domingo, 26 de outubro de 2014

Drácula - A História Nunca Contada

Conde Drácula vira super-herói numa aventura asseada

De vampiro sedutor à personagem infantil, Drácula ganha um status de super-herói em A História Nunca Contada. Buscando ampliar o mito em torno do romeno Vlad "O Empalador" Tepes, que teria sido a inspiração do escritor Bram Stoker na criação de um dos principais Monstros da Universal, o longa peca ao simplificar as atitudes dos personagens e as suas respectivas consequências. Dirigido pelo estreante em longas-metragens Gary Shore, que nos surpreende com um estilosa atmosfera sombria, a aventura parece se contentar muito mais com os poderes "adquiridos" pelo vampiro, escancarando a falta de ousadia ao fugir das previsibilidades da trama. Resta então ao competente Luke Evans, numa versão "vampiresca" extremamente digna, a missão de dar maior densidade a essa asseada nova roupagem envolvendo as desventuras do Conde Drácula.

Apresentando o príncipe Vlad como um verdadeiro peão do destino, o roteiro assinado por Matt Sazama e Burk Sharpless desenvolve com precisão o aspecto mais humano do príncipe romeno. Já nos didáticos créditos iniciais descobrimos que Vlad foi entregue aos turcos como uma espécie de soldado\escravo, se tornou um temido guerreiro, e ficou reconhecido por empalar as suas vítimas em grandes estacas. Após anos de servidão e mortes, o príncipe volta a Transilvânia para assumir o trono e iniciar um reinado de paz. Disposto a esquecer do passado, ele se torna um líder justo e amoroso, principalmente com sua esposa Mirena (Sarah Gadon) e seu filho (Art Parkinson). Tudo muda, no entanto, quando o temido rei turco Mehmed (Dominic Cooper) resolve se voltar novamente contra a Romênia, exigindo que mil crianças sejam entregues a eles, incluindo o filho de Vlad. Ciente da ineficiência de seu exército, o agora desesperado conde decide buscar ajuda com o nefasto Calígula (Charles Dance), um homem amaldiçoado que viu a sua ganância pelo poder virar uma grande maldição. Vlad então firma um pacto com o vampiro, ganhando por três dias a oportunidade de assumir seus poderes, incluindo força sobre-humana, manipulação das criaturas da noite e uma incrível velocidade. Ele, porém, terá que resistir a sede por sangue para evitar que esta maldição recaia definitivamente sobre a sua vida.


Enquanto se concentra na atmosfera humana por trás do Conde Drácula, o argumento funciona a contento. Na primeira meia hora de projeção, aliás, o longa deixa uma impressão realmente positiva, desenvolvendo com precisão os dilemas morais em torno do Empalador. Contando com o intenso desempenho de Luke Evans, todas as nuances do personagem são exploradas com habilidade, principalmente em função das consequências de suas controversas decisões para salvar os entes queridos. Sem julgamentos ou taxações, o argumento coloca essas atitudes em cheque, mostrando as reações não só da família de Vlad, como também do seu próprio povo, evidenciando o quão tênue é a linha entre um herói e um vilão. Estas promissoras questões, no entanto, são brecadas pela nítida vocação blockbuster da trama, que opta por abrandar a sede de sangue do vampiro e a ferocidade de seus atos para conseguir uma censura relativamente mais baixa (14 anos). Na verdade, ao abordar rapidamente o passado brutal do príncipe, os roteiristas evidenciam que é a pegada super-heroica do vampiro o diferencial desta versão. Por mais que os novos poderes do Drácula sejam explorados com certa inventividade, rendendo algumas sequências de rara beleza, o diretor Gary Shore não consegue escapar dos recorrentes problemas do gênero, incluindo a ação frenética, na maioria do tempo genérica e pouco compreensível, e os clichês simplistas envolvendo a jornada de redenção\vingança de Vlad. 

Soluções pouco criativas que reduzem o impacto de Drácula - A História Nunca Contada, um longa que prefere se concentrar na banalização das batalhas, com direito a golpes através de morcegos, do que nas questões emocionais por trás das atitudes dos personagens. Demonstrando respeito à icônica criatura de Bram Stoker, que segundo o Guinness Book é o monstro fictício com maior número de adaptações, Gary Shore aposta no clima criado, méritos para a fotografia de John Schwartzman, e no competente elenco, que conta ainda com as boas atuações de Charles Dance e Dominic Cooper, para corrigir os nítidos problemas envolvendo o tom da jornada de Vlad Tepes. De fato, ainda que o argumento tenha um bom ritmo e flerte com temas mais densos, o resultado final não parece maduro o bastante para agradar os fãs de clássicos como Drácula de Bram Stoker (1992) ou Entrevista com Vampiro (1994), nem tão leve e descompromissado para empolgar os órfãos de Van Helsing (2004).


2 comentários:

Anônimo disse...

Um filme que poderia ter sido muito mais do que acabou sendo. Lamentável.

http://filme-do-dia.blogspot.com.br/

thicarvalho disse...

Eu esperava menos Kahlil. Achava que ia ser uma dessas bombas.