Em 2013, quando Ben Affleck foi anunciado para viver o Batman no então promissor DC Universe, eu preparei uma lista (leia aqui) com uma série de atores muito subestimados. Realizadores que, mesmo após anos de serviços prestados, não tinham até aquela altura o reconhecimento do público e\ou da crítica. No caso de Affleck, em especial, era birra mesmo. É legal ver como muitos deles conseguiram mudar o seu status. Mark Ruffalo, por exemplo, se tornou um dos nomes mais requisitados de Hollywood graças a títulos como Foxcatcher (2014) e Spotlight (2015). Algo semelhante, aliás, aconteceu com o excelente Michael Shannon que, em pouco menos de seis anos, enfileirou grandes atuações em títulos do porte de 99 Casas (2014), Animais Noturnos (2016), A Forma da Água (2017). Outros nomes como os de Ben Foster, por outro lado, não conseguiram alcançar o status merecido. Mesmo enfileirando grandes performances, entre elas nos longas A Qualquer Custo (2016) e Sem Rastros (2018), o eclético ator segue reconhecido pela crítica, mas praticamente desconhecido aos olhos do grande público. Algo difícil de se explicar. Neste artigo, portanto, decidi atualizar esta lista lembrando de outros dez atores talentosíssimos absolutamente subestimados.
- Ben Mendelsohn
E para começar o nome que me fez
tirar do papel esta lista. Um dos atores mais versáteis da atualidade, Ben
Mendelsohn tem ficado conhecido por interpretar vilões em grandes blockbusters.
Foi assim em Jogador Nº1, Star Wars: Rogue One e no recente Capitã Marvel.
Tentar “tipificar” um nome como o de Mendelsohn, entretanto, é de uma injustiça
sem tamanho. Há muito tempo na estrada, o ator australiano de 50 anos coleciona
papéis desafiadores na sua carreira, com destaque para títulos como Reino
Animal (2010), O Lugar Onde Tudo Termina (2012), Encarcerado (2013), Parceiros
do Jogo (2015), O Destino de uma Nação (2017) e Gente de Bem (2018).
Definitivamente, Mendelsohn não merece ficar conhecido como um mero vilão de
filme pipoca.
- Shea Whigham
Outro cinquentão que sempre roubou a cena foi Shea Whigham. Um daqueles atores que, mesmo sem grandes protagonistas na carreira, se acostumou a deixar a sua marca, o ator norte-americano de cinquenta anos se tornou o tipo nome que agrega valor as produções em que participa. Mesmo em filmes considerados menores, ou com papeis menores em grandes produções, Whigham é o tipo de realizador que quase sempre é notado. O grande trabalho da sua carreira, entretanto, foi na televisão, como o irmão do mafioso Nucky Thompson na magnífica produção HBO Boardwalk Empire.
Com três indicações ao Oscar, Laura Linney é o tipo de atriz criminosamente subestimada. Expressiva, carismática, versátil e de uma beleza singular, a realizadora de 55 anos tem uma carreira muito sólida, mas nunca conseguiu alcançar o status popular de algumas das suas parceiras de geração. Talvez por vontade própria, talvez por falta de oportunidade, Linney se tornou a estrela de pequenas grandes produções cinematográficas. Foi assim com Conta Comigo (2000), Kinsey (2004), A Lula e a Baleia (2005), A Família Savage (2007). Nos últimos anos, para a decepção deste que vos escreve, Linney tem convivido com papeis incompatíveis com o seu talento no cinema, o que poderia significar um sinal de desprestígio. Na TV, porém, ela encontrou o espaço que precisava para brilhar. Seja com a cativante Mary Ann no 'revival' de As Crônicas de San Francisco, seja com a resiliente Cathy da elogiada série The Big C, seja com a destemida Wendy de aclamada série Ozark. Assim como Whingham, Laura Linney se acostumou a mostrar na tela pequena os motivos que a transformaram numa das atrizes mais subestimadas de Hollywood.
