Apesar da demora em engrenar, Martin Scorsese promove uma das mais belas homenagens ao fantástico mundo do cinema
Primeira investida de Martin
Scorsese no cinema infantil, A Invenção de Hugo Cabret comprova porque o
diretor é considerado um dos melhores de todos os tempos. Promovendo uma grande
homenagem a magia proporcionada pelo cinema, Scorsese consegue realizar um
trabalho para todas as idades, repleto de sensibilidade e encanto. Uma
adaptação bem conduzida, que mesmo com um ritmo mais lento do que o esperado,
promete emocionar o espectador graças ao ótimo roteiro, a um visual soberbo e a
brilhante atuação do elenco. Sem dúvidas, um dos melhores trabalhos dentro do
gênero nos últimos anos e uma dos mais belos tributos aos criadores do cinema.
Adaptação da obra literária de Brian
Selznick, A Invenção de Hugo Cabret aposta numa narrativa clássica para
contar a história de Hugo, um jovem órfão especialista na manutenção de
relógios. Após perder o seu pai em um trágico incêndio, Hugo vive perambulando
por uma estação de trem em Paris, lutando para manter os relógios em
funcionamento e assim não ser notado pelo inspetor (Sacha Baron Cohen). O jovem
sonhador, no entanto, acredita que um misterioso autômato encontrado pelo seu
pai (Jude Law), possa trazer alguma mensagem dele e revelar um pouco mais do
passado de sua família. Na tentativa de recuperar o pequeno robô, Hugo acaba
esbarrando em Georgie (Ben Kingsley), o dono de uma loja de brinquedos com
passado nebuloso e Isabelle (Chloe Moretz) sua sobrinha sedenta por aventuras.
Junto dela, Hugo parte numa aventura inesquecível na tentativa de resolver um
mistério mágico.
Apostando em uma narrativa leve e
encantadora, Scorsese mostra toda sua versatilidade nesta obra que agrada não
só aos adultos, como também a criançada. Apresentando uma trama madura, mas sem
perder o ar inocente, o diretor consegue conduzir o filme de uma forma bem fiel
à obra, mantendo o equilíbrio entre o drama e a aventura, e revelando pouco a
pouco os segredos da trama. Profundo conhecedor do cinema e de sua história,
Scorsese monta com primor uma merecida homenagem aos pioneiros da sétima arte,
como os irmãos Lumiere e, principalmente, George Meliés. Apesar do ritmo lento
nos primeiros minutos, ao longo de cada cena, o roteiro assinado por John Logan
vai sugando a atenção do espectador, conquistando o espectador com a
sensibilidade em que os dilemas de cada um dos personagens são desenvolvidos. Explorando
com sutileza esses dramas, o filme encontra na nostalgia uma arma poderosa, e a
utilizando de forma eficiente, constrói uma trama segura e genuinamente
emocionante. Sem apelações, ou melodramas. Emocionante na essência.
Convincente também é a atuação de
todo o elenco, principalmente, do experiente Ben Kingsley. Após trabalhar com
Scorsese em A Ilha do Medo, Kingsley consegue criar um personagem singelo e
amargurado, como há muito não se via. Personagem,
aliás, que ganha ainda mais brilho quando começamos a conhecer o seu passado e descobrir
aquilo que o levou a se tornar uma pessoa depressiva. Interessante ver como
Logan e Scorsese conseguem conduzir esta homenagem a George Meliés, que acaba
funcionando muito bem, com direito a algumas surpresas, graças ao pouco conhecimento do grande público sobre
esse diretor. Além de Kingsley, a atuação do elenco infantil merece também muitos
elogios. Escrever sobre Chloe Moretz é fácil, e mesmo num personagem menos
potente, a atriz não decepciona. Já Asa Buterfield é mais um a entrar para
aquela lista das boas promessas juvenis. Após a ótima atuação em O Menino do
Pijama Listrado, um drama extremamente subestimado, o jovem tem outro bom
desempenho, demonstrando uma ótima capacidade nas cenas dramáticas e
protagonizando belos diálogos com Ben Kingsley.
Agora, se na arte de conduzir um
bom elenco Scorsese sempre se destacou, a grande novidade em A Invenção de
Hugo Cabret fica justamente na capacidade do diretor em trabalhar com o 3–D.
Explorando vibrantes efeitos visuais, o experiente realizador demonstra pleno domínio sobre esta técnica, não só criando recursos para impressionar o
espectador, mas também a utilizando de forma minimalista. Desde a fumaça na
estação, até um simples aperto de mão, tudo ganha uma proporção mágica nas mãos
de Martin Scorsese, provando que esta tecnologia não necessariamente precisa
ser protagonista de um filme. Não é por menos que o próprio James Cameron, um
dos pioneiros na técnica em 3-D, deixou claro após a exibição do filme que esse
talvez tenha sido o melhor desempenho desta tecnologia já lançado no cinema.
No fim das contas, A Invenção de
Hugo Cabret consegue recriar, em grande estilo, os clássicos infantis que foram
se perdendo ao longo das últimas décadas. Um filme mágico e encantador que
presta uma sensível homenagem ao fantástico mundo da sétima arte. Méritos para
o diretor Martin Scorsese, que, com uma condução criativa e surpreendente, nos proporciona um dos mais belos trabalhos de 2012.
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