótipos raciais, o realizador é cuidadoso ao entender o passado do protagonista, a sua formação intelectual e o contexto em que estava inserido. Impulsionado pela estrondosa atuação de Denzel Washington, Scott realça a elegância do protagonista, a sua astúcia dentro de um ambiente naturalmente predatório, nos fazendo criar uma inusitada conexão com o personagem. Além disso, é interessante ver o cuidado do diretor ao explorar os contrastes envolvendo a relação entre o mafioso e o desleixado policial interpretado por Russel Crowe, um personagem com um forte senso de justiça e extremamente resiliente. O aspecto familiar, aliás, também é bem explorado em o Gangster, vide a marcante figura materna interpretada por Ruby Dee, o que só estreita a conexão com alguns dos maiores filmes do gênero.

4º Perdido em Marte (2015)


Esbanjando uma energia invejável e o seu reconhecido rigor técnico, Ridley Scott retorna em grande estilo à ficção científica no espirituoso Perdido em Marte. Um dos grandes idealizadores por trás dos sombrios Alien - O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner - O Caçador de Androides (1982), o realizador se reinventa ao universalizar o gênero que o consagrou, entregando um divertido Sci-Fi pop que em nenhum momento subestima a inteligência do espectador. Embalado por hits da Disco Music e pela soberba atuação de Matt Damon, Scott consegue valorizar o entretenimento sem abrir mão do pano de fundo científico, nos brindando com um longa intenso, realístico, inteligente e inesperadamente bem humorado. Uma aventura espacial autoral e visualmente magnífica, que aproveita com rara inspiração o vácuo aberto pelos recentes sucessos de Gravidade (2013) e Interestelar (2014). Na verdade, Ridley Scott mostra em Perdido em Marte que um velho mágico ainda pode guardar novos truques.

3º Alien: O Oitavo Passageiro (1979)


O primeiro grande sucesso da carreira de Ridley Scott, Alien: O Oitavo Passageiro é uma verdadeira pérola do Suspense\Terror\Sci-Fi. Fazendo um primoroso uso do expressivo cenário, da fotografia sombria de Derek Vanlint, o realizador nos brindou com uma obra naturalmente tensa, um filme esteticamente a frente do seu tempo que ainda hoje é referência para a maioria das produções do gênero. Recentemente, inclusive, tive a oportunidade de rever o filme num formato mais atual e o detalhismo da produção me impressionou. Impecável ao construir uma atmosfera completamente imersiva, Scott mostrou o seu reconhecido virtuosismo ao idealizar o design da produção, a concepção da nave Nostromo e das tecnologias "futuristas", criando um produto que parece teimar em não envelhecer. Somado a isso, Alien: O Oitavo Passageiro traz consigo uma premissa simples e instigante, um argumento recheado de suspense potencializado pela sua incrível protagonista, a indomável Ripley (Sigourney Weaver). Na verdade, a personagem se tornou um marco dentro do cinema de Ação\Horror, uma heroína 'bad-ass' que viria a estrelar uma das mais rentáveis e aclamadas franquias do gênero. Em suma, com efeitos visuais marcantes, um antagonista exemplar e um envolvente pano de fundo científico, Alien: O Oitavo Passageiro é uma obra completa, um longa tecnicamente requintado que ainda hoje é capaz de causar alguns bons arrepios.

2º Blade Runner (1982)


