Trazendo no currículo os elogiados 'A Órfã' (2009), 'Desconhecido' (2011) e 'Sem Escalas' (2015), Jaume Collet-Serra comprova a sua competência no envolvente Noite sem Fim. Novamente impecável ao potencializar a tensão em torno de um eficiente argumento, o realizador mostra pleno domínio criativo ao conceber uma atmosfera naturalmente sufocante, trazendo contornos particulares a uma aparentemente previsível jornada de redenção. Tendo em mãos um elenco extremamente afiado, liderado outra vez pelo sessentão Liam Neeson (Busca Implacável), o diretor espanhol é absolutamente maduro ao lidar com os recorrentes clichês do gênero, construindo assim um thriller de ação vigoroso, denso e surpreendentemente sentimental. Mesmo se rendendo a algumas forçadas de barra, daquelas que só os mais rigorosos vão se incomodar, o longa encontra nas caprichadas sequências de ação, nos humanos personagens, e no latente clima de suspense um bem resolvido caminho para narrar a impactante rixa entre duas famílias unidas pelo crime.
Utilizando a véspera de Natal como um perspicaz pano de fundo, justamente uma data símbolo dos encontros familiares, o roteiro assinado por Brad Ingelsby é habilidoso ao colocar em cheque as relações afetivas entre pais e filhos. Trazendo estas diferenças para um cenário mais violento, o submundo do crime organizado em Nova Iorque, o longa conta a história de Jimmy Conlon (Liam Neeson), um assassino profissional que dedicou a sua vida aos "serviços" do mafioso local Shawn Maguire (Ed Harris). Apesar da nítida lealdade entre os dois, que cresceram e fizeram as suas carreiras juntos, Jimmy e Shawn enfrentaram de maneira diferente os reflexos desta incursão ao universo da ilegalidade. Enquanto o líder prosperou, construindo uma família estável e se esforçando para limpar o seu nome, o atirador abriu mão de tudo o que sempre amou, incluindo o seu único filho Mike (Joel Kinaman). Completamente diferente do beberrão e solitário pai, o motorista de luxo nunca quis se envolver com a bandidagem, encontrando um rumo ao lado da esposa (Genesis Rodriguez) e de suas duas filhas. As coisas, no entanto, saem do controle quando ele leva dois traficantes à casa de Danny (Boyd Holbrook), único filho de Shawn. Disposto a se ver livre de uma dívida, Danny mata os dois homens e passa a perseguir Mike, que vira a única testemunha do crime. Acuado com a situação, o motorista é salvo por Jimmy, que se vê obrigado a matar o filho do seu único amigo. Irado e com desejo de vingança, Shawn coloca toda a cidade no rastro dos dois, fazendo com que pai e filho coloquem as diferenças de lado e se unam para evitar o extermínio da família Conlon.
Por mais que o estopim da história se dê através de coincidências exageradamente convenientes, o argumento procura fugir do lugar comum ao se aprofundar nas nuances de cada um dos protagonistas. Embalado pela aura sombria da película, potencializada pela expressiva fotografia noturna de Martin Ruhe (Um Homem Misterioso), o roteiro abre espaço para o desenvolvimento dos humanos personagens, mostrando que esta espiral de vingança e violência é liderada por homens vulneráveis, repletos de medos e aflições, que precisam esquecer o passado para defender as suas respectivas famílias. Em meio às intensas sequências de ação propostas por Collet-Serra, a trama não parece ter pressa para explorar os dilemas entre Mike e Jimmy, apresentando de maneira natural e gradativa os motivos que acabaram os separando. Se esquivando das reviravoltas mirabolantes, a dinâmica relação entre pais e filho traz um interessante peso ao longa, se tornando um precioso complemento para as fulminantes trocas de tiros e as imprevisíveis perseguições. Chama a atenção, aliás, a forma como o diretor espanhol alimenta o senso de urgência a cerca das desventuras dos Conlon's, mantendo o clima de apreensão em alta ao apostar em criativas transições de cena, onde a câmera parece flutuar aceleradamente de um local ao outro, e na inegável sensação de perigo iminente, que acaba incrementada pela fluidez com que os fatos se desenrolam ao longo de uma única noite. Méritos que, diga-se de passagem, precisam ser divididos com o primorosos efeitos sonoros, em muitos momentos os tiros chegam a assustar, e com a fantástica trilha sonora de Junkie XL (300 - A Ascensão do Império), que pontua inspiradamente tanto as sequências frenéticas, como também as mais intimas.
É na capacidade do elenco, porém, que Noite sem Fim acaba se diferenciando dos demais. Considerado a principal estrela do cinema de ação atual, Liam Neeson mais uma vez impressiona ao criar um complexo 'bad-ass', capturando com destreza os problemas de Jimmy. Dando vida a um tipo inicialmente bêbado, com direito a uma hilária representação como Papai Noel, Neeson novamente é certeiro ao dar naturalidade ao seu personagem, tornando evidente que por trás da letalidade dele existe um homem devastado e fragilizado. Assim como o astro de Busca Implacável, Joel Kinnaman (Robocop) tem um desempenho igualmente satisfatório. Uma das principais caras novas do cinema europeu, o ator mostra o seu talento ao dar contornos únicos a um personagem nitidamente convencional. Apesar do seu Mike não possuir tantas camadas, a dinâmica do sueco com Neeson é um dos pontos altos da história, culminando com uma jornada de reaproximação orgânica e livre dos sentimentalismos baratos. A grande performance deste thriller, no entanto, fica pelo sempre competente Ed Harris (O Show de Thruman). Interpretando um intrincado antagonista, Harris ganha o personagem mais interessante da trama, criando uma respeitosa relação de contrastes com o Jimmy de Neeson. Responsável pelas reações mais intempestivas, a dinâmica entre os dois é o maior trunfo deste filme, rendendo cenas ora singelas, ora explosivas. Com destaque para a rara sutileza envolvendo a última cena entre os dois.
