Disney, Dreamworks, Pixar,
Illumination, Ghibli... Competir com estas gigantes da animação não é uma
missão nada fácil. Num mercado cada vez mais concorrido, algumas pequenas
produções parecem se perder em meio aos grandes blockbuster. Ora e vez,
entretanto, eventos como o Oscar e o Globo de Ouro nos lembram que existe vida
inteligente fora deste imponente grupo. Um dos grandes destaques da última
temporada de premiações, The Breadwinner (A Ganha-Pão no Brasil) é o tipo de
produção que, por exemplo, de maneira alguma deveria ficar à margem do radar do
grande público. Num retrato desolador sobre a realidade das mulheres em solo
afegão, o longa dirigido pela irlandesa Nora Twomey provoca um misto de emoções
ao expor uma rotina frequentemente esnobada pelo público ocidental, se
insurgindo contra os pré-conceitos ao escancarar a política do medo
estabelecida pelo regime talibã. Um filme indispensável que, após passar em
branco circuito brasileiro, ganhou uma preciosa segunda chance ao entrar para o
catálogo da Netflix. Assim como The Breadwinner, entretanto, outras excelentes
produções do gênero não ganharam o status merecido junto ao grande público.
Neste artigo, portanto, eu trago uma lista com dez pequenas grandes animações
que não merecem cair no esquecimento.
- Em Busca do Vale Encantado (1988)
E para começar nada melhor do que
um clássico subestimado. Um filme que completa 30 anos em 2018. Antes de
Jurassic Park (1994) transformar os dinossauros numa coqueluche pop, de O Rei
Leão (1994) mostrar para a criançada o quão duro poderia ser o ciclo da vida,
Em Busca do Vale Encantado se tornou referência para uma geração ao mostrar a
luta pela sobrevivência no reino animal sob uma perspectiva lúdica e ao mesmo
tempo realística. Sob as asas da dupla George Lucas e Steven Spielberg, o
diretor Don Bluth flertou com elementos do cinema documental ao narrar a
jornada de Little Foot, um dinossauro pescoçudo que, após uma trágica perda, se
vê obrigado a guiar um grupo de filhotes até um oásis seguro e rico em comida.
Com uma pegada quase melancólica, que viria a se refletir mais tarde nas
melhores produções do gênero (a Pixar não me deixa mentir), o realizador nos
brindou com uma comovente história de amizade, um filme capaz de mostrar para a
criançada os obstáculos impostos pelo mundo real. Apesar do viés fabulesco, o
argumento é criativo ao tornar as desventuras dos cativantes personagens o mais
verossímeis possíveis, refletindo sobre temas como o ciclo da vida e a cadeia
alimentar sob uma perspectiva quase científica. Sem querer revelar muito, Bluth
é particularmente cuidadoso ao construir o denso arco do protagonista, trazendo
a tristeza para o universo das animações de maneira mais sólida e persistente. E
isso, obviamente, sem sacrificar o senso de diversão. A partir de adoráveis
personagens, entre eles a teimosa Saura, a carinhosa Patasaura, o medroso
Petrúcio e o guloso Espora, o realizador constrói uma aventura digna dos
melhores exemplares do gênero, uma obra com um forte senso de perigo e um
ambiente naturalmente ameaçador. Somado a isso, Bluth investe pesado na
qualidade da animação, o que fica claro na construção dos gigantescos cenários
e na maneira com que o longa explora os elementos naturais. Apesar da aparência
infantilizada dos protagonistas, ele preza pelo realismo ao construir os
embates entre os dinossauros, a deterioração da natureza, a presença de
fenômenos como os terremotos, as erupções vulcânicas e as grandes tempestades,
realçando a instabilidade do planeta Terra naquele período numa proporção bem
próxima aos fatos. Em suma, antes da retomada do gênero na década de 1990, Em
Busca do Vale Encantado resgatou a força do cinema de animação numa obra
singela e universal. Um filme que, apesar sucesso comercial nos EUA, é
frequentemente esnobado da lista dos principais títulos do segmento, se
tornando uma franquia mais voltada ao mercado 'home-vídeo'. Um longa que
merece ser redescoberto.
