terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Crítica | A Última Gargalhada

Rir para não chorar

O veterano Richard Dreyfuss faz o possível, imprime verdade, emoção e humor sempre que está em cena, mas A Última Gargalhada é um daqueles 'comeback movies' bem insossos. Previsível, brega e que (pior) se leva a sério demais. Um problema de tom grave que se reflete diretamente na deslocada performance Chavy Chase. Embora o roteiro e a direção de Greg Pritikin sejam por si só fracas, o maior pecado do longa fica pelo protagonismo dado a Chase e pela incapacidade do longa em torna-lo minimamente engraçado. 

Uma responsabilidade, diga-se de passagem, que não deve recair somente sobre os ombros do ator. Reconhecido pelo humor incorreto e um tanto quanto imaturo, o astro de Saturday Night Live, Clube dos Cafajestes e Férias Frustradas surge com um tipo sério e melancólico que só funciona bem como uma escada para Dreyfuss. Isso porque, sempre que exigido, Chase não consegue alcançar as melosas nuances dramáticas sugeridas pelo argumento. Quando se distancia da figura do seu radiante amigo, na verdade, o comediante se vê limitado também por um personagem ruim e genérico, um agente de comediantes às avessas com a velhice. O que só complica as coisas. A sequência do musical na carruagem, por exemplo, é constrangedora. A impressão que fica é que Chase está completamente perdido em cena diante do bizarro ‘chroma key’. E o que falar da aparição de Andie McDowell. Estrela de algumas das melhores comédias românticas dos anos 1990, entre elas Quatro Casamentos e um Funeral e Feitiço do Tempo, a plastificada atriz surge em cena como um aleatório interesse amoroso, tentando trazer para a obra um clima de comédia romântica (que ela conhece muito bem) que nunca se encaixa. 


Em contrapartida, mesmo jogado para escanteio na segunda metade do longa, o que explica a vertiginosa queda de qualidade da obra, Richard Dreyfuss salva o dia ao interpretar um ex-comediante disposto a - no fim da sua vida - voltar a experimentar os dias de glória da sua juventude. Mesmo com um material fraco e requentado em mãos, o eclético astro de Tubarão (1975), Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Além da Eternidade (1989) e Mr. Holland (1995) constrói um personagem vibrante, com anseios bem reais, contornando a fragilidade dos diálogos com muito carisma e coração. Os seus números de ‘stand-up comedy’, inclusive, são até bem engraçados, dando ao público a possibilidade de enxergar o talento deste magnífico ator. Daqueles que merece ter os seus melhores filmes redescobertos pelos mais jovens. 


Por outro lado, além de perder a oportunidade de tocar em temas mais “atuais” durante os números de comédia pelo EUA, o realizador pega pesado nos estereótipos não só quando o assunto é a velhice em si, mas também ao surgir com uma representação de Tijuana digna de pena. Um projeto de direção de arte risível que parece retirado de um improvisado esquete de humor. Tecnicamente, aliás, o trabalho de Pritikin é bem falho. Além de não conseguir extrair o mínimo de graça de um nome como Chavy Chase, o que (gostem ou não do seu estilo) deve ser uma missão bem difícil, o cineasta entrega uma película com sérios problemas de continuidade, um ‘mise en scene’ digno dos péssimos filmes de TV e uma trilha sonora cafona e extremamente ruidosa. Alguns dos bons momentos do longa, inclusive, são prejudicados pelos repetitivos acordes de um intrusivo piano, que parece por diversas vezes rivalizar com os diálogos e as cenas em si. Nem a luminosa fotografia de Steve Gayner é capaz de atenuar estes nítidos deslizes. 

Embora comece bem (a rotina no asilo é bem divertida) e termine bem (Dreyfuss eleva consideravelmente o nível do clímax), A Última Gargalhada se revela uma comédia melodramática e pouco inspirada que não consegue dar a esta talentosa dupla de atores um material minimamente qualificado. O resultado é uma espécie de primo pobre (bem pobre) do clássico Luzes da Ribalta (1952). Na verdade, estou até arrependido de ter sugerido esta tola comparação.

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