Contando ainda com as competentes atuações de Vincent D'Onofrio (O Juiz), certeiro como o policial ávido por justiça, e do rapper Common (Selma), que dá vida a um eficiente assassino profissional, Noite sem Fim repete o efeito Sem Escalas e já é uma das gratas surpresas de 2015. Apesar das pequenas falhas do roteiro, a maioria delas referentes as soluções forçadas e aos exageros típicos do gênero, Jaume Collet-Serra mostra novamente o seu talento ao conduzir o clima de tensão do início ao fim, mantendo o espectador angustiado com a inusitada e violenta noite de Natal da família Conlon. Sem renegar as principais fórmulas do cinema de ação, o diretor espanhol se esquiva das previsibilidades ao trabalhar com alguns elementos particulares, adicionando a esta requentada premissa não só vistosas sequências de ação, mas também bem aplicadas doses de suspense e drama.
Por mais que o estopim da história se dê através de coincidências exageradamente convenientes, o argumento procura fugir do lugar comum ao se aprofundar nas nuances de cada um dos protagonistas. Embalado pela aura sombria da película, potencializada pela expressiva fotografia noturna de Martin Ruhe (Um Homem Misterioso), o roteiro abre espaço para o desenvolvimento dos humanos personagens, mostrando que esta espiral de vingança e violência é liderada por homens vulneráveis, repletos de medos e aflições, que precisam esquecer o passado para defender as suas respectivas famílias. Em meio às intensas sequências de ação propostas por Collet-Serra, a trama não parece ter pressa para explorar os dilemas entre Mike e Jimmy, apresentando de maneira natural e gradativa os motivos que acabaram os separando. Se esquivando das reviravoltas mirabolantes, a dinâmica relação entre pais e filho traz um interessante peso ao longa, se tornando um precioso complemento para as fulminantes trocas de tiros e as imprevisíveis perseguições. Chama a atenção, aliás, a forma como o diretor espanhol alimenta o senso de urgência a cerca das desventuras dos Conlon's, mantendo o clima de apreensão em alta ao apostar em criativas transições de cena, onde a câmera parece flutuar aceleradamente de um local ao outro, e na inegável sensação de perigo iminente, que acaba incrementada pela fluidez com que os fatos se desenrolam ao longo de uma única noite. Méritos que, diga-se de passagem, precisam ser divididos com o primorosos efeitos sonoros, em muitos momentos os tiros chegam a assustar, e com a fantástica trilha sonora de Junkie XL (300 - A Ascensão do Império), que pontua inspiradamente tanto as sequências frenéticas, como também as mais intimas.
É na capacidade do elenco, porém, que Noite sem Fim acaba se diferenciando dos demais. Considerado a principal estrela do cinema de ação atual, Liam Neeson mais uma vez impressiona ao criar um complexo 'bad-ass', capturando com destreza os problemas de Jimmy. Dando vida a um tipo inicialmente bêbado, com direito a uma hilária representação como Papai Noel, Neeson novamente é certeiro ao dar naturalidade ao seu personagem, tornando evidente que por trás da letalidade dele existe um homem devastado e fragilizado. Assim como o astro de Busca Implacável, Joel Kinnaman (Robocop) tem um desempenho igualmente satisfatório. Uma das principais caras novas do cinema europeu, o ator mostra o seu talento ao dar contornos únicos a um personagem nitidamente convencional. Apesar do seu Mike não possuir tantas camadas, a dinâmica do sueco com Neeson é um dos pontos altos da história, culminando com uma jornada de reaproximação orgânica e livre dos sentimentalismos baratos. A grande performance deste thriller, no entanto, fica pelo sempre competente Ed Harris (O Show de Thruman). Interpretando um intrincado antagonista, Harris ganha o personagem mais interessante da trama, criando uma respeitosa relação de contrastes com o Jimmy de Neeson. Responsável pelas reações mais intempestivas, a dinâmica entre os dois é o maior trunfo deste filme, rendendo cenas ora singelas, ora explosivas. Com destaque para a rara sutileza envolvendo a última cena entre os dois.
Contando ainda com as competentes atuações de Vincent D'Onofrio (O Juiz), certeiro como o policial ávido por justiça, e do rapper Common (Selma), que dá vida a um eficiente assassino profissional, Noite sem Fim repete o efeito Sem Escalas e já é uma das gratas surpresas de 2015. Apesar das pequenas falhas do roteiro, a maioria delas referentes as soluções forçadas e aos exageros típicos do gênero, Jaume Collet-Serra mostra novamente o seu talento ao conduzir o clima de tensão do início ao fim, mantendo o espectador angustiado com a inusitada e violenta noite de Natal da família Conlon. Sem renegar as principais fórmulas do cinema de ação, o diretor espanhol se esquiva das previsibilidades ao trabalhar com alguns elementos particulares, adicionando a esta requentada premissa não só vistosas sequências de ação, mas também bem aplicadas doses de suspense e drama.
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