Apesar do elenco estrelar, bem intencionado longa esbarra na previsibilidade do roteiro
Vendido erroneamente como uma comédia de fim de ano, O Natal dos Coopers contradiz o seu material de divulgação ao se revelar um agridoce drama familiar. Mesmo sem descartar o humor, que pontua a película de maneira oscilante, a diretora Jessie Nelson (Uma Lição de Amor) costura uma sentimental colcha de retalhos ao investigar a crise de uma disfuncional família norte-americana durante os tradicionais festejos natalinos. Com um elenco estrelar em mãos, capitaneado pelos experientes John Goodman, Diane Keaton, Alan Arkin, Marisa Tomei e June Squibb, a diretora é sutil ao construir os dilemas dos protagonistas, dialogando com temas interessantes e universais, mas que nem sempre ganham o desdobramento ideal. Cultivando inicialmente uma inspirada aura melancólica, potencializada pelas honestas discussões, pela tristonha trilha sonora e por criativas soluções narrativas, aos poucos o argumento parece se render à tradição dos filmes natalinos, tornando o desfecho da jornada dos Coopers previsível e convenientemente otimista. Uma conclusão ideal para esta época do ano, mas que nitidamente se distancia da proposta inicial do longa.
Colocando em cheque o jogo de aparências por trás do rótulo da família perfeita, O Natal dos Coopers conta a história de Sam (Goodman) e Charlotte (Keaton), um casal em crise prestes a receber mais uma ceia de Natal. Na expectativa para esta grande noite, eles logo percebem que não são os únicos com problemas. Desempregado e recém-divorciado, o filho mais velho Hank (Ed Helms) não consegue controlar os filhos Charlie (Timothée Chalamet), Bo (Maxwell Simkins) e Madison (Blake Baumgartner). Solitária e com baixa autoestima, a filha mais nova Eleanor (Olivia Wilde), na ânsia de deixar uma boa impressão, resolve convencer um jovem soldado (Jake Lacy) a ser o seu namorado por um dia. Numa situação ainda pior, Emma (Tomei), a irmã mais nova de Charlotte, acaba presa por roubar um pingente, tendo que convencer um problemático policial (Anthony Mackie) a libera-la em plena véspera de Natal. Conhecemos também o pai de Charlotte e Emma, um simpático idoso (Arkin) que vê a sua rotina mudar quando a sua confidente garçonete Ruby (Amanda Seyfried) anuncia que vai pedir demissão e se mudar para uma cidade distante. Em meio a estas e outras situações, os Coopers partem então para mais uma noite em família, sem saber que as soluções para os seus dilemas estavam mais perto do que eles poderiam esperar.
Fiel às fórmulas dos contos natalinos, o roteirista Steven Rogers é espirituoso ao explorar a tão desgastada figura do narrador, que surge como uma das gratas surpresas dentro do problemático último ato. Utilizado com certa moderação, o interlocutor (voz de Steve Martin no original) brinca com as nossas expectativas, escancarando a intimidade por trás dos pensamentos e das memórias dos protagonistas. Sem perder o ritmo, ponto para a esperta montagem, Jessie Nelson é perspicaz ao introduzir tanto as fantasias dos personagens, quanto os cativantes flashbacks, apostando em soluções inventivas que acrescentam uma dose de originalidade ao requentado argumento. Com destaque para a reprodução das lembranças dos protagonistas, que "invadem" a tela nostalgicamente os mostrando em suas versões mais jovens e geralmente felizes. A partir destas sequências, inclusive, a diretora surpreende ao valorizar o sentimento de melancolia em torno da crise dos Coopers, criando um cenário frio e entristecido que com criatividade contrasta com o festivo clima natalino. Ainda que algumas subtramas funcionem melhor do que outras, o que fica evidente no problemático arco liderado pelo veterano Alan Arkin, Nelson é igualmente habilidosa ao nos tornar íntimos desta excêntrica família. Através de takes particulares, a realizadora se mostra interessada em capturar a expressão dos seus comandados, incrementando as honestas discussões e os equilibrados diálogos. A maneira como a câmera procura os hipnotizantes olhos azuis de Olivia Wilde, por exemplo, merece elogios, assim como a madura relação estrelada pelos talentosos John Goodman e Diane Keaton e o lúdico segmento envolvendo o pequeno Bo e o seu irmão mais velho.