- O Mágico (2010)
Uma espécie de Luzes da Ribalta (1952) da animação, O Mágico causa um misto de emoções ao revelar o impacto da
decadência na alma de um artista. Conduzido com refinamento por Sylvain Chomet,
o mesmo do vigoroso As Bicicletas de Beleville (2003), o longa finca os dois
pés na realidade ao narrar a jornada de um mágico a mercê das mudanças
culturais. Numa proposta artisticamente rica, o realizador francês é incisivo
ao construir uma história de amizade guiada por temas como a solidão, a
melancolia e a esperança. Embora o humor pontue a trama com inteligência e
leveza, Chomet nos brinda com um drama adulto e envolvente, um filme
praticamente sem diálogos em acompanhamos a última tentativa de um homem de
sobreviver da sua arte. Fazendo um magnífico uso dos planos médios e abertos, o
diretor se distancia propositalmente da expressão dos seus personagens para
situa-los aos olhos do público, para evidenciar a sua vulnerabilidade num
cenário em que o vaudeville era gradativamente substituído pelos concertos de
rock, os shows de música e as máquinas eletrônicas. Com delicadeza, Chomet é
honesto ao retratar a tristeza por trás dos seus personagens, ao enxergar não
só a resiliência e a ponta de otimismo, como também a degradação e a dor. O
sopro de energia do longa reside na ingênua Alice, uma garota esforçada e
sonhadora que enxerga no mágico a possibilidade de deixar o seu pacato
vilarejo. Numa mútua relação de companheirismo, enquanto ela o inspira a seguir
buscando novas oportunidades, a dar voz ao seu bondoso lado paterno, ele o
apresenta a vida na grande cidade, aos vestidos, a cultura e as inúmeras
possibilidades até então inexploradas pela jovem. Deste crescente elo nasce um
arco denso e fraterno, uma história de transformação que só um homem mágico
poderia tirar da sua cartola. Além disso, nas entrelinhas, Chomet é crítico ao
lamentar o rumo da arte, da criatividade individual, questionando a
pasteurização (o rock surge como o símbolo deste monopólio) cultural ao
refletir sobre a face mais predatória do showbiz. Uma elegante e esteticamente
encantadora, O Mágico é uma animação para adultos, um filme sóbrio e profundo
sobre duas almas em busca dos seus sonhos.
- Shaun, O Carneiro (2015)
O último pequeno grande trabalho do estúdio Aardman, o mesmo dos aclamados A Fuga das Galinhas (2000) e Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005), Shaun, o Carneiro - O Filme ousa ao dar contornos elaborados a uma singela premissa familiar. Capturando com brilhantismo a essência narrativa do cinema mudo, a adorável animação dirigida por Richard Starzak e Mark Burton abre mão dos diálogos ao privilegiar a expressividade dos seus carismáticos personagens, comprovando ser capaz de comover e arrancar honestas risadas mesmo sem o auxílio das palavras. Fiel à técnica do stop motion, um recurso extremamente artesanal que se tornou a marca desta empresa britânica, o longa se distancia das soluções mais convencionais ao pintar uma aventura descompromissada e naturalmente divertida. Uma despretensiosa pérola da animação, potencializada pelo humor universal, pelo fantástico apuro visual e pela cativante atmosfera lúdica. E que personagens cativantes!
