Lançado diretamente em DVD no Brasil, O Apostador se revela uma grata e estilosa surpresa. Estrelado por um abatido Mark Wahlberg (Transformers: A Era da Extinção), o longa, refilmagem do drama setentista homônimo estrelado por James Caan (O Poderoso Chefão), desvia o foco da história original ao narrar a jornada de um professor universitário que nas horas vagas se tornava um jogador compulsivo. Elegante e comedida, a película conduzida por Rupert Wyatt, do ótimo Planeta dos Macacos: A Origem, investe no clima de suspense ao investigar as nuances deste complexo protagonista, encontrando no texto ágil e profundo um aliado extremamente poderoso.
Com roteiro assinado por William Monahan, o mesmo do excelente Os Infiltrados, O Apostador acompanha as desventuras de Jim Bennett (Wahlberg), um autodestrutivo professor universitário que parece não ter mais qualquer apetite de viver. Neto de um multimilionário, ele fazia o possível para se manter distante da família, inclusive da sua independente mãe (Jessica Lange, soberba), levando uma perigosa rotina de apostas e empréstimos nos porões de alguns dos maiores cassinos ilegais da região. Devendo a máfia coreana e a um agiota local (Michael Kenneth Williams), Jim recebe um ultimato e, em apenas sete dias, terá de conseguir cerca de US$ 300 mil para se manter vivo. Inicialmente resignado, não demora muito para o professor perceber a consequência das suas atitudes, principalmente quando dois dos seus alunos se tornam alvos destes temidos gangsters.
No embalo da magnética performance de Mark Wahlberg, irretocável ao traduzir o blasé ar vazio do seu personagem, Rupert Wyatt incrementa o instigante argumento com uma direção inegavelmente estilosa. Tirando o máximo proveito da soturna fotografia do australiano Greig Fraser (A Hora mais Escura), brilhante ao capturar a tensão do submundo da jogatina, o realizador inglês mostra pleno controle narrativo ao acompanhar os derradeiros sete dias do professor, revelando com ritmo e virtuosismo estético os motivos que o transformaram nesta figura tão pessimista. Na contramão da versão original, que focava basicamente na discussão envolvendo os malefícios do vicio, Wyatt propõe uma bem vinda inversão ao se concentrar na autodestrutiva persona do protagonista. Um homem que encontrou no jogo, ou melhor, na linha tênue entre o fracasso e a vitória, as emoções que mais lhe faziam falta.
Propondo uma série de interessantes discussões existenciais, potencializadas pelo afiado argumento e pela primorosa presença de John Goodman, O Apostador foge do lugar comum ao mostrar o universo do vício em jogos sob um ponto de vista inegavelmente autoral. Ainda que o último ato seja ligeiramente condescendente com a figura do protagonista, principalmente no que diz respeito a relação entre Jim e Amy (interpretada com categoria pela nova sensação de Hollywood Brie Larson), Rupert Wyatt merece elogios pela forma como transforma um aparentemente dispensável remake num requintado e envolvente suspense dramático.
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