Delicado e cativante, A Família Bélier mostra a capacidade do cinema francês de inovar até nos seus projetos mais comerciais. Um 'feel good movie' da melhor qualidade, a adorável comédia dirigida por Eric Lartigau (Os Infiéis) enche os olhos ao acompanhar a jornada de uma responsável adolescente que descobre um inesperado dom para a música. Recheado de personagens carismáticos, o argumento foge do lugar comum ao adicionar novos ingredientes a uma história aparentemente já contada, tornando os dilemas da jovem cantora naturalmente atraentes aos olhos do público. Afinal de contas, qual seria o impacto desta importante revelação dentro de uma família composta em sua maioria por deficientes auditivos? A partir desta premissa absolutamente original, o longa mostra inspiração ao traduzir os anseios da talentosa protagonista, expondo sob um ponto de vista humano e bem humorado as verdadeiras imperfeições por trás desta encantadora família francesa. Isso sem falar das excelentes atuações, em especial da promissora Louane Amera, brilhante ao tornar os singelos números musicais prazerosos aos olhos do espectador.
Impecável ao traduzir a limitação física dos Bélier, Eric Lartigau esbanja categoria ao utilizar a linguagem dos sinais. Num trabalho inegavelmente cuidadoso, em nenhum momento a deficiência dos personagens influência no ritmo do longa, principalmente pela capacidade do realizador em equilibrar a comunicação gestual com a sonora. Aos poucos, inclusive, a ausência de diálogos se torna natural aos olhos do público, tornando as legendas para as cenas em LIBRAS um elemento praticamente supérfluo. Pra ser sincero, mesmo sem uma palavra sequer, a comovente sequência final desponta como um dos momentos mais reveladores da película. Investindo na expressividade dos seus comandados, o realizador arranca honestas risadas ao reproduzir a dinâmica desta encantadora família, transformando o ágil primeiro ato num show de franqueza e excelentes piadas. Na melhor delas, como porta voz dos seus afetuosos pais, a tímida protagonista se vê obrigada a "traduzir" detalhes da vida sexual dos dois durante uma hilária consulta médica. Como é a única que consegue ouvir e falar, aliás, a protagonista se transforma numa espécie de interlocutora da trama, assumindo o centro das atenções ao nos contar a sua curiosa história.
Com roteiro assinado por Victoria Bedos e Stanislas Carré de Malberg, A Família Bélier acompanha os passos da tímida Paula (Louane Amera), uma adolescente dedicada que assumiu precocemente as rédeas da sua casa. Elevada a voz dos seus adoráveis pais, o espirituoso Rodolphe (François Damiens, do ótimo A Delicadeza do Amor) e a empolgada Gigi (Karin Viard, numa performance magnética), a jovem era obrigada a conciliar os estudos com a vida no campo, sendo uma peça fundamental na fábrica de queijos da sua família. Adaptada ao dia-a-dia no campo, Paula passa a experimentar uma nova realidade ao se matricular no coral do egocêntrico maestro Fabien (Eric Elmosnino, excelente). Inicialmente arredia, ela logo descobre um inesperado talento, atraindo as atenções do galã do colégio (Ilian Bergala, apenas correto). Nesse meio tempo, porém, o seu zeloso pai resolve se candidatar a prefeitura da pequena cidade, contando com o apoio irrestrito da sua inteligente filha. Entre a cruz e a espada, Paula resolve seguir conciliando a música com a família, sem saber que uma proposta para um importante teste em Paris poderia mudar de vez a rotina dos Bélier.
Mesmo com alguns deslizes, a maioria deles envolvendo a subaproveitada campanha política, A Família Bélier é sutil ao narrar o impacto desta descoberta na relação entre Paula e os seus pais. À medida que os dilemas pessoais da cantora se acentuam, o roteiro se esquiva do tom condescendente ao expor as imperfeições por trás desta coesa estrutura familiar, principalmente quando percebemos que, mesmo involuntariamente, as limitações físicas dos pais acabavam moldando a rotina da adolescente. Na verdade, acomodados diante da postura proativa da filha, os dois revelam um misto de egoísmo e superproteção ao não admitir o distanciamento dela, o que rende uma série de interessantes discussões ao longo dos dois últimos atos. Méritos para os experientes François Damiens e Karin Viard que, indo do humor ao drama com absoluta perícia, capturam todas as nuances deste zeloso casal. Melhor ainda, aliás, é a performance de Louane Amera. Lançada por um reality show francês, a cantora impressiona tanto nas sequências musicais, quanto nos momentos em que precisa realmente atuar, convencendo ao dar vida a uma relutante jovem.
Musicalmente, aliás, A Família Bélier é impecável. Apesar da trilha sonora ultrapassada, ou melhor, cafona mesmo, Eric Lartigau é habilidoso ao transformar a angelical voz de Louane Amera num elemento decisivo para o resultado final do longa. Com leveza e criatividade, as canções pontuam a trama de maneira quase sempre reveladora, indicando com inspiração as intenções dos próprios personagens. No ápice do longa, o realizador ousa ao nos fazer experimentar um pouco da condição de um deficiente auditivo, criando uma atmosfera única ao abafar propositalmente o som durante uma das mais importantes cenas do longa. Isso sem falar do revigorante clímax, quando, numa sacada honesta e inventiva, Lartigau surpreende ao utilizar a música como um instrumento de linguagem poderoso e naturalmente emocionante. Uma opção que, além de fazer completo sentido dentro da original premissa, arremata a jornada da carismática Paula com sensibilidade e inspiração.
Musicalmente, aliás, A Família Bélier é impecável. Apesar da trilha sonora ultrapassada, ou melhor, cafona mesmo, Eric Lartigau é habilidoso ao transformar a angelical voz de Louane Amera num elemento decisivo para o resultado final do longa. Com leveza e criatividade, as canções pontuam a trama de maneira quase sempre reveladora, indicando com inspiração as intenções dos próprios personagens. No ápice do longa, o realizador ousa ao nos fazer experimentar um pouco da condição de um deficiente auditivo, criando uma atmosfera única ao abafar propositalmente o som durante uma das mais importantes cenas do longa. Isso sem falar do revigorante clímax, quando, numa sacada honesta e inventiva, Lartigau surpreende ao utilizar a música como um instrumento de linguagem poderoso e naturalmente emocionante. Uma opção que, além de fazer completo sentido dentro da original premissa, arremata a jornada da carismática Paula com sensibilidade e inspiração.
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