Vibrante cinebiografia opta por destacar o lado mais icônico do "Padrinho do Soul"
Colocando o tradicional ritmo do Funk como o grande elo da trama, sempre guiando a vida do músico nos piores e melhores momentos, o roteiro assinado por Jez Butterworth e Steven Baigelman demonstra grande leveza ao conduzir o processo de formação da centralizadora e auto confiante personalidade de JB. Narrado de forma não linear, com direito a saltos temporais muito bem aplicados pela equipe de montagem, a história viaja organicamente pelas contrastantes fases da vida do ícone pop. Evitando se prender ao melodrama, o roteiro é preciso ao mostrar como a miserável criação de Brown foi responsável pela construção desta elaborada personalidade. Na verdade, as adversidades de sua juventude são mostradas como um aprendizado, uma espécie de etapa bem sucedida para um bem maior. Utilizando a própria figura de James Brown como um interlocutor, o argumento demonstra criatividade ao colocar o músico em contato direto com os espectadores. Por diversas vezes, ele interage de forma bem performática com a câmera, com direito a piscadas, sorrisos e mensagens de auto ajuda, explicando como o abandono de seus pais (os intensos Lennie James e Viola Davis) o tornou uma figura mais forte, mais decidida, mas não menos solitária.
O mais legal, no entanto, é que enquanto destaca esta postura quase egocêntrica, capaz de ameaçar por motivos banais, o diretor Tate Taylor demonstra sensibilidade ao descortinar as fragilidades de James Brown. Contando com a expressiva interpretação de Chadwick Boseman, elétrico não só na fiel reprodução das mais emblemáticas apresentações do cantor, como também na recriação deste instável temperamento, o argumento foge do lugar comum ao ressaltar a complicada ligação entre Brown e os parceiros de banda. Com destaque para a tocante relação com o braço direito Bobby Byrd, que ganha um status ainda maior devido a contida atuação de Nelson Ellis (Histórias Cruzadas). Único a acreditar no talento de Brown, e tolerar as suas crises de estrelismo e arrogância, o pianista dá um grande peso a trama ao ser mostrado como mais do que um simples parceiro da música. Explorando as nuances desta amizade ao longo de quase cinco décadas, incluindo a dependência que um tinha do outro, essa relação diminui, até mesmo, a má impressão deixada pela falta de profundidade envolvendo o processo de decadência do músico. Um grande pecado, diga-se de passagem, já que o estupendo trabalho de maquiagem impressiona - especialmente - na caracterização desta fase mais envelhecida do cantor.
Essa, no entanto, parece ser a verdadeira intenção de Tate Taylor em James Brown. Ao se concentrar no lado mais icônico do "rei da música soul", a envolvente cinebiografia opta por exaltar a figura lendária, o mito por trás do homem, destacando a genialidade e o tamanho do legado deixado pelo cantor. Em meio a admirável direção de arte, que reproduz de forma impecável os shows, figurinos e os contrastes da vida do cantor, aos consistentes coadjuvantes, com destaque para os desempenhos de Viola Davis, Dan Akroyd e Craig Robinson, e as incríveis performances musicais, o longa se diferencia ao mostrar de forma contundente o lado mais humano e imperfeito da icônica personalidade de JB.
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