Uma apaixonante ode a
música clássica, O Concerto cativa ao narrar a instigante jornada de um maestro
em busca de redenção. Dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, do aclamado O Trem
da Vida (1998), o longa investe numa premissa nada convencional ao evidenciar o
poder da música erudita. Abraçando a comédia e o drama com absurda categoria,
esta adorável película vai bem além dos hipnotizantes números musicais,
encontrando na versatilidade do elenco a categoria necessária para dar sentido
a irreverência do argumento. Uma obra que, apesar do pano de fundo sério e
emotivo, se esquiva dos melodramas ao apostar numa narrativa curiosamente
rocambolesca, em personagens bem humorados e no virtuosismo musical.
Com roteiro assinado pelo
próprio Radu, ao lado de Alain-Michel Blanc, O Concerto foge do lugar comum ao
aproximar a música clássica do grande público. Numa narrativa universal e absolutamente
audaciosa, o realizador romeno abraça os estereótipos ao construir uma premissa
humana e naturalmente emocionante, uma daquelas histórias que merece ser
conhecida. Na trama, após bater de frente com o Governo Soviético, o maestro
Andrei Filipov (Alexei Guskov) foi obrigado a abandonar o comando da Orquestra
Bolshoi de Moscou. Rebaixado ao posto de zelador, o músico passou trinta anos
sonhando com a oportunidade de reassumir as batutas. A chance da sua vida
aparece quando, durante uma faxina na sala do representante da companhia, ele
se depara com um fax convidando a orquestra para uma apresentação em Paris.
Ávido por esta chance,
Andrei resolve reunir a sua velha turma, montar a sua própria orquestra e partir para a França. Contando com a
ajuda do seu fiel amigo Sasha (Dmitriy Nazarov), o ex-maestro vê o seu projeto
ficar ameaçado quando percebe que os músicos não parecem tão interessados na
apresentação, mas sim na possibilidade desembarcar em solo francês. Afinal de
contas, a grande maioria passava por uma situação difícil dentro da Rússia. Com
o sucesso da sua investida em risco, Andrei decide chamar a talentosa solista
Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent) para integrar a sinfônica nesta
apresentação especial, buscando aparar através deste convite algumas arestas
envolvendo o seu passado soviético.
Por mais que a dinâmica
entre os russos possa soar caricatural em alguns momentos, Radu Mihaileanu
investe numa bem sucedida abordagem rocambolesca ao brincar com os estereótipos
por trás desta irreverente orquestra. Explorando elementos como o sotaque
carregado, a conduta irresponsável e a completa falta de senso dos músicos, o
longa arranca uma série de risadas ao acompanhar as desventuras do maestro e a
sua luta para reunir e controlar a excêntrica trupe de músicos. Curiosamente, em
meio as inúmeras situações hilárias, o argumento cresce à medida que investe no
forte pano de fundo dramático, que se integra à trama com absoluta categoria. A partir da relação entre Andrei e a jovem Anne-Marie Jacquet, o diretor romeno mostra inspiração ao revelar alguns importantes fatos do passado
do maestro, guardando alguns segredos sabiamente revelados dentro da catártica
sequência final. Méritos para os protagonistas Mélanie Laurent (Bastardos
Inglórios e Alexei Guskov que, diante de dois personagens interessantes,
absorvem com rara intensidade as suas nuances mais íntimas.
Divertido e emocionante,
O Concerto atinge o seu ápice graças aos virtuosos números musicais. Disposto a
valorizar o alcance da música clássica, Radu Mihaileanu enxerga a alma, o
sentimento por trás das apresentações, entregando cenas inegavelmente
arrepiantes. Com direito a um clímax corajoso, onde, mostrando um enorme
respeito a uma das peças mais conhecidas do compositor russo Tchaikovsky, o
realizador nos brinda com uma sequência soberba, ousada e absolutamente
comovente. Um arremate digno para uma produção naturalmente fascinante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário