Não entendo porque os clichês são
tão vilanizados dentro da Sétima Arte. Óbvio que, em muitos casos, a falta de
originalidade incomoda. Concordo. A falta de boas ideias também. Mas não
consigo condenar uma obra pelo simples fato de se sustentar em clichês. A vida
é cheia de clichês. Por que as histórias não podem ser? Em alguns casos, vou
além, o clichê é a alma do negócio. O que fica bem claro no adorável Doentes de
Amor, uma envolvente comédia romântica que, embora não traga nada de realmente
novo, comprova que até as mais requentadas conveniências narrativas podem
funcionar quando exploradas com inteligência, ironia e uma comovente dose de
sinceridade. Inspirado nas experiências sentimentais de uma estrela em ascensão
da comédia nos EUA, o sarcástico Kumail Nanjiani (Silicon Valley), o longa
cativa ao expor a realidade de um paquistanês dividido entre os elos familiares
e o modo de vida ocidental, indo além do humor de estereótipos ao não confundir
despretensão com deboche. Mesmo sem se levar a sério por um segundo sequer,
Nanjiani é habilidoso ao “florear” a sua história de vida sem prejudicar a
força da sua mensagem, encontrando um perspicaz (eu diria cinematográfico) meio
termo entre a realidade e a ficção numa obra que não se envergonha em abraçar
os clichês da vida real.
Com roteiro assinado pelo próprio
Kumail Nanjiani, ao lado da sua esposa, a “verdadeira” Emilly V. Gordon,
Doentes de Amor é astuto ao ficcionalizar boa parte deste particular romance.
Sim meus amigos, muitos dos fatos narrados em cena não aconteceram na vida
real. E isto está longe de ser um problema. Na verdade, o casal é cuidadoso ao
se debruçar sobre o cerne da questão, o choque das culturas paquistanesa e
norte-americana, usando este conflito central como o ponto de partida para uma
história bem mais universal e atraente aos olhos do público. Até porque, cá
entre nós, qual seria a graça de Uma Linda Mulher (1990), por exemplo, se Julia
Roberts fosse uma dentista (nada contra as donas de casas) e Richard Gere um
contador (nada contra os contadores)? Ou então de Quatro Casamentos e um
Funeral (1994) se Hugh Grant fosse um crítico de cinema (nada contra os
críticos de cinema) e Andy MacDowell uma atarefada mulher de negócios (nada
contra as mulheres negócios)? Lá atrás, influenciado pelo midas da comédia
americana atual, Judd Apatow, Kumail entendeu que a história por trás do seu
casamento poderia sim dar um filme, mas que precisaria de alguns “toques”
cinematográficos. “Durante o desenvolvimento, nós definitivamente dissemos: - Bem,
foi o que aconteceu, mas é meio chato. Então, talvez pudéssemos apimentar isso
um pouco.”, confidenciou o protagonista\roteirista em entrevista ao ETonline.
E isso, obviamente, sem sacrificar a essência da obra, o sentimento do casal, o
que fica impresso em tela do primeiro ao último minuto de projeção.
Com a ironia de um realizador que
sabe rir de si próprio, Doentes de Amor segue os passos de Kumail (Kumail
Nanjiani), um comediante paquistanês que fez da sua nacionalidade o ‘plot’ para
os seus elogiados números de stand-up comedy. Incomodado com a possibilidade do
temido casamento arranjado, ele não titubeava em “iludir” a sua tradicionalista
família, ganhando o tempo necessário para se estabelecer enquanto humorista e
revelar os seus verdadeiros anseios. Tudo muda, no entanto, quando ele conhece
a carismática Emilly (Zoe Kazan), uma jovem terapeuta que também não parecia
interessada em um relacionamento sério. Após alguns (muitos) encontros,
entretanto, ela é pega de surpresa ao descobrir que Kumail não estava
interessado em oficializar o seu romance. Relutante quanto ao repentino
término, ele decide tentar seguir a sua vida novamente, sem sequer desconfiar
que um telefonema na madrugada e uma misteriosa doença o faria finalmente
refletir sobre as suas prioridades. Com Emily em coma, Kumail é obrigado a enfrentar
o peso das suas “protetoras” mentiras, principalmente no momento em que precisa
conviver com os pais da sua futura\ex-namorada, o compreensível Terry (Ray
Romano) e a explosiva Beth (Holly Hunter).