- Festa no Céu (2014)
Após quase quinze anos de
produção, o diretor Jorge R. Gutierrez faz de Festa no Céu uma ode ao vasto
folclore mexicano. E isso antes do hit Viva: A Vida é uma Festa. Apostando num
tom extremamente lúdico, destacado pelo fantástico e bem característico aspecto
visual, o longa produzido por Guillermo Del Toro encanta ao universalizar uma
história de amor, morte e companheirismo. Explorando com grande inspiração os
traços mais marcantes da religiosidade desta região, potencializada por uma
trama que não se preocupa somente com o lado comercial, a animação opta por
exaltar a vida através do tão tradicional Dia dos Mortos. Com uma narrativa
cheia de ritmo, pontuada pelo humor simples, o roteiro desenvolve com destreza
não só as noções religiosas, com uma série de nítidas referências ao
catolicismo, mas também as raízes culturais do povo mexicano. Trabalhando muito
bem com as influências paternais, típica dos países latinos, esta fábula
sobrenatural apresenta personagens elaborados, que fogem dos clichês e rótulos
do gênero. Ainda que no clímax o longa se renda a figura do típico vilão,
principalmente nas empolgantes sequências de ação, os personagens se mostram
multidimensionais, com uma série de facetas e dilemas. Evitando se prender ao
embate entre os amigos Manolo e Joaquim, até porque Maria está longe de ser a
típica donzela indefesa, o argumento evidencia a força dos personagens através
de bordões revolucionários e da característica atmosfera contestadora do povo
mexicano. Como se não bastasse isso, além das tocantes lições de amizade e
companheirismo, o longa aposta num bem-vindo tom pacifista, fortalecido pela
tolerante relação entre os personagens e pela importante crítica ao universo
das touradas. Uma opção que, na verdade, traz para o terreno mais crítico essa
bela mensagem pela vida, seja ela após a morte ou entre os vivos. Misturando o
melhor da animação tradicional e das correntes mais inovadoras, Festa no Céu se
revela uma produção singela e ao mesmo tempo empolgante. Prova disso é que em
meio aos envolventes números musicais, com direito a canções originais e a
versões mais latinas de clássicos como Creep (Radiohead), os traços estilizados
e a temática sobrenatural dão a animação uma atmosfera revigorante, com a cara
do “padrinho” Del Toro.
- Kubo e as Cordas Mágicas (2016)
Do visionário estúdio Laika, o mesmo dos excepcionais A Noiva Cadáver (2005) e Coraline (2009), Kubo e as Cordas Mágicas é uma fábula comovente e esteticamente exuberante que fascina por sua inesperada densidade. Por trás da típica jornada do herói, o longa dirigido por Travis Knight esconde uma poderosa mensagem de amadurecimento, um argumento capaz de lidar com temas como a morte, a dor da perda, a fé e a responsabilidade precoce sob um ponto de vista lúdico e universal. Sem nunca subestimar a inteligência do espectador, o longa faz um excelente uso da rica cultura japonesa ao investir numa trama aventureira, mas recheada de simbolismos, permitindo que adultos e crianças possam criar uma sincera conexão com o pequeno Kubo. E como se isso não fosse o bastante, Knight nos presenteia com uma das animações mais belas e engenhosas deste respeitado estúdio, um trabalho mágico e imponente que faz jus às mais elogiadas produções do aclamado e nipônico Hayao Miyazaki. Um longa intenso, com um subtexto realístico, que encanta não só pelo seu impressionante virtuosismo estético, como também pela delicadeza com que transita por temas tão densos e universais.
- A Canção do Mar (2014)
Um genuíno representante do
gênero Fantasia, A Canção do Mar encanta ao encontrar na riquíssima mitologia
irlandesa o ‘background’ necessário para a construção de uma fábula humana e
indiscutivelmente realística. Sob a lúdica batuta de Tom Moore, do igualmente
elogiável Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (2009), o longa resgata o frescor dos
maiores clássicos infantis ao narrar a jornada de amadurecimento de um esperto
garoto e a sua silenciosa irmã após uma dolorosa perda. Embora num primeiro
momento o argumento não sugira nada tão profundo assim, à medida que a trama
avança nos deparamos com uma verdadeira ode ao valor dos sentimentos humanos.
Sejam eles os alegres, ou então os tristes. Transitando delicadamente por temas
como o luto, a depressão e a ausência paterna, Moore é astuto ao criar um
inventivo paralelo entre a fantasia e a realidade, entre os problemas do
pequeno Ben e a parábola mitológica envolvendo fadas, seres poderosos e
petrificantes maldições. Numa obra com inúmeras camadas, é necessário elogiar o
esmero do longa em buscar um diálogo honesto tanto com a criançada (o seu
público alvo), quanto com os adultos de plantão. Na sua face mais infantil, A
Canção do Mar se revela uma aventura envolvente, um filme com personagens
cativantes, expressivos traços arredondados, cores vibrantes, humor ingênuo e
uma cativante construção de mundo. Já na fascinante camada mais madura, Moore
brilha ao traduzir os efeitos da depressão dentro de um contexto lúdico,
refletindo sobre a maneira com que lidamos com as nossas emoções ao se insurgir
contra a repressão, contra o desdém quanto aos nossos medos, desilusões e os
conflitos mais íntimos. Para o realizador, sentir é viver. Uma mensagem que, um
ano depois, viria a ganhar um contexto mais psicanalítico no extraordinária
Divertida Mente (2015). Com sequências arrepiantes, uma magnífica trilha sonora
e um sólido subtexto, A Canção do Mar é uma preciosa pérola da animação, um
conto fabulesco que, inspirado por títulos do quilate de O Mágico de Oz (1939),
História Sem Fim (1984) e A Viagem de Chiriro (2001), emociona ao permitir que realidade e
inocência caminhem de mãos dadas numa obra singela e reflexiva.
