Instigante do início ao fim, Crepúsculo dos Deuses comprova cena após cena os motivos pelo qual é considerado um dos maiores clássicos da sétima arte. Vencedor de três Oscar, Melhor Roteiro, Direção de Arte e Trilha Sonora, esta atemporal obra de arte encontra nas estupendas atuações de Gloria Swanson (Indiscreta) e William Holden (Rede de Intrigas) o magnetismo necessário para desenvolver uma intensa e refinada pérola do cinema noir. Conduzido com genialidade por Billy Wilder (Quanto mais Quente Melhor, Inferno Nº 17), esta cínica crítica a indústria do entretenimento impressiona pela forma estupenda com que se apropria do suspense, utilizando os bastidores de Hollywood para questionar o reflexo do ostracismo na vida de uma estrela dos filmes mudos. Através de uma impecável aura sombria, que cresce gradativamente rumo a um sufocante clímax, o realizador constrói um daqueles argumentos incrivelmente envolventes, se apropriando brilhantemente da metalinguagem ao nos apresentar a insana relação de uma reclusa atriz e um desesperado roteirista.
Numa verdadeira aula de cinema, mesmo revelando um dos mistérios da trama na cena de abertura, Wilder desfila o seu reconhecido talento ao manter o clima de tensão sempre em alta. Explorando como poucos a grandiosidade da era de ouro de Hollywood, com seus sets suntuosos e a vastidão de detalhes, o diretor constrói uma angustiante atmosfera soturna, que só potencializa esse predatório relacionamento marcado pela clausura, pelo sentimento de posse e pela decadência. Através da estupenda fotografia de John F. Seitz (Farrapo Humano), completamente ímpar ao capturar a expressividade dos protagonistas, o realizador constrói uma hipnotizante história de amor e obsessão, tecendo uma rara e venenosa crítica à incessante busca pelos holofotes. Em meio a tantos predicados, o argumento de Charles Brackett, Billy Wilder e D.M. Marshman Jr. narra as desventuras de Joe Gills (Holden), um roteirista fracassado à procura do seu lugar ao sol. Com os seus scripts sendo rejeitados pelos produtores, Joe vê o seu sonho ficar ameaçado em função de uma grave crise financeira. Numa daquelas peças do destino, no entanto, o roteirista acaba parando na mansão de Norma Desmond (Swanson), uma isolada estrela do cinema mudo que divide o seu casarão com o fiel mordomo Max (Erich von Stroheim). Disposta a tudo para voltar a brilhar, a "esquecida" atriz logo se aproxima dele, o convidando para reescrever o roteiro de uma peça que ela tentou adaptar. Empolgado com a rentável oferta, Joe é rapidamente tragado para a deteriorada rotina de Norma, se vendo cada vez mais preso num excêntrico e tirânico relacionamento.
Apostando de maneira inspirada na figura do narrador, neste caso o morto, Crepúsculo dos Deuses é absolutamente refinado ao abordar os reflexos do ostracismo. Através de personagens gradativamente desenvolvidos, cujo segredos e conduta vão sendo revelados camada por camada, Wilder usa da metalinguagem para conceber uma relação altamente nociva, que só cresce com a entrada da jovem e também roteirista Betty Schaefer (Nancy Olson). Utilizando os bastidores de Hollywood de maneira sagaz, com direito a participações muitíssimo especiais de nomes como os do astro Buster Keaton (A General) e do diretor Cecil B. DeMille (Os Dez Mandamentos) o longa utiliza a transição do cinema mudo para o falado como pano de fundo para a construção de Norma Desmond, uma instável atriz que parece não aceitar a sua realidade. A partir de caprichados diálogos, que trazem ainda mais peso para as grandes atuações, chama a atenção a forma natural com que Wilder aproxima estas figuras completamente diferentes, utilizando como elo o apetite voraz pela fama. De um lado temos a decadente Norma, uma mulher que defende a sua grandeza acreditando que "os filmes é que ficaram pequenos para ela". Numa avassaladora atuação de Gloria Swanson, que diferente da sua personagem soube lidar com o advento da fala no cinema, Norma ganha traços propositalmente teatrais e exagerados, externando de maneira primorosa toda a complexidade da atriz. Se Swanson entrega uma performance expansiva, com direito a uma inestimável homenagem a Charles Chaplin, William Holden dá contornos bem mais íntegros ao seu Joe. Num desempenho impecavelmente contido, o ator explora com brilhantismo as nuances do seu roteirista, se dividindo entre o conforto dado por Norma e a sua inusitada condição enquanto realizador.
