quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas

Carisma do elenco e humor afiado salva da mesmice essa comédia sobre o decadente mundo do boxe


Imagine você a possibilidade de ver dois grandes nomes do cinema em um ringue de boxe. E que esses dois já tenham interpretado personagens marcantes envolvendo essa modalidade. Se agarrando nesta oportunidade, e no direto sentimento de nostalgia ligado a ela, o diretor Peter Segal resolveu apostar as suas fichas em Ajuste de Contas, longa que coloca frente a frente dois astros do cinema mundial. De um lado temos Robert de Niro, que em 1980 viveu o explosivo lutador Jake La Motta em Touro Indomável, enquanto do outro, Sylvester Stallone, que em 1976 deu vida ao inesquecível Rocky Balboa. Explorando uma série de clichês que marcaram os filmes do gênero, incluindo a inevitável associação aos dois longas citados acima, e o carisma de seus protagonistas, a comédia acaba acertando pelo humor afiado como lida não só com a chegada da terceira idade, mas também com o decadente mundo do boxe. Méritos para o experiente Alan Arkin, que apesar de ser o mais velho em cena, surge como o único personagem que soa realmente novo. 

Do alto dos 70 de anos de Robert De Niro e dos 67 de Sylvester Stallone, Ajuste de Contas aposta naquelas fórmulas fáceis, já utilizadas outras vezes dentro do gênero. Se prepare então para desnecessárias lições de moral e para uma frágil narrativa, que acaba reciclando uma série de alternativas já desgastadas envolvendo os filmes sobre a modalidade. Na trama, assinada por Tim Kelleher, dois grandes nomes do boxe acabam polarizando as atenções na década de 1980. De um lado está o mulherengo beberrão Billy "The Kid" McDonnen (De Niro), que alimenta grande rivalidade com o centrado e esforçado Henry "Razor" Sharp (Sylvester Stallone). Em duelos marcantes, Razor e The Kid acabam com uma vitória cada. Porém, antes da esperada luta decisiva, Razor decide se aposentar sem motivo aparente. Três décadas se passam e os dois acabam tomando caminhos opostos. Enquanto The Kid se tornou um empresário de sucesso, Razor não teve a mesma sorte, e acabou virando um operário fracassado. Isso tudo muda, no entanto, quando uma grande emissora decide relembrar a história dos dois. Empolgado com a matéria, um jovem promotor de eventos (Kevin Hart) resolve apostar nos dois e acaba encontrando uma forma para reeditar esta luta. O que ele não esperava, era que a rivalidade da dupla acabaria se tornando a grande chance para que o duelo se tornasse um sucesso junto ao público. Principalmente, após o reaparecimento de um ex-amor dos dois (Kim Basinger) e de seu filho B.J (Joe Bernthal).


Em cima desta previsível premissa, muito semelhante à utilizada no último capítulo da franquia Rocky Balboa, Ajuste de Contas só funciona bem quando deixa de lado o sentimentalismo envolvendo esse triângulo amoroso e as suas consequências. Apesar dos esforços dos protagonistas em tentar passar alguma emoção a trama, é na peculiaridade do duelo desses dois dinossauros do cinema, e no humor, que o longa acaba funcionando. Sem se preocupar muito com o politicamente correto, Peter Segal aposta em divertidos diálogos, repletos de ofensas à terceira idade e perspicazes referências ao mundo do boxe. Com destaque para a citação às falcatruas que abalaram o esporte, a ascensão do MMA em detrimento do boxe e, claro, aos marcantes personagens já interpretados pela dupla. A sensacional cena envolvendo Stallone e o polêmico lutador do UFC Chael Sonen, por si só, já valeria o ingresso. (Melhor ainda, no entanto, é a cena dos créditos finais.) Sabendo explorar muito bem os dilemas da idade dentro do esporte, Segal mostra destreza para lidar com o tema, arrancando muitas risadas ao colocar a dupla em situações curiosas. (Nunca pensei que fosse ver Stallone fazendo exame de próstata.) No entanto, apesar do início promissor e dos bons desempenhos de Allan Arkin e do comediante Kevin Hart, a trama parece se perder ao longo do filme, tirando inclusive um pouco do impacto da grande - e esperada - luta final.


Por falar nela, o grande tira-teima entre The Kid e Razor surpreendentemente funciona, muito mais pelo esforço dos dois, é verdade, do que propriamente pelo tratamento dado pela direção. Apesar da idade elevada e das limitações físicas, Stallone e De Niro se dedicam ao máximo não só para entrarem em forma, como também para mostrarem um bom desempenho dentro do ringue. No entanto, nem o bom uso do CGI no início da trama, para rejuvenescer os dois lutadores, acaba criando a empolgação necessária para a luta final. Com relação ao desempenho da dupla, tanto Stallone quanto De Niro esbanjam carisma e parecem estar somente se divertindo em cena. Os dois mostram uma eficiente química e entregam um desempenho satisfatório, principalmente por parte de Sly, que parece ainda mais a vontade no longa. O grande destaque, porém, fica para o experiente Alan Arkin. Do alto dos seus 79 anos, o ator de Pequena Miss Sunshine e Os Russos Estão Chegando, está impagável na pele do velho treinador de Stallone. Mostrando o seu usual talento para o humor, Arkin é responsável pelos melhores momentos do longa, com destaque para o relacionamento de amizade com Stallone e as suas discussões com Kevin Hart. Além deste quarteto, Ajuste de Contas aposta ainda numa deslocada Kim Basinger e em Joe Bernthal, que conseguiu sucesso em The Walking Dead e aos poucos vai encontrando o seu espaço em Hollywood. 


Repleto de boas intenções, Ajustes de Contas é um daqueles filmes que se seguram muito mais pelo talento de seus protagonistas, do que pelo material apresentado. Explorando um bem humorado roteiro, o esforço da dupla Stallone e De Niro e o experiente Allan Arkin, o longa patina em meio aos clichês do gênero e a alguns melodramas baratos. Leve, divertida, mas esquecível, a comédia não consegue promover no espectador o sentimento de nostalgia, nem tão pouco o saudosismo, esperado por fãs de personagens como Jake La Motta e Rocky Balboa. 


2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom filme é divertido. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de o filme Mãos de Pedra , o elenco faz um ótimo trabalho, não conhecia a história e realmente gostei. Super recomendo.

thicarvalho disse...

Valeu pela visita Paulina.