O diretor argentino Hector Babenco faleceu na noite desta quarta-feira (13), aos 70 anos, vítima de uma parada cardíaca. Segundo a produtora Denise Winther, da HB Filmes, o realizador estava internado no Hospital Sírio Libanês para um procedimento cirúrgico e não resistiu ao mal súbito. Nascido em Mar del Plata, na Argentina, Babenco se naturalizou brasileiro em 1977, ano em que lançou o seu primeiro grande sucesso, o popular Lúcio Flávio: Passageiro da Agonia. Estrelado por Reginaldo Faria, Ana Maria Magalhães e Grande Othelo, o longa conquistou quatro Kikitos de Ouro no Festival de Gramado e o Prêmio do Juri no Festival de Cinema de São Paulo. Quatro anos depois, mais precisamente em 1981, Hector Babenco voltaria os holofotes com o lançamento do aclamado Pixote: A Lei do Mais Fraco. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, o filme estrelado por Fernando Ramos da Silva e Marília Pera escancarou a violência nas ruas de São Paulo, se revelando um relato documental e altamente crítico.
O maior sucesso de sua carreira, no entanto, viria com O Beijo da Mulher Aranha (1985). Numa co-produção Brasil\Estados Unidos, o longa estrelado por Raul Julia e William Hurt acompanha a improvável relação de amizade entre um prisioneiro de esquerda e um homossexual condenado por "corrupção de menor". Lançado no auge das Ditaduras Militares na América Latina, o filme foi aclamado pela crítica internacional e recebeu quatro indicações ao Oscar (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado). Destas, apenas Hurt saiu com a estatueta. Com status de estrela em Hollywood, Babenco foi convidado para dirigir Ironweed (1987), um romance dramático estrelado por Jack Nicholson e Meryl Streep. De volta as co-produções internacionais, o diretor comandou o grandioso Brincando nos Campos do Senhor (1991), um drama de três horas de duração estrelado por nomes do porte de Tom Berenger (O Atirador), John Lithgow (Planeta dos Macacos: A Origem), Daryl Hannah (Blade Runner), Aidan Quinn (Lendas da Paixão) e Kathy Bates (Titanic).
Já em 1998, Hector Babenco lançou Coração Iluminado, um longa autobiográfico motivado pela sua árdua luta contra o câncer linfático. Na trama, após regressar à Argentina para visitar o seu pai doente, Juan (Miguel Angel Sola) descobre que o amor da sua vida ainda está vivo e resolve encontrar o seu paradeiro. Uma belíssima obra. De volta as produções mais críticas, o diretor colocou o dedo na ferida ao reproduzir um dos mais trágicos episódios da história recente de São Paulo: o massacre do Carandiru. Em Carandiru (2003), Babenco voltou aos holofotes internacionais ao construir um relato intimista e visceral, inspirado na obra do médico Drauzio Varella. Impulsionado pelas primorosas atuações de Rodrigo Santoro, Gero Camilo, Milhem Cortaz e Lázaro Ramos, o diretor conseguiu uma indicação para a Palma de Ouro no Festival de Cannes e foi bem recebido pela crítica internacional. Os últimos trabalhos de Hector Babenco foram os menores O Passado (2007) e o recente Meu Amigo Hindu (2015). Este último, aliás, reproduziu o doloroso processo de tratamento do realizador sob um ponto de vista lúdico e ficcional, evidenciando alguns dos seus conflitos mais íntimos.
Como não podia deixar de ser, a morte do diretor causou uma grande comoção entre os seus parceiros de profissão. Dirigida por Babenco, Sônia Braga usou o seu Facebook para agradecer o apoio do realizador. "O mundo às vezes nos distancia. (...) Acabamos vivendo, na lembrança, dos bons dias que passamos juntos e das alegrias que compartilhamos. Sempre serei grata a Hector pelos dias que passei filmando O Beijo da Mulher Aranha - que o levou, merecidamente, a concorrer ao Oscar. Vou sentir falta deste reencontro. (...) Siga em Paz." revelou a atriz que atualmente mora nos EUA. Comandado pelo realizador em Carandiru, Lázaro Ramos lembrou do estilo de Babenco e do seu forte temperamento. "Babenco é um diretor que desafiava o ator a fazer sempre o seu melhor. Um homem de personalidade forte, responsável por peças fundamentais para o nosso cinema. (...) Descanse em paz", concluiu o ator via Instagram.
Uma das protagonistas de Meu Amigo Hindu, Maria Fernanda Cândido lembrou da beleza dos seus filmes e o classificou como um dos grandes do cinema. "Um dos gigantes da sétima arte. Diretor que marcou profundamente minha trajetória. Com quem tive a sorte de trabalhar. Seus filmes traduzem a beleza em si. Descansa em paz, Hector". Parceiro de profissão, o diretor Jorge Furtado foi categórico e destacou a relevância do argentino para o cinema nacional. "Hector Babenco foi, na minha opinião, o realizador brasileiro com o maior número de grandes filmes: Pixote, O Beijo da Mulher Aranha, Ironweed, Lucio Flavio, O Rei da Noite, Carandiru, Brincando nos Campos do Senhor. Grande perda para o cinema, num ano que já nos levou Ettore Scola e Abbas Kiarostami." concluiu o diretor de Meu Tio Matou um Cara, Saneamento Básico: O Filme e O Homem que Copiava.
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