Primeira investida em longas de animação do diretor argentino Juan José Campanella, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com O Segredo de Seus Olhos, Um Time Show de Bola encontra no sentimento nostálgico a forma perfeita para destacar a universal paixão pelo futebol. Para isso, ele aposta num dos mais tradicionais jogos envolvendo o esporte: o popular totó, pebolim ou Fla-Flu. Diferente do que muitos esperavam, no entanto, o longa não explora apenas tipos do futebol argentino. Essa opção aproxima ainda mais os fãs do futebol, principalmente, por brincar com várias personalidades presentes dentro da modalidade. Temos então o jogador egocêntrico, o agregador, o líder, o marqueteiro, o narcisista, no melhor estilo Cristiano Ronaldo, enfim, todos eles contribuindo diretamente para a eficiente trama, que promete agradar não só as crianças, como também aos adultos.
Com roteiro assinado pelo próprio Campanella, ao lado Axel Kuschevatzky, Um Time Show de Bola narra a história de Amadeo, um fanático por futebol que tem grande habilidade nas partidas de totó. Funcionário de um bar, ele acaba criando grande vínculo com a mesa de totó do local e com os seus jogadores. Seus feitos no jogo acabam despertando a inveja do bom de bola Ezequiel, um garoto que não aceitava ser derrotado dentro das quatro linhas. Empurrado pelo seu amor pela jovem Laura, Amadeo aceita um "jogo contra" Ezequiel, e consegue uma estilosa vitória. Humilhado, Ezequiel jura uma vingança e acaba se tornando um astro do futebol. Agora adulto, Ezequiel retorna a cidade com um único objetivo: transforma-la em um grande parque temático sobre o futebol, incluindo ai, a destruição do bar em que Amadeo sempre trabalhou. Lutando pela cidade, Amadeo acaba desafiando Ezequiel para uma partida de futebol. O que ele não esperava é que uma ajuda mágica apareceria de forma inesperada. Seus velhos companheiros de totó ganham vida e prometem ajuda-lo nesta difícil missão.
Apesar do clima nostálgico sugerido pelo totó, o filme acaba apostando suas fichas nos carismáticos bonecos e brincando com alguns dos estereótipos que envolvem o futebol atual. Após ganharem vida, cada um dos "jogadores" ganham uma característica bem conhecida do grande público. Temos então o vaidoso Beto, que só fala o seu nome na terceira pessoa, o capitão Capi, o habilidoso que se acha melhor que os outros, o experiente Loco, que procura sempre agregar o grupo com os seus jargões populares, além do próprio Ezequiel, o grande vilão do filme, que parece destacar todo o lado negativo dentro do futebol atual. Na verdade, os grandes críticos do esporte acreditam que o excesso de marketing, a superexposição dos atletas, e as altas cifras, acabaram diminuindo toda a paixão popular pelo esporte. E essas características, justamente, acabam marcando o grande vilão do filme, Ezequiel, uma mistura negativa de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. E como se não bastassem os ótimos e bem construídos personagens, as piadas também são extremamente bem desenvolvidas, com muitas referências ao próprio futebol. A trama, no entanto, não se resume ao esporte, e acaba destacando o relacionamento entre os "jogadores". Se o desenvolvimento do roteiro não é tão surpreendente, e acaba apostando em dilemas já conhecidos, Campanella mostra toda a sua sensibilidade no tocante desfecho, com direito a uma divertida e empolgante partida de futebol.
Estreante em longas de animação, Juan José Campanella mostra um surpreendente desempenho dentro do gênero. Diferente do que muitos esperavam, o diretor concebe um filme maior, tecnicamente perfeito, que não se prende apenas as questões esportivas. Na verdade, com ótimo domínio da ferramenta 3-D, Campanella amplia a ação do filme, apostando também nas aventuras dos bonecos de totó, em meio ao nosso mundo. Com uma trilha sonora precisa, assinada por Emilio Kauderer, o longa nos brinda com sequências empolgantes, principalmente as que envolvem o lixão. Até mesmo toda a cena dentro do laboratório, diga-se de passagem, o momento mais falho da trama, consegue um resultado eficiente graças à construção digital. Além disso, o longa apresenta uma série de referências a outros clássicos do cinema, o que aproxima - ainda mais - os adultos da diversão. (O inicio remetendo ao clássico 2001 é sensacional. Uma das grandes cenas do ano.) Entretenimento de altíssima qualidade, Um Time Show de Bola é um dos melhores longas de animação de 2013. Dirigido por um argentino, com jogadores vestindo verde e amarelo, o longa leva para as telonas toda a paixão sul-americana pelo futebol. Um esporte que ainda hoje, com uma série de outros atrativos, é uma modalidade única, empolgante e hereditária. Uma coisa quase genética...
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