Antes de qualquer coisa, eu preciso confessar que sou fã do carismático Simon Pegg. Reconhecido pela sua versatilidade e pelo afiado senso de humor, este britânico alcançou o estrelato se mostrando capaz de brilhar em diversificados projetos, seja numa ácida sátira de horror (Todo Mundo Quase Morto), seja numa poderosa franquia de ação (Missão: Impossível – Nação Secreta), seja numa cultuada aventura Sci-Fi (Star Trek: Sem Fronteiras) ou até mesmo numa despretensiosa comédia romântica. Como podemos perceber no revigorante (Des)Encontro Perfeito (2015), uma daquelas raras e gratificantes surpresas que vez ou outra passam despercebidas pelo radar do grande público. Dirigido por Ben Palmer (The Inbetweeners: O Filme), o longa brinca com alguns dos mais adocicados clichês do gênero ao acompanhar o desastrado primeiro encontro entre duas figuras completamente opostas. Com um texto ágil e perspicaz em mãos, o realizador surpreende ao tecer alguns irônicos comentários sobre a dinâmica dos relacionamentos atuais, criando um contexto no mínimo curioso para o entrosado casal interpretado pela dupla Simon Pegg e Lake Bell.
Com humor tipicamente britânico, o argumento assinado por Tess Morris
foge do lugar comum ao explorar os contrastes sentimentais envolvendo o casal
de protagonistas. Apesar da vocação romântica, o roteiro é inteligente ao
explorar a inabilidade dos dois no que diz respeito aos relacionamentos
amorosos, presenteando o público com alguns inspirados diálogos. Sem querer
revelar muito, a metáfora cinematográfica envolvendo o apetite sexual dos
casais atuais é brilhante, uma sacada hilária e realmente sagaz. Na trama,
abalada pelos seus últimos casos de amor, a cínica Nancy (Bell) não parecia
mais disposta a iniciar novas relações. Durante a viagem para a celebração do
aniversário de casamento dos seus queridos pais, ela conhece a jovem Jessica
(Ophelia Lovibond), uma garota determinada que se dirigia para Londres para ter
um encontro a cegas. Ao chegar lá, no entanto, Nancy é confundida pelo simpático
Jack (Pegg), um quarentão aparentemente confiante que estava lá para conhecer
Jéssica. Numa solução pouco comum, ela resolve dar uma chance para o novo par e
passa a assumir a identidade da sua parceira de viagem. Inicialmente atraída
por ele, Nancy logo percebe que se meteu numa grande furada, principalmente
quando um velho conhecido surge para tentar atrapalhar os seus planos e a
promissora relação com Jack.
Mesmo sem abrir mão dos clichês românticos, (Des)Encontro Amoroso cativa
ao reproduzir com frescor os conflitos deste divertido casal. No melhor estilo
"os opostos de atraem", o argumento esbanja ironia ao arquitetar a
incompatível relação entre uma solteirona atrapalhada e um sentimental homem de
meia idade. Não se engane, porém, com a aparente previsibilidade da trama. Numa
sacada interessante, Ben Palmer opta por maquiar estas características
inicialmente, simulando a dinâmica de um primeiro encontro ao esconder as
principais falhas e fragilidades dos personagens. Ao longo do primeiro ato, inclusive,
é possível perceber a proposital superficialidade no diálogo entre os dois, a
carência de verdade, a idealização, elementos que vão sendo descortinados à
medida que a sinceridade adentra esta relação. Na verdade, ainda que o estopim para esta
virada seja um tanto quanto conveniente, a partir do segundo ato o argumento
cresce em ironia e substância. Palmer é habilidoso ao introduzir os conflitos
mais íntimos de Nancy e Jack, que pontuam a trama de maneira gradativa e
naturalmente engraçada. É a partir destas diferenças sentimentais, aliás, que o
realizador realça a crescente cumplicidade entre os dois, tornando crível o
início desta inusitada história de amor. Méritos que, logicamente, precisam ser
divididos com Simon Pegg e Lake Bell. Como se não bastasse a invejável química
da dupla, o casal de protagonistas transita pelas nuances dos seus personagens
com enorme naturalidade, em alguns momentos com acidez, absorvendo com
irreverência dilemas completamente universais.
Contando ainda com um clímax positivamente açucarado, um desfecho
apoteótico à altura das principais produções do gênero, (Des)Encontro Perfeito
é uma película verborrágica que surpreende por sua energia, leveza e
inteligência. Sem ter vergonha da sua essência romantizada, o longa revitaliza
alguns clichês ao propor uma análise mais franca sobre as dificuldades em torno
da "vida a dois", criando uma criativa história de amor ao acompanhar
as discussões entre um romântico de carteirinha desiludido e uma mulher
pragmática ressentida pelas suas últimas experiências amorosas.
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