Dialogando com situações recorrentes e naturalmente espinhosas, o argumento até se esforça para abraça-los com a mesma profundidade, mas o resultado não é dos melhores. Enquanto temas como o desgaste no casamento do veterano casal principal, a homossexualidade de um frio policial e a crise de autoestima de uma bela mulher são desenvolvidos com zelo, questões como o impacto do divórcio, a primeira relação amorosa de um adolescente e a inveja familiar de uma das protagonistas se revelam rasas e previsíveis. À medida que o longa se aproxima do último ato, inclusive, estes problemas se acentuam, principalmente pela repentina mudança de tom na película. Abrindo mão da sobriedade dos dois primeiros atos, o singelo clímax se rende aos clichês das produções do gênero, amarrando os dilemas dos Coopers de maneira acelerada e conveniente. Como se num verdadeiro milagre de natal todos os problemas desta excêntrica família fossem solucionados repentinamente.
Nenhuma destas derrapadas, no entanto, incomoda mais do que as oscilantes doses de humor. Subaproveitando nomes como os de Alan Arkin, June Squibb (numa personagem fraquíssima), Amanda Seyfried e Ed Helms, as piadas são escassas e inegavelmente decepcionantes, se garantindo muito mais na categoria do elenco, do que propriamente na sagacidade do roteiro. Desta forma, decepcionando àqueles que esperavam uma escrachada comédia, O Natal dos Cooper se arrisca ao tentar escancarar com inesperada dramaticidade o jogo de aparências por trás dos estereótipos da família feliz. Ainda que esbarre em alguns equívocos comuns ao gênero, Jessie Nelson supera os altos e baixos da trama ao investir numa abordagem particular, mostrando através das desilusões dos Coopers a complexa missão que é viver em família.
Dialogando com situações recorrentes e naturalmente espinhosas, o argumento até se esforça para abraça-los com a mesma profundidade, mas o resultado não é dos melhores. Enquanto temas como o desgaste no casamento do veterano casal principal, a homossexualidade de um frio policial e a crise de autoestima de uma bela mulher são desenvolvidos com zelo, questões como o impacto do divórcio, a primeira relação amorosa de um adolescente e a inveja familiar de uma das protagonistas se revelam rasas e previsíveis. À medida que o longa se aproxima do último ato, inclusive, estes problemas se acentuam, principalmente pela repentina mudança de tom na película. Abrindo mão da sobriedade dos dois primeiros atos, o singelo clímax se rende aos clichês das produções do gênero, amarrando os dilemas dos Coopers de maneira acelerada e conveniente. Como se num verdadeiro milagre de natal todos os problemas desta excêntrica família fossem solucionados repentinamente.
Nenhuma destas derrapadas, no entanto, incomoda mais do que as oscilantes doses de humor. Subaproveitando nomes como os de Alan Arkin, June Squibb (numa personagem fraquíssima), Amanda Seyfried e Ed Helms, as piadas são escassas e inegavelmente decepcionantes, se garantindo muito mais na categoria do elenco, do que propriamente na sagacidade do roteiro. Desta forma, decepcionando àqueles que esperavam uma escrachada comédia, O Natal dos Cooper se arrisca ao tentar escancarar com inesperada dramaticidade o jogo de aparências por trás dos estereótipos da família feliz. Ainda que esbarre em alguns equívocos comuns ao gênero, Jessie Nelson supera os altos e baixos da trama ao investir numa abordagem particular, mostrando através das desilusões dos Coopers a complexa missão que é viver em família.
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