Recheado de sequências notáveis, com destaque máximo para o retorno de Norma aos grandes estúdios, Crepúsculo dos Deuses mostra para as novas gerações que não é de hoje que alguns realizadores voltam os seus holofotes contra a própria indústria da sétima arte. Abrindo as portas para títulos recentes como Birdman, O Artista, Acima das Nuvens e O Último Ato, Billy Wilder constrói um assombroso relato sobre o jogo de aparências e egos que sustenta Hollywood. Ofuscado no Oscar pelo igualmente fantástico A Malvada, vencedor em seis categorias, incluindo a de Melhor Filme, este requintado longa encontra no espetacular e esteticamente inventivo desfecho a contundência necessária para - já no início da década de 1950 - evidenciar os perigos em torno da predatória transição da fama para o ostracismo.
Numa verdadeira aula de cinema, mesmo revelando um dos mistérios da trama na cena de abertura, Wilder desfila o seu reconhecido talento ao manter o clima de tensão sempre em alta. Explorando como poucos a grandiosidade da era de ouro de Hollywood, com seus sets suntuosos e a vastidão de detalhes, o diretor constrói uma angustiante atmosfera soturna, que só potencializa esse predatório relacionamento marcado pela clausura, pelo sentimento de posse e pela decadência. Através da estupenda fotografia de John F. Seitz (Farrapo Humano), completamente ímpar ao capturar a expressividade dos protagonistas, o realizador constrói uma hipnotizante história de amor e obsessão, tecendo uma rara e venenosa crítica à incessante busca pelos holofotes. Em meio a tantos predicados, o argumento de Charles Brackett, Billy Wilder e D.M. Marshman Jr. narra as desventuras de Joe Gills (Holden), um roteirista fracassado à procura do seu lugar ao sol. Com os seus scripts sendo rejeitados pelos produtores, Joe vê o seu sonho ficar ameaçado em função de uma grave crise financeira. Numa daquelas peças do destino, no entanto, o roteirista acaba parando na mansão de Norma Desmond (Swanson), uma isolada estrela do cinema mudo que divide o seu casarão com o fiel mordomo Max (Erich von Stroheim). Disposta a tudo para voltar a brilhar, a "esquecida" atriz logo se aproxima dele, o convidando para reescrever o roteiro de uma peça que ela tentou adaptar. Empolgado com a rentável oferta, Joe é rapidamente tragado para a deteriorada rotina de Norma, se vendo cada vez mais preso num excêntrico e tirânico relacionamento.
Apostando de maneira inspirada na figura do narrador, neste caso o morto, Crepúsculo dos Deuses é absolutamente refinado ao abordar os reflexos do ostracismo. Através de personagens gradativamente desenvolvidos, cujo segredos e conduta vão sendo revelados camada por camada, Wilder usa da metalinguagem para conceber uma relação altamente nociva, que só cresce com a entrada da jovem e também roteirista Betty Schaefer (Nancy Olson). Utilizando os bastidores de Hollywood de maneira sagaz, com direito a participações muitíssimo especiais de nomes como os do astro Buster Keaton (A General) e do diretor Cecil B. DeMille (Os Dez Mandamentos) o longa utiliza a transição do cinema mudo para o falado como pano de fundo para a construção de Norma Desmond, uma instável atriz que parece não aceitar a sua realidade. A partir de caprichados diálogos, que trazem ainda mais peso para as grandes atuações, chama a atenção a forma natural com que Wilder aproxima estas figuras completamente diferentes, utilizando como elo o apetite voraz pela fama. De um lado temos a decadente Norma, uma mulher que defende a sua grandeza acreditando que "os filmes é que ficaram pequenos para ela". Numa avassaladora atuação de Gloria Swanson, que diferente da sua personagem soube lidar com o advento da fala no cinema, Norma ganha traços propositalmente teatrais e exagerados, externando de maneira primorosa toda a complexidade da atriz. Se Swanson entrega uma performance expansiva, com direito a uma inestimável homenagem a Charles Chaplin, William Holden dá contornos bem mais íntegros ao seu Joe. Num desempenho impecavelmente contido, o ator explora com brilhantismo as nuances do seu roteirista, se dividindo entre o conforto dado por Norma e a sua inusitada condição enquanto realizador.
Recheado de sequências notáveis, com destaque máximo para o retorno de Norma aos grandes estúdios, Crepúsculo dos Deuses mostra para as novas gerações que não é de hoje que alguns realizadores voltam os seus holofotes contra a própria indústria da sétima arte. Abrindo as portas para títulos recentes como Birdman, O Artista, Acima das Nuvens e O Último Ato, Billy Wilder constrói um assombroso relato sobre o jogo de aparências e egos que sustenta Hollywood. Ofuscado no Oscar pelo igualmente fantástico A Malvada, vencedor em seis categorias, incluindo a de Melhor Filme, este requintado longa encontra no espetacular e esteticamente inventivo desfecho a contundência necessária para - já no início da década de 1950 - evidenciar os perigos em torno da predatória transição da fama para o ostracismo.
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