- Logan Marshall Green
Um dos nomes mais novos desta
lista, Logan Marshall-Green é um ator de presença. Por mais que a sua
semelhança física com astro Tom Hardy seja nítida, o norte-americano de 43 anos
tem construído uma carreira singular, brilhando em pequenos filmes como O
Convite (2015) e o recente Upgrade (2018). É difícil de entender, porém, a
escassez de grandes produções na carreira de Green. Com charme e talento, na
verdade, ele chegou até o MCU no ótimo Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Para
a decepção geral, no entanto, Green foi escolhido para viver o inexpressivo vilão
Shoker, um personagem minúsculo que não lhe rendeu a chance de
triunfar aos olhos do grande público. Assim como muitos nomes desta lista, de fato, ele tem buscado na TV o tipo de papel que tem lhe faltado tanto no
cinema, se destacando em produções como Damnation, Quarry e Olhos que Condenam.
A sua performance como agente penitenciário na obra de Ava Duvernay, aliás,
comprova o quão subestimado é Logan Marshall-Green.
- Kelly Macdonald
O que falar então da magnética Kelly Macdonald... Do alto dos seus 43 anos, a carismática atriz britânica ora e vez se destaca numa produção de pequeno\grande porte. Revelada por Danny Boyle no aclamado Transpotting, ela conseguiu construir uma filmografia de respeito. Títulos como Elizabeth (1998), Assassinato em Godsford Park (2001), Em Busca da Terra do Nunca (2004), Nanny McPhee (2005), Onde Os Fracos Não Têm Vez (2007), Anna Karerina (2012), Adeus Christopher Robin (2017) e O Quebra-Cabeça (2018) não me deixam mentir. Mesmo com papéis menores, Macdonald se revelou uma verdadeira ladra de cenas, conseguindo deixar sempre a sua marca nestas produções. Sabe-se lá porque, no entanto, ela não teve a oportunidade de triunfar como protagonista de um grande sucesso. Quer dizer, Kelly Macdonald dublou a princesa Merida na animação da Disney Valente (2012). Muito pouco para uma atriz que, na televisão, interpretou uma das melhores personagens femininas da década em Boardwalk Empire. Na pele da pacata Margaret Thompson, ela se transformou em cena ao viver a independente esposa do mafioso Nucky Thompson (Steve Buscemi), uma performance expressiva que deveria ter aberto mais portas para ela em Hollywood.
- Michael Kenneth Williams
E já que o assunto é Boardwalk
Empire, Michael Kenneth Williams deveria liderar qualquer lista de atores
subestimados aos olhos do mundo do cinema. Intenso, com uma presença cênica
única e um alcance dramático indiscutível, o ator nova iorquino de 53 anos teve
que suar a camisa para chegar onde se encontra. Ao contrário de muitos, que com
um único papel conseguem um passaporte para o sucesso, Williams teve que remar
contra a corrente. Romper com uma rotina de estereótipos. Quando a TV ainda
estava longe de ser um espaço de grandes estrelas, ele ajudou a redefinir o
‘status quo’ deste meio ao protagonizar a aclamada série The Wire. Nos anos
seguintes, porém, as oportunidades não apareceram. No cinema, em especial, o
“espaço” dado a um ator do seu nível beira o constrangimento. E diz muito sobre
a questão da desigualdade racial em Hollywood. Mesmo com papéis sólidos na TV,
vide o ‘bad-ass’ mafioso Chalky de Boardwalk Emprie, Michael Kenneth Williams
conseguiu certo destaque no excelente thriller Medo da Verdade, entrou no MCU
pela porta dos fundos com um papel pequeno em O Incrível Hulk, roubou a cena
como um esquálido ladrão no desconcertante A Estrada, fez parte do elenco de
apoio de 12 Anos de Escravidão, elevou o nível do recente Missão Mar Vermelho.
Muito pouco para um ator do seu porte. A indústria do cinema está em dívida com
Michael Kenneth Williams.
