Quem conhece a carreira do diretor Rolland Emmerich, sabe muito bem da capacidade deste realizador em desenvolver os populares "filmes catástrofe". Trazendo no currículo trabalhos como Independence Day, 2012, o Dia Depois do Amanhã e Godzilla (1999), o diretor alemão acabou se consagrando como um daqueles nomes que torna os seus blockbusters grandes sucesso de público. Aproveito essa introdução para ressaltar a minha surpresa ao assistir o drama Anônimo, um longa completamente distante dos seus principais trabalhos. Nos apresentando uma popular teoria da conspiração sobre a obra do célebre William Shakespeare, Emmerich constrói uma instigante trama, marcada por conspirações, disputas de poder, excelente direção de arte e intensas atuações.
Com roteiro assinado por John Orloff, Anônimo tenta dar vida a uma secular teoria: Shakespeare seria uma fraude? Explorando todo o jogo de poder entre os nobres e a realeza britânica do XVI, a trama narra a história do Conde Edward (Rhys Ifans), um nobre apaixonado por teatro e pela literatura. Impedido pelo conservadorismo da família real de assinar as suas próprias obras, Edward transformava toda a frustração e revolta política em grandes obras. Numa de suas visitas aos teatros populares, ele conhece o escritor Ben Jonson (Sebastian Armesto), um promissor autor que atraí grande público as suas peças. Com intuito de popularizar os seus trabalhos, Edward pede para que Ben assuma as suas tramas. Esbarrando em questões ideológicas, Ben passa a missão para Will Shakespeare (Rafe Spall), um carismático ator que não titubeia ao assinar as obras de Edward. Surpreendido pelo rápido sucesso, Jonson passa a se incomodar com toda a situação, e com o fato de Will se promover através de obras que não são suas. Em meio a todo o frenesi ao redor das peças, Jonson se torna o estopim para uma crise envolvendo dois jovens nobres, o conselheiro real William Cecil (David Thewlis) e o passado da própria rainha Elizabeth I.
Narrada em dois tempos distintos, Anônimo é uma daquelas tramas que surpreende pela sua complexibilidade. Ciente da repercussão desta teoria envolvendo Shakespeare, Emmerich demonstra grande cuidado ao desenvolver todos os personagens, evidenciando os possíveis motivos que levaram o Conde Edward a não assumir as próprias obras. Demonstrando um grande respeito com toda linguagem teatral, o roteiro intercala as obras de Shakespeare à sua trama, permitindo que ficção e realidade se confundam. Explorando todos os contextualizados clássicos, que ainda hoje ganham impecáveis adaptações, o diretor alemão desenvolve a robusta trama não linear de forma impecável. Demonstrando uma grande habilidade na condução dessas idas e vindas do roteiro, Emmerich tira o máximo de seu competente elenco, com destaque para as expressivas atuações de Vanessa Redgrave, Rhys Ifans, David Thewlis e Edward Hogg. Um time que se entrega de corpo e alma ao bom roteiro, permitindo que toda a narrativa tenha o seu merecido peso.
Uma ode a literatura clássica, Anônimo nos brinda com uma abordagem autoral e extremamente polêmica sobre a carreira de William Shakespeare. Indo além das especulações, este intrigante drama, na verdade, acaba ressaltando toda a significância da obra deste escritor. Apostando numa belíssima recriação histórica, com direito a figurinos detalhistas, grandes castelos e uma expressiva fotografia, Rolland Emmercich valoriza o poder que as palavras tem, seja para conquistar um amor, seja para causar uma revolução, seja para entrar na história.
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