Melissa McCarthy é o tipo de
atriz que, mesmo nos seus projetos mais despretensiosos, consegue garantir boas
risadas. Esse é o caso de Alma da Festa, uma comédia genuinamente feminina que
faz da sua falta de ambição o grande trunfo. Disposta a romper com alguns
enraizados clichês do gênero, o longa dirigido por Ben Falcone, o Srº McCarthy
na vida real, é honesto ao questionar com leveza e bom humor alguns dos tabus
ainda hoje impostos a muitas mulheres. E isso sob a perspectiva de uma pacata
mulher que, após ver o seu marido pedir o divórcio, decide correr atrás do
tempo perdido e voltar a faculdade.
Também responsável pelo
competente argumento, Melissa McCarthy renega os clichês do choque geracional
ao valorizar a união em detrimento do conflito. Mesmo sem abrir mão de alguns
velhos arquétipos dos ‘high-school movies’, entre eles o dá megera popular
(Debby Ryan) que agride sem qualquer tipo de motivo, Alma da Festa fisga ao
rapidamente dispensar qualquer tipo de rixa entre as mulheres. Inicialmente, na
verdade, Ben Falcone arranca risadas ao valorizar o clima de desconforto
causado Deanna (McCarthy) no momento em que ela decide dividir os corredores da
faculdade com a sua amistosa filha Maddie (Molly Gordon). Deslocada no tempo e
no espaço, a expansiva figura materna não demora muito para conquistar a
atenção das amigas de Maddie, iniciando assim uma relação de troca de
experiências capaz de ajuda-las a encarar os seus medos, inseguranças e a
atribulada vida de universitária.
Apesar da premissa sugerir algo mais
adocicado, Alma da Festa refresca uma fórmula batida ao debruçar sobre os
conflitos de Deanna com a reconhecida irreverência de Melissa McCarthy. Por
mais que, num primeiro momento, a protagonista remeta a outros tipos da
carreira desta talentosa atriz, Ben Falcone é astuto ao nunca reduzi-la ao
arquétipo da mãe careta. Deanna pode se vestir de forma “estranha”, pode agir
com um entusiasmo incomum, mas, escondida no rótulo da mulher de meia idade,
existe uma pessoa interessante, radiante e com muito a acrescentar a identidade
das suas jovens colegas. É legal ver como, sem nunca pesar a mão, o longa vai
além do choque geracional ao criar um vínculo de companheirismo entre elas.
Estamos diante de um ‘girlmance’ sólido, com um senso de humor afiado, um copilado
de gags consistentes e um elenco extremamente entrosado.
À medida que Deanne passa a se
encaixar no ambiente universitário, Alma da Festa cativa ao não perder tempo
demais com lições sobre o passado e os erros da vida adulta. Por mais que o
núcleo jovem seja em sua maioria oco, sem grandes conflitos e\ou motivações, o
roteiro é astuto ao extrair o bastante da dinâmica entre ela e as jovens
amigas, ao ir além da farra\piadas na tentativa de trazer alguma substância ao
texto. O resultado, embora longe de ser profundo, é eficiente, muito em função
do absurdo carisma de Melissa McCarthy. Acostumada (eu diria cansada) de
interpretar mulheres com baixa-estima, a expressiva atriz renega a visão
estereotipada da dona de casa divorciada ao fazer da sua Deanne uma figura
empoderada. Embora o foco esteja no humor escapista, McCarthy, no centro do
show do primeiro ao último minuto de projeção, consegue enxergar além das gags
ao conferir um bem-vindo peso ao arco da sua personagem, ao transformá-la numa
espécie de modelo para meninas com tanto a aprender sobre a vida. E isso,
óbvio, sem nunca escorregar no sentimentalismo. Muito pelo contrário. A graça
da longa, na verdade, está na sua capacidade de não se levar a sério por um
segundo sequer, o que fica bem claro, por exemplo, na impagável sequência do
tribunal, ou então na saborosa cena do jantar. Momentos pequenos que, graças ao
talentoso elenco, conferem a irreverência que o filme precisava para prosperar.
Maya Rudolph - para variar - está engraçadíssima.
Trazendo ainda um elenco jovem
entrosado e muito talentoso, destaque para Gillian Jacobs e a promissora Jessie
Ennis, Alma da Festa acerta ao dar a liberdade que Melissa McCarthy precisava
para desconstruir o arquétipo da mulher de meia idade frustrada tão comumente
explorado em Hollywood. Embora o longa consiga andar com as suas próprias
pernas, graças a direção competente de Ben Falcone e ao despretensioso texto, o
fato é que o charme da produção reside na luz própria da expressiva atriz e na
sua louvável capacidade de nunca se levar tão a sério assim.
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