Ainda que a multi-campeã Ronda Rousey roube a cena como uma das boas adições desta terceira
continuação, Os Mercenários 3 quase põe tudo a perder ao apostar
demasiadamente nas caras mais novas. Como se não bastasse a falta de presença dos escolhidos, o processo de
garimpagem do jovem grupo acaba "roubando" um pouco do espaço daquilo que o
fã mais espera desta franquia: a ação oitentista. Por mais que Patrick Hughes conduza o longa de forma competente, e que o perspicaz humor autodepreciativo tente compensar a descartável relação entre as duas gerações, são os experientes Mel Gibson, Antonio Banderas, Harrison Ford e Sylvester Stallone os grande trunfos desta sequência.
Na verdade, por mais paradoxal que pareça, a escolha de abrir espaço para esse novo grupo diminui o fôlego desta franquia. Construída a partir do sentimento de nostalgia dos fãs e da carismática velha escola do cinema de ação, a trilogia Os Mercenários se consagrou por apostar na junção dos grandes astros do combalido "exército de um homem só". Além de Stallone e Jason Statham, passaram pelos dois primeiros longas nomes como Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Jean Claude Van-Damme, Jet Li, Dolph Lundgren, e, até mesmo, Chuck Norris. Nomes que, por si só, sempre levaram os fãs aos cinemas, oferecendo aquilo que o seu público gosta de ver. Feito este adendo, o roteiro assinado por Stallone, ao lado de Creighton Rothenberger e Katrin Benedikt, peca justamente por tentar adicionar ingredientes demais a essa fórmula. Na tentativa de unir essas duas gerações, fazendo um filme mais "leve" para conquistar o público jovem, a trama se apoia em soluções pouco inspiradas, que aumentam o tempo de projeção, mas diminuem o espaço das tão aguardadas cenas de ação.
Trabalhando com habilidade todo o humor envolvendo o timaço de atores, o longa já começa com uma grande piada interna envolvendo o ator Wesley Snipes, que foi solto recentemente após cumprir pena por sonegação fiscal. Após resgatar um dos mercenários originais de uma prisão, o surtado Doc (Wesley Snipes), Barney Ross (Stallone), Christmas (Statham) e o resto do grupo parte para mais uma corriqueira missão. As coisas saem do controle, no entanto, quando Barney reencontra um ex-fundador do grupo, o temido traficante de armas Conrad Stonebanks (Mel Gibson). Com a ajuda de um agente da CIA (Harrison Ford), o líder dos mercenários ganha uma segunda chance para conseguir captura-lo. Temendo que os seus parceiros não estivessem aptos para esse desafio, Barney decide deixar a força bruta de lado e recrutar um novo grupo. Apostando na exímia lutadora Luna (Ronda Rousey), no perito em tecnologia Thorn (Glen Powell), no especialista em armas Mars (Victor Ortiz), e no ex-militar Smilee (Kellan Lutz), Barney acredita ter o necessário para efetuar a prisão do ex-mercenário. Stonebanks, porém, será um desafio muito maior do que os "novos" mercenários esperavam.
Por mais que a trama deixa a inevitável sensação de Déjà Vu, o que nunca foi um problema dentro do gênero, o que mais incomoda é a impressão de que essa continuação poderia ser algo realmente grandioso. Como se não bastasse o timaço de atores, e a habilidade do diretor Patrick Hughes nas empolgantes sequências de ação, a continuação ganha um vilão impecavelmente construído por Mel Gibson. A trama, porém, é a mais oscilante da trilogia. Na tentativa de se apresentar algo mais elaborado, explorando mais o lado sentimental do líder Barney Ross, o roteiro se perdendo nessa transição entre gerações. Ainda que demonstre certa eficiência na introdução do novo quarteto, os dilemas de Barney são explorados de forma superficial, principalmente os que o levam a deixar de lado a sua velha equipe para apostar no novo grupo. Pra piorar, os jovens Glen Powell, Victor Ortiz e Kellan Lutz são tão pouco explorados pelo roteiro, que parecem sem função em muitos momentos. Lutz até tem um personagem minimamente elaborado, mas que pouco acrescenta ao resultado final. Até nas cenas de ação, quase todas realizadas por dublês, o trio não se destaca. Pra ser sincero, a impressão que fica é que a entrada deles se tornou uma desculpa para a presença de Ronda Rousey, essa sim com um papel de maior destaque.
Felizmente, esses pequenos erros pouco importam quando a ação funciona. E aqui, mais uma vez, isso acontece. Enquanto os jovens se mostram uma espécie de muletas para os veteranos, com destaque para o realismo das lutas envolvendo Ronda Rousey, nomes como Stallone, Statham, Gibson, Lundgren, Snipes e Schwarzenegger mostram porque conseguiram destaque no gênero. Demonstrando coragem ao rir de si mesmo, com direito a uma série de bem inseridos alívios cômicos, os veteranos não precisam de muito para garantir o ingresso. Por mais que eles já não tenham a mesma aptidão, o que fica nítido nos casos de Ford e Schwarzenegger, a entrega física dos experientes é louvável, rendendo ainda empolgantes cenas. Se Gibson é talvez o principal destaque desta terceira continuação, Antonio Banderas é o personagem mais surpreendente desta continuação. Demonstrando uma impressionante veia cômica, pouco explorada em sua carreira, o ator empolga como o hilário Galgo. Na pele de um estereotipado latino, Banderas mostra grande desempenho também nas cenas de ação, contribuindo de forma direta com o impactante clímax. Quem também vai muito bem é Wesley Snipes. Apesar dos 52 anos, o ator rouba a cena não só no aspecto físico, mas também na inusitada relação com o personagem vivido por Jason Statham.
Apostando em frenéticas, mas bem construídas cenas de ação, Patrick Hughes consegue repetir a atmosfera oitentista da franquia em Os Mercenários 3. Dando liberdade para que os atores possam se divertir em cena, o que fica nítido durante toda a projeção, o diretor faz o possível para que o pouco inspirado roteiro não interfira no impacto desta reunião de astros do cinema de ação. Por mais que a garotada escale elevadores, pule entre prédios e desative bombas com computadores, são os carismáticos veteranos os responsáveis por nos apresentar um desfecho satisfatório para essa trilogia. Aproveitem enquanto eles aguentam.
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