- Persepolis (2007)
Inspirado numa história real, Persépolis nos brinda com um relato particular sobre as transformações sociais, culturais e políticas do Irã durante as décadas de 1970 e 1980. Sob o contestador ponto de vista autobiográfico da precoce Marjane Satrapi, autora dos quadrinhos que inspiraram o filme e codiretora da animação, o longa também assinado por Vincent Paronnaud é cuidadoso ao revelar o impacto do fundamentalismo religioso na rotina de uma menina iraniana e da sua instruída família. Consciente da sua responsabilidade, a magnética animação é inteligente ao encontrar um sólido meio termo entre o aspecto micro e o aspecto macro do tema, expondo a realidade por trás deste período sob a perspectiva de uma jovem à procura da sua identidade. Quando o assunto é o pano de fundo político, Satrapi e Paronnaud são contundentes ao expor as sequelas da guerra, a dor, a violência, a repressão e a crescente onda fundamentalista. Fazendo um extraordinário uso dos contrastes entre as cores preta, branca e cinza, a dupla de realizadores nos brinda com sequências poderosas, a maioria delas ressaltando a deterioração física e emocional imposta pelo conflito. O uso do contraluz, em especial, é soberbo, resgatando o aspecto “chapado” das HQ’s graças a inspirada maneira com que os diretores destacam a silhueta e\ou a expressão dos personagens do fundo do quadro. Por mais que o ponto de vista de Marjane possa soar um tanto quanto inocente em muitos momentos, é legal ver como a dupla valoriza o idealismo dos protagonistas sem sacrificar a ordem dos fatos. O que era para se tornar um movimento de libertação, se torna um regime ainda mais repressor, e as consequências desta metamorfose são brilhantemente desenvolvidas ao longo da trama. A força de Persépolis, porém, está no cuidado do roteiro ao traduzir a jornada de Marjane diante deste novo regime. Transitando com energia entre a comédia e o drama, a película acerta ao trata-la como uma garota comum, que cresceu num cenário liberal, realçando a sua resiliência, rebeldia e o seu idealismo enquanto estabelece o cenário sombrio nascer a sua volta. Marjane é uma garota\mulher moderna, cosmopolita, com anseios e frustrações reconhecíveis. Através do seu olhar, os diretores se esforçam para mostrar um Irã esquecido pelo Ocidente, se insurgindo contra o rótulo retrogrado ao escancarar a triste realidade um povo que teve a sua liberdade tomada arbitrariamente. Com uma forte carga familiar, Persépolis é incisivo ao mostrar as sequelas da guerra sob um prisma universal, refletindo sobre as diferenças entre o passado e o presente iraniano com a propriedade de alguém que experimentou os “efeitos” da revolução na “melhor fase da sua vida”.
- O Menino e o Mundo (2016)
Dialogando com assuntos sérios e
espinhosos, O Menino e o Mundo é profundo ao abordar - dentre outras coisas -
as consequências do êxodo rural na rotina de uma pacata família do interior.
