Agosto de 2010. Um grupo de 33 mineradores sofre um terrível acidente a quase 700 metros de profundidade, permanecendo preso até o resgate por impressionantes 69 dias. Com o faro apurado para incríveis jornadas de superação, Hollywood - pra variar - não perdeu tempo e cinco anos depois reconta a jornada dos sul-americanos no apenas correto Os 33. Sob a batuta da diretora mexicana Patricia Riggen, o longa até se esforça para narrar por diversos pontos de vista a sufocante luta dos chilenos, mas esbarra no modo Hollywoodiano de contar histórias. Trocando o castelhano pelo inglês e enchendo a tela de rostos conhecidos, este drama de cartilha parece se contentar bem mais em encontrar heróis por trás dos fatos, do que em reproduzir propriamente a devastadora experiência vivida pelos obstinados chilenos.
E esse talvez seja o maior pecado de Os 33. Na ânsia de valorizar o "frisson" criado em torno deste mundialmente conhecido episódio, o argumento assinado por Mikko Alanne, Craig Borten, Michael Thomas e Jose Rivera subaproveita a tensão natural e a verve latina acerca desta claustrofóbica jornada, dividindo excessivamente os holofotes. Através de um recorte linear e esquemático, o longa acompanha não só a milagrosa jornada do grupo de mineiros "liderados" por Mario Sepulveda (Antonio Banderas) e 'Don Lucho' (Lou Diamond Phillips), como também a abnegada luta por resgate do Ministro Globorne (Rodrigo Santoro) e o drama pessoal dos familiares de alguns dos "escolhidos" pelos roteiristas. Entre questões interessantes, como os bastidores políticos por trás da missão de salvamento, e situações completamente dispensáveis, como o caricato triângulo amoroso protagonizado por um dos mineiros, Patricia Riggen não consegue sustentar o ritmo do longa, perdendo o foco em meio as muitas e geralmente superficiais subtramas. Na verdade, ainda que Santoro adicione sentimentos ao seu unidimensional personagem, se transformando num dos grandes atrativos do roteiro, o fato é que a trama só encontra verdadeiramente a sua luz quando se volta para a escuridão enfrentada pelos chilenos a 700 metros abaixo do nível do mar.
E esse talvez seja o maior pecado de Os 33. Na ânsia de valorizar o "frisson" criado em torno deste mundialmente conhecido episódio, o argumento assinado por Mikko Alanne, Craig Borten, Michael Thomas e Jose Rivera subaproveita a tensão natural e a verve latina acerca desta claustrofóbica jornada, dividindo excessivamente os holofotes. Através de um recorte linear e esquemático, o longa acompanha não só a milagrosa jornada do grupo de mineiros "liderados" por Mario Sepulveda (Antonio Banderas) e 'Don Lucho' (Lou Diamond Phillips), como também a abnegada luta por resgate do Ministro Globorne (Rodrigo Santoro) e o drama pessoal dos familiares de alguns dos "escolhidos" pelos roteiristas. Entre questões interessantes, como os bastidores políticos por trás da missão de salvamento, e situações completamente dispensáveis, como o caricato triângulo amoroso protagonizado por um dos mineiros, Patricia Riggen não consegue sustentar o ritmo do longa, perdendo o foco em meio as muitas e geralmente superficiais subtramas. Na verdade, ainda que Santoro adicione sentimentos ao seu unidimensional personagem, se transformando num dos grandes atrativos do roteiro, o fato é que a trama só encontra verdadeiramente a sua luz quando se volta para a escuridão enfrentada pelos chilenos a 700 metros abaixo do nível do mar.
Inspirado no livro 'Deep Down Dark', que reuniu um recorte de relatos dos próprios mineiros durante os 17 primeiros dias, Patricia Riggan mostra categoria ao reproduzir o desgaste emocional e físico experimentado pelos sobreviventes. Desde a sufocante sequência do desmoronamento, potencializada pelos competentes efeitos visuais e pela câmera nervosa da realizadora mexicana, Os 33 é praticamente impecável ao recriar a dinâmica dos mineiros neste contexto subterrâneo. Mesmo pecando pela falta de detalhismo, dilemas como o racionamento de comida, a incompatibilidade de gênios e os conflitos internos impostos pela clausura ganham a tela de maneira natural, tirando um enorme proveito da fotografia claustrofóbica de Checco Varese. No ápice do longa, numa devastadora mistura de desespero e esperança, a aparente última refeição do grupo ganha uma atmosfera curiosamente surreal nas mãos de Riggan. O cuidadoso trabalho da equipe de direção de arte, aliás, merece elogios, reproduzindo com fidelidade os cenários, trajes e alguns elementos que se tornaram recorrentes nos principais telejornais ao longo do resgate. Em meio ao sobe e desce da trama, no entanto, aos poucos esta atmosfera de tensão vai se esvaindo. A partir do momento que os mineiros se conectam com a superfície, o longa como um todo perde ritmo, principalmente por se ver preso aos rasos problemas familiares dos personagens. Nem a breve discussão moral em torno da liderança de Mario, porta-voz do grupo durante este episódio, é o bastante para que a película recupere a intensidade mostrada em sua primeira metade.
E seguindo a cartilha das produções hollywoodianas, Riggan e os roteiristas optam por se concentrar exageradamente na heroica figura de Mario Sepulveda. Ainda que ele realmente tenha se tornando o grande símbolo desta empreitada, o argumento se esforça para fazer dele o centro das atenções, subestimando outros promissores personagens. Apesar do incontestável talento de Antonio Banderas, vibrante ao capturar a confiança inabalável do protagonista, são os rostos menos conhecidos os responsáveis por algumas das mais comoventes cenas dentro do núcleo subterrâneo. Nomes como os do filipino Lou Diamond Philips, expressivo como o culpado chefe do grupo, do colombiano Juan Pablo Raba, arredio como um viciado próximo de perder a cabeça, e do espanhol Mario Casas, desolado como um mineiro prestes a ser pai, adicionam emoção a momentos isolados e genuinamente tocantes. Por outro lado, os rodados Gabriel Byrne, Bob Gunton e Julliete Binoche não são bem aproveitados pelo roteiro, deixando a impressão que foram escalados somente para acrescentar um pouco mais de peso ao elenco. A talentosa atriz francesa, aliás, até se esforça ao viver a irmã de um dos chilenos, mas a sua agitadora personagem é rasa e inexplicavelmente mal desenvolvida. Um completo desperdício, numa escalação de gosto duvidoso.
Esbarrando nestas intenções comerciais, vide o estranhíssimo fato do filme ter sido rodado em inglês por atores - em sua maioria - fluentes no castelhano, Os 33 ainda assim reproduz com verossimilhança a milagrosa jornada de sobrevivência protagonizada por um grupo de mineradores chilenos. Num esforço para ampliar a abordagem em torno desta impressionante história real, Patricia Riggen entrega um drama tecnicamente competente, que se esquiva dos melodramas, mas que falha ao explorar a tensão e principalmente a latinidade por trás deste episódio. Um fato no mínimo curioso, já que o longa é dirigido por uma mexicana, roteirizado por um porto-riquenho e produzido por um americano (Mike Medavoy) que viveu por mais de dez anos no Chile. Ao menos o popular grito "Chi-chi-chi, Le-le-le, Viva el Chile" não se perdeu na tradução, sendo cantado a plenos pulmões por diversas vezes ao longo da película.
Filme assistido na 17ª Edição do Festival do Rio.
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