- Catherine Keener
Da série grandes atrizes “desvalorizadas” pela indústria do cinema, Catherine Keener é uma realizadora singular. Seus filmes transbordam humanidade. As suas personagens força e independência. Dona de uma filmografia robusta, a atriz, duas vezes indicada ao Oscar, está longe de ter o prestígio de outros nomes da sua profissão. Os motivos são inexplicáveis. Aos 60 anos, Keener segue enfileirando grandes atuações na TV e no Cinema. E em gêneros totalmente contrastantes. Seja como coadjuvante no ‘cult’ Irresistível Paixão, seja como uma ladra de cenas no ‘indie’ Quero Ser John Malkovich, seja como a namorada perfeito no impagável O Virgem de 40 anos, seja como uma escritora em Capote, seja como uma ‘hippie’ em Na Natureza Selvagem, seja como uma resiliente mulher em A Pequena Casa Rosa, seja como uma ameaçadora matriarca em Corra!. Keener costuma representar sinônimo de qualidade. Tal qual muitos nomes desta lista, porém, falta a ela papéis de destaque em grandes filmes, um reconhecimento que veio na televisão através de séries como Show Me a Hero.
Com uma versatilidade cada vez mais rara em Hollywood, Amy Ryan é daquelas que não quer saber de tempo ruim. Hoje com 51 anos, a atriz nova-iorquina se multiplicou ao longo da sua carreira em projetos dos mais variados tipos. Na TV, ele ganhou destaque com personagens recorrentes em séries como a tensa The Wire e a cômica The Office. No cinema, após ser indicada ao Oscar por sua soberba performance no já citado aqui Medo da Verdade, Ryan ganhou espaço em diversas produções, mas nunca com o status de “estrela”. O que, por si só, é uma pena. Basta ver as suas ótimas performances em títulos como Capote, A Troca, Ganhar ou Ganhar, Birdman, Ponte dos Espiões, Dois Espiões e Meio e o recente Querido Menino. Nem sempre como protagonista, quase sempre como coadjuvante, mas sempre deixando a sua marca. O tipo de atriz subestimada que nitidamente precisa de bem pouco material para se destacar.
- Lee Pace
O curioso caso de Lee Pace, o
ator “descoberto” pelo cinema blockbuster. Ao contrário de todos os nomes desta
lista, o norte-americano antagonizou\coestrelou alguns dos maiores blockbusters
dos últimos anos. De Crepúsculo a O Hobbit, de Guardiões da Galáxia a Capitã
Marvel. Pace, porém, é o tipo de ator pouco “desafiado” pela indústria. Com uma
presença imponente em cena, ele parece sofrer com a falta de personagens à
altura do seu talento. Em Lincoln, por exemplo, mesmo com um menor tempo de
tela, ficou claro que estávamos diante de um grande ator. No adorável Dublê de
Anjo, talvez o grande filme pequeno da sua carreira, Pace encanta ao viver um
homem adoentado disposto a tudo para ajudar uma pequena garotinha. Neste meio
tempo, assim como muitos desta lista, ele encontrou na TV a janela para
personagens mais complexos, como na curiosa série Pushing Dasies e na recente
Halt and Catch Fire.
- Michael Sheen
Dono de um carisma natural, Michael Sheen é mais um ator desta lista com inúmeras facetas. Apesar da sua presença física aparentemente pouco imponente, o ator costuma crescer em cena como poucos, o que o levou a franquias de gosto duvidoso como Anjos da Noite e a Saga Crepúsculo. Ele é o tipo de realizador que parece se divertir em cena. Daqueles que tenta extrair\entregar o máximo mesmo nos piores projetos. O seu verdadeiro talento, no entanto, só pode ser realmente visto em filmes menores. Como não citar, por exemplo, a sua marcante performance como o apresentador David Frost no excelente Frost\Nixon. Ou então o seu papel como um técnico ambicioso no delicioso Maldito Futebol Clube. Ou a sua explosiva atuação no subestimado thriller Ameaça Explosiva. Nos últimos anos, porém, o que tenho visto é cada vez menos espaço para atores do quilate de Michael Sheen no cinema. Especialmente em Hollywood. Menos mal que, assim como outros tantos desta lista, a TV não costuma desperdiçar tanto talento. Em séries recentes como Masters of sex, The Good Fight e Belas Maldições, Sheen segue se mantendo em evidência e comprovando toda a sua capacidade subaproveitada pelo mundo do cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário