A ideia de usar a imersão no espaço para discutir temas complexos era promissora. Ainda mais quando descobrimos que no centro da reflexão está a descoberta sexual. Burger se alimenta da inquietude dos isolados jovens para expor o perigo da manipulação dos sentimentos. As boas intenções da missão liderada pelo racional Richard (Colin Farrell, perdido) esbarram numa egoísta visão desiludida. As neuroses dos jovens revelam a deformação gerada pela superproteção. Existe um paradoxo em Viajantes que tinha tudo para nortear a narrativa. Qual o direito que nós temos de aprisionar o presente em prol de uma promessa de futuro melhor? Um olhar provocante sobre a liberdade juvenil consumido por um texto descuidado e superficial.
Viajantes é uma Malhação no espaço. Os dilemas propostos são abordados com um senso de didatismo que emburrece a obra. Burger confunde inconsequência com idiotização. Na ânsia de catalisar a trama, o cineasta adota o maniqueísmo ao tratar temas como a desigualdade de gênero, o frisson sexual, o choque geracional e a luta pelo poder na espaçonave. Nada justifica a falta de ousadia do diretor ao abordar as sequelas deste experimento. Apesar das promessas no trailer, o longa nunca trata o sexo como um agente do caos. Burger nunca suja as mãos. Ele se recusa a estimular a trama a partir do descontrole dos protagonistas. O desnível no elenco capitaneado por Tye Sheridan, Lily Rose-Depp e Fionn Whitehead enfraquece a promessa de choque de forças sugerido. Com uma visão adolescente para um plot reflexivo, Viajantes é um Sci-Fi tolo e carente de te(n)são que desperdiça um material promissor numa viagem rumo a lugar nenhum.
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