Detonado pela crítica norte-americana, o problemático reboot da franquia Quarteto Fantástico teve uma estreia decepcionante nos EUA. Segundo o site Box Office Mojo, o longa dirigido por Josh Trank (Poder sem Limites) faturou US$ 25,6 milhões nos seus três primeiros dias em cartaz, frustrando as expectativas comerciais da Fox. Com um orçamento de US$ 122 milhões, o estúdio acreditava que o longa pudesse chegar a marca dos US$ 45 milhões no seu primeiro fim de semana, quase o dobro do que o novo Quarteto conseguiu realmente faturar. Estrelado pelos talentosos Milles Teller (Whiplash), Michael B. Jordan (Fruitvale Station - A Última Estação), Jamie Bell (Billy Elliot) e Kate Mara (Atirador), a aventura com toques de Sci-Fi teve um resultado inicial bem abaixo das duas adaptações da Fox envolvendo a superfamília da Marvel. Enquanto o leve e questionável primeiro Quarteto Fantástico (2005) estreou conseguindo US$ 56 milhões, dois anos depois o ligeiramente superior Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007) teve um resultado melhor e somou US$ 58 milhões nos seus três primeiros dias em cartaz. À critério de comparação, entre os últimos principais lançamentos do gênero, o novo Quarteto só conseguiu superar as aberturas de Mulher-Gato (2004), da Warner, que somou US$ 16 milhões, de Elektra (2005), da Fox, que conseguiu US$ 12 milhões, e de Motoqueiro Fantasma 2 (2012), da Sony, que faturou US$ 22 milhões.
Com 9% de aprovação no Rotten Tomatoes e 27 pontos no Metascore, o reboot de Quarteto Fantástico sofreu com uma série de problemas durante a fase de produção e pós-produção. Em meio a uma série de especulações, a maioria delas envolvendo as tais "divergências criativas" entre diretor e estúdio, Josh Trank (Poder Sem Limites) parece ter perdido as rédeas do seu próprio trabalho. Acusado de ter um "comportamento errático no set", o realizador (foto acima) teria sofrido com as interferências externas da Fox, culminando com cenas refilmadas e algumas modificações dentro do roteiro. Segundo o site Bleeding Cool, os executivos do estúdio não teriam gostado da primeira versão do longa, que na visão deles seria "mais Poder Sem Limites 2 do que Quarteto Fantástico". Coincidentemente ou não, o último ato do novo Quarteto ficou marcado pela nítida mudança de tom, se rendendo as sequências de ação genéricas e a uma atmosfera que se distancia por completo da proposta apresentada ao longo do primeiro ato. Neste final de semana, aliás, ao ver o seu trabalho ser massacrado pela crítica internacional, Trank utilizou uma rede social para externar a sua frustração. "Um ano atrás, eu tinha uma versão fantástica desse filme. E isso teria recebido ótimas críticas.", disse o realizador - via Twitter - lamentando a interferência do estúdio. O problema é que esse mesmo realizador, semanas antes da estreia do longa, afirmou a Entertainment Weekly que o reboot seria "épico" e que "o público poderia esperar um filme "enorme, grandioso e com embates super poderosos". Contradições à parte, o fato é que a evidente falta de sintonia entre Trank e a Fox pode explicar esta enxurrada de críticas negativas, ressaltando os perigos comerciais e criativos por trás de uma problemática grande produção.
Vale lembrar, no entanto, que as tais "divergências criativas" já fizeram outras vítimas dentro dos filmes de super-heróis. Se olharmos para trás, lá em 1980, Superman II teve que ser rodado por dois diretores. Impulsionado pelo sucesso do original, que dois anos antes havia faturado US$ 300 milhões ao redor do mundo, o diretor Richard Donner foi novamente escalado para conduzir a sequência estrelada por Christopher Reeve. Após rodar quase 80% do filme, Donner e os produtores entraram em rota de colisão, o que o levou a abandonar a produção. Em meio a uma série de polêmicas, já que alguns dos atores teriam saído em defesa de Donner, o longa foi quase todo refilmado pelo então produtor Richard Lester, mantendo apenas as cenas rodadas previamente com o astro Gene Hackman. Apesar de Superman II ter sido um sucesso de público e crítica, a continuação acabou ficando marcada pela pegada mais bem humorada, fato que para muitos fãs teria significado a derrocada da franquia nos oscilantes dois trabalhos seguintes. Outro título que sofreu com as interferências externas foi X-Men Origens - Wolverine (2009). Dirigido por Gavin Hood (Infância Roubada), o longa passou por problemas durante a sua produção e a pós-produção, mostrando o quão danosa pode ser a interferência dos executivos. Segundo consta, o produtor executivo da Fox Tom Rothman teria exigido que a trama tivesse uma tom mais leve, inserindo não só mais cenas de ação, como também uma série de personagens coadjuvantes. Como não lembrar da desastrosa versão de Deadpool, que completamente descaracterizado se tornou um grande alvo das críticas dos fãs das HQ's. Apesar dos muitos problemas, pra piorar o filme chegou a vazar na internet semanas antes do lançamento, Wolverine teve um bom resultado nas bilheterias e faturou US$ 373 milhões em todo mundo.
Mais recentemente, aliás, o diretor Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto) foi outro a sucumbir diante das interferências de um estúdio. Idealizador original do projeto cinematográfico do Homem-Formiga (confira aqui a nossa opinião sobre a aventura), o cultuado realizador viu que os seus objetivos seriam frustrados pelo domínio criativo da Marvel Studios. Disposto a fazer um longa independente dentro do universo Vingadores, ele entrou em rota de colisão com os executivos ao ver o seu roteiro revisado, amenizando o lado moral da trama e espalhando os sempre aguardados 'easter-eggs' da franquia. Segundo o Latino Review, Wright deixou a direção por este motivo, mas curiosamente o seu nome seguiu creditado como um dos roteiristas da película, numa decisão que merece elogios. Apesar da saída do ácido diretor ter sido lamentada por seus colegas, Joss Whedon (Os Vingadores) chegou a admitir ao Buzz Feed que o roteiro de Wright "era o mais Marvel" que ele já tinha lido, Homem-Formiga sobreviveu sem o britânico e nas mãos de Peyton Reed (Sim, Senhor) ganhou a cara que a Marvel queria dar ao longa. Bem recebido pela crítica e pelo público, a minúscula aventura estrelada por Paul Rudd e Michael Douglas representou uma espécie de vitória para os dois lados deste embate. Isso porque, enquanto Wright manteve-se fiel às suas convicções, se recusando a perder o controle da sua própria criação, a Marvel seguiu a bem sucedida linha dos seus últimos trabalhos, oferecendo aos fãs um filme divertido, empolgante e comercialmente interessante. Confira a nossa opinião sobre o novo Quarteto Fantástico, longa que nitidamente foi atrapalhado por esta queda de braço criativa entre a Fox e o diretor Josh Trank.
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