E o nosso segundo lugar é desta pérola da ficção-científica. Após nos presentear com o já citado Alien: O Oitavo Passageiro, Ridley Scott abraçou de vez a estética cyberpunk no instigante Blade Runner, um suspense distópico com elementos do cinema 'noir' sobre um detetive experiente que se vê obrigado a colocar fim na existência de um grupo de replicantes. Com um visual ainda hoje singular, uma estética 'over' e suja coerente com a proposta crítica do longa, Scott nos coloca numa Los Angeles futurista decadente, um ambiente moralmente corrompido marcado pela violência, pelo consumismo e pela poluição. Neste contexto, diante do iminente colapso, parte da população mundial foi buscar um novo padrão de vida em outros planetas, um processo de colonização que abriu espaço para o desenvolvimento dos ciborgues. Com um cenário instigante em mãos, Ridley Scott levanta não só uma série de questões sócio-políticas, entre elas a desigualdade imposta aos replicantes, a degradação ambiental e os interesses escusos das grandes corporações, como também se volta para os dilemas mais humanos, a maioria deles envolvendo a complexa relação entre o turrão Deckert (Harrison Ford) e os replicantes Rachel (Sean Young) e Roy Batty (Rutger Hauer). Sem querer revelar muito, o clímax de Blade Runner é uma das coisas mais belas que eu já assisti, uma sequência poética, profunda e comovente sobre os rumos da nossa existência. Inegavelmente, uma obra à frente do seu tempo, tanto que na época do lançamento o filme foi considerado um fracasso comercial. Hoje, porém, Blade Runner se tornou um clássico cult, uma película com um visual estupendo, diálogos primorosos, temas atuais e sequências excepcionais.

1º Gladiador (2000)


"Meu nome é Maximus Decimus Meridius, comandante dos exércitos do North, General das Legiões de Felix, um servo leal do verdadeiro imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada. E eu terei a minha vingança, nesta vida ou na próxima." Que frase, que cena! O Spartacus do novo milênio, Gladiador é um espetáculo que de tempos em brotam em Hollywood. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Filme, o longa estrelado por Russell Crowe reúne o melhor da filmografia de Ridley Scott. Fazendo um primoroso uso dos recursos digitais, o realizador elevou o nível da brincadeira ao recriar alguns dos mais icônicos monumentos históricos, entre eles o Coliseu, dando ao longa um cenário grandioso e extremamente realístico. Indo além das magníficas sequências de ação, Scott investe também numa história robusta, uma jornada de redenção envolvendo um ex-comandante obrigado a se tornar escravo após perder toda a sua família. Impulsionado pelas excelentes atuações do trio Russell Crowe, Joaquin Phoenix e Djimon Hounsou, Gladiador reinaugurou o gênero épico dentro do formato digital, se tornando o primeiro numa safra que teve O Senhor dos Anéis, Troia, Cruzada e o popular 300.

Menções Honrosas

- Os Vigaristas (2003)


Nicolas Cage e Sam Rockwell se unem nesta inteligente comédia sobre dois picaretas.

- Até o Limite da Honra (1997)


Demi Moore se despe do rótulo de 'sex-symbol' numa corajosa produção sobre uma mulher em busca de igualdade.

- Prometheus (2012)


Prometheus é um trabalho incompreendido. Embora a falta de acabamento do argumento seja nítida, vide as soluções estúpidas, o maniqueísmo de alguns dos personagens e o frouxo senso de conclusão, Ridley Scott arriscou ao se voltar para a origem da sua principal franquia. Além de ampliar a mitologia em torno da criação dos xenomorfos e a função dos engenheiros, o diretor conseguiu abrir espaço para alguns interessantes novos elementos, entre eles o dúbio androide David (Michael Fassbender) e a linha dura Meredith (Charlize Theron), trazendo para o centro da trama questões científicas e de cunho existencialista. Na verdade, ainda que o clima de tensão seja evidente, Scott substitui o terror espacial pelo Sci-Fi, investindo numa obra pretensiosa, mas que ousa na tentativa de oferecer algo novo. E isso sem esquecer repetir os maiores acertos da franquia, entre eles a imersiva atmosfera espacial, os espetaculares efeitos visuais e uma resiliente protagonista feminina (Noomi Rapace). Óbvio que, a critério de comparação, Prometheus fica distante das obras primas Alien: O Oitavo Passageiro e Aliens: O Resgate. Num todo, porém, eu ainda acho que a prequel tem mais a oferecer do que títulos como Alien 3 e Alien: A Ressurreição.

Nenhum comentário: