sexta-feira, 17 de março de 2017

Maggie: A Transformação

Uma premissa original subaproveitada num drama com mania de grandeza

No meio de uma epidemia zumbi, um pai (Arnold Schwarzenegger) tenta proteger a sua filha infectada (Abigail Breslin) enquanto precisa lidar com os perigos em torno da sua iminente transformação. Com base nesta promissora premissa, Maggie: A Transformação oscila ao se revelar um drama 'indie' com mania de grandeza. Responsável pelo design de produção de títulos como Histórias Cruzadas e Se Beber Não Case: Parte II, o novato Henry Hobson pesa a mão ao extrair as emoções por trás desta instigante história, exibindo um injustificável pretensiosismo estético ao tentar "mostrar serviço" numa obra que só precisava ser intimista. No momento em que deixa as intrusivas firulas técnicas de lado, entretanto, o jovem realizador consegue criar momentos genuinamente satisfatórios, tirando um bom proveito da química dos protagonistas ao transitar com habilidade pelo drama e pelo suspense. O resultado é um filme de zumbi pouco convencional, com uma mitologia própria, uma atmosfera angustiante, mas executado de maneira frustrante.



Com uma incômoda câmera na mão e uma profusão de enquadramentos fechados, Henry Robson falha ao tentar criar um inexistente senso de urgência durante o arrastado primeiro ato. Embora o roteiro assinado por John Scott indicasse um caminho mais comedido e pessoal, o jovem realizador tropeça nas suas próprias pretensões ao tentar extrair a tensão a qualquer custo. Através de cortes rápidos e movimentos de câmera desconfortáveis, ele investe em planos inadvertidamente picotados, alguns deles até elaborados, mas que pouco acrescentam ao desenvolvimento do longa. Na verdade, ao invés de se preocupar com a construção narrativa dos personagens, Robson se esforça demais para traduzir visualmente os seus confusos sentimentos. O problema, por exemplo, não está na maneira com que ele captura a expressão entristecida dos atores, os seus gestos mais reveladores e os indícios de destruição. Mas na forma como ele perde tempo direcionando a sua mira para coisas irrelevantes, como o motor de um carro, uma colcha sendo esticada ou uma caixa de ferramentas abertas. Em alguns momentos, inclusive, estas cenas são tão rápidas que se tornam incompreensíveis aos olhos do público. Menos mal que, mesmo nestes momentos mais banais, a competente direção de arte oferece ao diretor o que filmar, permitindo que o público se sinta inserido nesta realidade naturalmente devastada. 


Na transição do primeiro para o segundo ato, porém, Henry Robson resolve abraçar soluções estéticas mais suaves, encontrando o tom ao investigar os espinhosos conflitos por trás desta relação paternal. Impulsionado pelo crível trabalho da equipe de maquiagem, o processo de deterioração de Maggie (Breslin) é habilmente conduzido, assim como os dilemas morais em torno da sua perigosa transformação. Sob um ponto de vista bem mais intimista, o realizador "sossega" ao construir as sensíveis sequências dramáticas, confiando no talento dos protagonistas ao extrair o misto de cumplicidade, devoção e insegurança em torno desta relação. Por mais que o argumento peque ao não se aprofundar no passado dos personagens, Robson eleva o nível da película ao estreitar a conexão entre os dois, nos brindando com pelo menos três cenas de ótimo nível. Em uma delas, ao finalmente perceber o destino da sua filha, o carismático Arnold Schwarzenegger mostra uma inexplorada veia dramática numa das raras sequências comoventes do longa. Em contrapartida, o realizador peca pela falta de coragem ao traduzir o aspecto mais 'gore' por trás da mutação zumbi. Na hora de fazer jus ao gênero que está inserido, Robson prefere virar a câmera, sair pela tangente, se escorando sempre em soluções mais fáceis. Vide o ponto alto do clímax, uma cena recheada de sentimento que só é possibilitada graças a uma conveniente "desatenção" do protagonista. Somado a isso, o roteiro derrapa quando o assunto são os rasos coadjuvantes, que, de maneira descuidada, preenchem parcialmente as inúmeras brechas do roteiro quase sempre pendendo para as subaproveitadas questões mais afetivas.


Longe de ser uma bomba, Contágio: Epidemia Mortal tem os seus predicados, mas os desperdiça numa obra pretensiosa que não consegue explorar a originalidade da sua própria história. Por mais que a desesperançosa fotografia em tons pastéis de Lukas Ettlin e os entrosados protagonistas compensem alguns dos excessos, Henry Robson vacila ao priorizar as firulas estéticas, a embalagem em detrimento do conteúdo, esvaziando o teor melancólico ao abraçar tardiamente o potencial intimista da premissa.

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