Apesar da aparência simples, potencializada pelos traços surreais e infantis, o
longa dirigido por Alê Abreu passeia com sutileza por alguns dos mais nocivos
problemas enfrentados pela sociedade brasileira. Através de um ponto de vista
doce e inocente, o argumento levanta uma poderosa bandeira contra a
industrialização, a desigualdade social e a opressão do governo, escancarando
temas como a violência, a poluição, o desemprego, a solidão e até mesmo a morte
nos grandes centros urbanos. Merecedor dos melhores elogios no que diz respeito
a esperta narrativa, a película encanta ao introduzir o mundo de cores
desbravado pelo jovem protagonista. Num trabalho incrivelmente autoral, Abreu
aposta num artesanal traço infantil, principalmente na concepção das paisagens
e do cativante personagem principal. Desde a fantástica primeira sequência,
quando a bucólica aldeia é gradativamente desenhada diante do espectador, somos
convidados a assistir um trabalho original e naturalmente expressivo. Para
compor algumas das cenas, por exemplo, o diretor e a equipe de animadores
resolveu utilizar recortes de revistas e jornais, incrementando elementos
simples com as casas, os carros e os edifícios. À medida que o menino entra em
contato com a cidade grande, chama a atenção também a maneira criativa com que
o realizador reproduz os perigos do modo de vida urbano, atribuindo uma aura
sinistra às máquinas e a figuras como os militares e os patrões. Ainda que o
ritmo do longa possa causar um estranhamento inicial no espectador mais
desavisado, O Menino e o Mundo eleva o patamar da animação brasileira ao
conseguir uma inesperada e absolutamente merecida indicação ao Oscar 2016. Uma
produção que nos enche de orgulho ao propor, sob um ponto de vista sensível e
curioso, um relato contemporâneo sobre a degradação do cada vez mais acelerado
modo de vida urbano.
- Minha Vida de Abobrinha (2017)
Suicídio, alcoolismo, abuso
infantil, dependência química, divórcio. É difícil, bem difícil, ver uma
animação voltada ao público infantil transitar por temas tão espinhosos. E isso
dentro de um contexto terno e cativante. Recheado de personagens marcantes e
arcos realísticos, Minha Vida de Abobrinha encanta ao mostrar a jornada de um
grupo de crianças que, ainda na infância, precisaram enfrentar a face mais cruel
do mundo “real”. Inspirado na obra de Gilles Paris, o longa dirigido pela dupla
Claude Barras e Michael Sinterniklaas não foge da raia ao se debruçar sobre
questões densas com inocência e uma rara dose de delicadeza. Apesar do viés
lúdico sugerir uma atmosfera infantilizada, a dupla de realizadores é cuidadosa
ao buscar um diálogo honesto com as crianças, optando por os tratar como iguais
ao mostrar que a vida (infelizmente) não é feita de brincadeiras e da
felicidade plena. Por mais que algumas questões se tornem mais nítidas aos
olhos do público adulto, Barras e Sinterniklaas conseguem entregar uma obra
acessível para a criançada mesmo com temas delicadíssimos, principalmente pela
maneira com que desenvolve a jornada do simpático Abobrinha e a sua relação com
um grupo de órfãos após uma traumática experiência. Fazendo um magnífico uso da
técnica do stop-motion, os personagens são expressivos, os cenários são
cativantes, o viés colorido surge como um bem-vindo respiro, o longa revigora à
medida que trata a amizade e os bons tratos como um elemento decisivo na
recuperação das crianças. Pouco a pouco os pesados dilemas dos protagonistas
são colocados em segundo plano, perdendo força diante do crescente e sincero
vínculo afetivo entre os órfãos. No final das contas, Minha Vida de Abobrinha
se revela então um precoce ‘coming of age movie’, um filme ora triste, ora
inspirador, sobre um grupo de crianças resilientes capaz de extrair do
companheirismo a força necessária para superar os seus respectivos traumas.
- Paranorman (2012)
Indicado ao Oscar de Melhor longa animado, ParaNorman se tornou uma das grandes surpresas do ano de 2012. Convidando o espectador a uma daquelas divertidas jornadas, o longa dirigido por Chris Butler e Sam Fell apresentou uma brilhante mistura de terror e aventura, fazendo referência a uma série de clássicos do cinema de Horror. Na trama, acompanhamos o jovem Norman, um garoto de 11 anos que tem o dom de ver e falar com os mortos. Levando uma vida aparentemente normal no colégio, ele vê a sua rotina mudar quando um dos seus tios revela que uma velha maldição está próxima de atingir a cidade e que só o garoto poderia livrar todos os habitantes da região. Através de traços criativos e personagens particulares, ParaNorman é tecnicamente um dos trabalhos mais bem resolvidos desta lista, sendo lançando, inclusive, em 3-D. Toda a sequência final, aliás, é digna de aplausos.
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