Inspirado no filme sérvio 'Death of a Man in the Balkans' (2012), Sorria, você está sendo filmado falha ao explorar o humor negro em torno da sua excêntrica premissa. Dirigido pelo experiente Daniel Filho (Se eu Fosse Você), a comédia até carrega consigo algumas boas ideias, a maioria delas relacionada a sua elaborada estrutura narrativa, mas perde força diante da fragilidade do roteiro e da falta de acidez ao pincelar uma crítica sobre a atual sociedade brasileira. Apostando em personagens caricatos e num tom exageradamente teatral, o longa escapa de ser um completo desperdício graças ao competente elenco, que, capitaneado pelo hilário síndico beberrão vivido pelo experiente Otávio Augusto (Vamp), abraça o inusitado de maneira digna e levemente divertida.
Narrado a partir de um único ponto de vista, uma câmera que simula a imagem de uma webcam, esta comédia faz um interessante trabalho no que diz respeito a sua proposta narrativa. Fazendo um belo uso do baixo orçamento, Daniel Filho se distancia da previsibilidade ao rodar o filme quase todo num plano sequência, no melhor estilo Birdman (confira a nossa opinião aqui), dando liberdade para o seu elenco ao promover pouquíssimos cortes de cena. Em contrapartida, todo este apuro estético esbarra na fragilidade do argumento assinado pelo experiente diretor, ao lado de Fernando Ceilão, que mais parece retirado das genéricas e cada vez menos inspiradas sitcoms televisivas. Na trama, que se inicia com um suicídio em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, um atrapalhado porteiro (Lazaro Ramos) e a sua esposa faxineira (Roberta Rodrigues) são os primeiros a encontrarem o morto. Chocados com a situação, os dois espalham a notícia pelo prédio, atraindo a atenção do síndico beberrão (Otávio Augusto), da sua narcisista esposa (Suzana Vieira) e de um oportunista agente funerário (Lúcio Mauro Filho). Enquanto aguardam a policia e os legistas, o grupo passa a discutir a possibilidade de ganhar visibilidade com a notícia, vivendo as mais insanas situações sem saber que a câmera do computador do falecido estava registrando toda a situação.
Apesar da premissa carregar certa dose de humor negro, o argumento em nenhum momento consegue mostrar pleno domínio sobre tal gênero. Ainda que algumas passagens correspondam a expectativa, como na hilária presença de um corretor de imóveis (Marcos Caruso) e a sua desesperada tentativa de venda do apartamento, num todo as piadas recorrem a soluções mais banais, promovendo uma estereotipada crítica a hipocrisia social. Através de tipos bem recorrentes, como um porteiro atrapalhado, um policial de moral dúbia, ou uma ex-atriz frustrada, o longa tece um superficial questionamento sobre essa necessidade de aparecer às custas de qualquer situação. Até porque, apesar de tamanha tragédia, a discussão em torno desta perspicaz ideia acaba se reduzindo a possibilidade deles darem uma entrevista a um telejornal Global. Em meio a piadas ora insossas, ora ligeiramente engraçadas, a comicidade da trama acaba sendo verdadeiramente garantida pelo afiado elenco. Se esforçando ao máximo para potencializar o humor, o rodado time de atores demonstra uma invejável química em cena, tirando um baita proveito a linguagem teatral defendida por Daniel Filho. Ensaiado por somente nove horas, tal qual uma peça de teatro, o texto flui com naturalidade ao longo dos ágeis oitenta minutos de projeção, ganhando contornos mais caprichados graças aos improvisos e a entrega de nomes como os de Lazaro Ramos, Suzana Vieira, Lúcio Mauro Filho e Juliano Cazarré. O grande destaque do longa, no entanto, fica para o divertidíssimo Otávio Augusto, único personagem que funciona regularmente ao longo do roteiro.
Se perdendo por completo ao longo do último ato, que começa bem com a entrada dos dois policiais, mas se conclui de maneira apressada e nada inspirada, Sorria, você está sendo Filmado desperdiça uma original premissa num trabalho muito mais frustrante do que divertido. Ainda que arranque algumas honestas risadas e que se destaque pela sua trabalhosa estrutura narrativa, esta simplista comédia de humor negro parece buscar mais inspiração na enfadonha repetição de Zorra Total, do que na acidez espirituosa de Sai de Baixo.
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