Curiosamente, porém, preciso
confessar que, em Doentes de Amor, um dos maiores clichês das
comédias-românticas não funcionou comigo. O longa dirigido por Michael
Showalter não me fisgou como num caso de “amor à primeira vista”. Numa proposta
– digamos – mais naturalista do que o de costume no gênero, o roteiro se
esforça para tentar situar o espectador quanto a posição do protagonista, mas
se alonga exageradamente ao tentar estabelecer simultaneamente os seus
conflitos pessoais, profissionais e familiares. Não que isso interfira na
construção\desenvolvimento da realística relação entre Kumail e Emilly. Como se
não bastasse a evidente química entre Najiani e Kazan, o roteiro é
particularmente engraçado ao traduzir o misto de desconforto e entusiasmo no
começo de uma relação, nos brindando com momentos genuínos e naturalmente
cômicos. Vide a sequência do café na madrugada. O problema é que, apesar das
boas intenções, ao longo do inchado primeiro ato Showalter se prende demais, em
especial, ao universo do stand-up comedy, investindo em tipos nem tão divertidos
assim e num arco que talvez explique o grande senão do longa: as excessivas
duas horas de projeção. Menos mal que, neste meio tempo, o argumento é
cuidadoso ao estabelecer os simpáticos coadjuvantes, principalmente o clã dos
Najiani, preparando o terreno para a grande virada na trama.
Embora fiel aos fatos, Emilly na
vida real realmente ficou doente e precisou enfrentar o coma, Naijiani e Gordon
apimenta as coisas ao trazer novos elementos para esta equação, elevando o
patamar do longa ao abrir espaço para os pais da protagonista. Sob um prisma
original, Michael Showalter encanta ao se debruçar com afinco sobre a
improvável relação entre Kumail, Terry e Beth, refletindo, através deles, sobre
o amor, paternidade e a complexa missão que é a vida a dois. Sem nunca pesar a
mão, o casal de roteiristas é sagaz ao transitar por temas tão recorrentes com
leveza e ironia, preenchendo a trama com diálogos irreverentes e situações
impagáveis que têm muito a dizer sobre os três personagens. Embora as piadas
funcionem de maneira equilibrada ao longo de toda a película, os três reforçam
o potencial cômico da película, principalmente quando explora o desconforto do
ex-namorado diante dos seus ex-sogros. Além disso, é interessante ver como
Naijiani usa o seu sarcasmo como uma espécie de antídoto para o melodrama,
impedindo que o longa recaia no terreno do sentimentalismo ao usar o humor como
uma compreensível estratégia de defesa dos seus personagens. Um predicado
valorizado pelas impagáveis performances do pacato Ray Romano e da expansiva
Holly Hunt, positivamente comuns como um casal em constante rota de colisão
precisando se unir diante do bem-estar da sua querida filha. Quando necessário,
entretanto, o argumento é delicado ao traduzir tanto a troca de experiências do
trio, quanto o crescente elo entre Kumail e a sua enferma ex-namorada, mantendo
a aura romântica mesmo diante da forçada separação. Somado a isso, nas
entrelinhas, apesar do evidente descompromisso com que trata o tradicionalismo
da sua religião, Naijiani é astuto ao questionar a rotina de casamentos
forçados e a imposição cultural familiar. Por mais que ele não esteja no centro
desta crítica, é interessante ver como o roteiro abre uma pequena brecha para
uma coadjuvante aparentemente irrelevante, revelando que, o que para muitos é
motivo de piada, para alguns poucos é motivo de frustração e tristeza.
Sem medo de recorrer aos clichês, que invadem a tela com energia e verdade dentro do refrescante último ato, Doentes de Amor resgata o prestígio das populares comédias-românticas numa obra que sai em defesa das conveniências da vida real. Com personagens carismáticos, um roteiro inteligente e uma generosa dose de sarcasmo, o casal Kumail Naijiani e Emilly Gordon usa a sua própria história de amor como exemplo para mostrar que de alguns clichês podem nascer bons frutos. Seja no Cinema, seja na vida real.
Um comentário:
É uma linda história de amor, o filme que eu amei. Kumail Nanjiani tem muito talento como escritor. Ele é um ótimo ator e muito talentoso para fazer dublagem. Em Lego Ninja Go, ele fez um ótimo trabalho. Sempre fui fã do filmes para crianças, eu gosto por que em cada produção procuram incluir uma mensagem e não somente para os pequenos, pois podemos aprender muito destas produções e nos divertir ao mesmo tempo. Juro que vale muito a pena ver, por que apesar de que é uma historia feita completamente para crianças, sente que esta muito bem adequada para que qualquer membro da família possa ver e ficar encantado com a história. Eu recomendo totalmente.
Postar um comentário