quarta-feira, 16 de julho de 2014

Transformers - A Era da Extinção

Tiros, robôs e bombas.

Admitindo fazer seus filmes para os fãs, e não para os críticos, o diretor Michael Bay mostra em Transformers - A Era da Extinção que o seu faro para as grandes bilheterias segue bem apurado. Maior arrecadação de 2014 até o momento, esta quarta continuação não se esforça para tentar trazer algo novo para a poderosa série baseada nos brinquedos da Hasbro. Apostando na repetição da fórmula da trilogia original, incluindo ai a ação desenfreada, as grandes sequências de destruição, o humor claudicante e a trama cheia de furos, Bay tenta valorizar a presença humana dentro desta sequência. O que ele consegue, no entanto, é deixar claro como Optimus Prime, Bumblebee e sua turma são fundamentais para o êxito comercial desta franquia. 

E para fortalecer o lado humano, em meio a grande batalha Transformer, Bay decidiu contar com um verdadeiro "herói" dos filmes de ação. Sai então o carismático, mas histérico Shia Labeouf, para a entrada do experiente e versátil Mark Wahlberg. Uma mudança que - inegavelmente - traz mais marketing ao filme, ainda mais pessoas aos cinemas, mas que pouco acrescenta ao resultado final do longa. E isso, é verdade, se deve a incompetente trama, que não consegue ser minimamente plausível e justificável. Com roteiro assinado por Ehren Kruger, dos igualmente frágeis A Vingança dos Derrotados e O Lado Oculto da Lua, a quarta continuação se passa poucos anos após a grande batalha entre Autobots e Decepticons.


Perseguidos por uma organização governamental, que pretende usar a tecnologia Transformers para a construção de robôs civis, Optimus e seus amigos decidem se espalhar pelos EUA a procura de refúgio. É ai que conhecemos o fracassado Cade (Wahlberg), um fanático por tecnologia que segue a procura da invenção que lhe dará rios de dinheiro. Com problemas para criar a filha adolescente Tessa (Nicola Peltz), ele vê a sua vida mudar quando encontra um sucateado Optimus Prime. Sem saber dos perigos que estão por vir, Cade acaba trazendo o líder dos Autobots de volta a vida. Contando com a ajuda do inventor, da filha e do namorado dela (Jack Reynor), Optimus precisará reunir os Autobots resistentes para combater LockDown, um caçador de recompensas alienígena que está ao lado desta poderosa organização militar.


Buscando criar uma ligação entre a trilogia original e esta nova continuação, Michael Bay tenta ampliar todo o universo que cerca os Transformers. Em meio às explosivas e recorrentes batalhas, já visando futuras sequências, uma série de novos personagens e sub tramas são praticamente jogadas na cara do espectador. Sem qualquer cuidado nesta condução, a entrada de Cade na história é o menor dos problemas. Na verdade, a ideia de utilizar um inventor frustrado como o novo elo entre os Transformers e os humanos se mostrou uma sacada interessante. Pena que essa seja, talvez, a unica ideia original desta continuação. Com uma confusa trama em mãos, toda a promissora descrença dos Autobots é muito mal explorada, assim como a tentativa de tornar os humanos mais significativos perante os gigantescos robôs. Explorando de forma preguiçosa os dilemas envolvendo Cade e sua família, Bay perde a oportunidade de conseguir criar algo semelhante ao apresentado no ótimo primeiro longa. Por mais que Mark Wahlberg tenha uma segura atuação, se empenhando nas boas cenas de ação, o resto do elenco parece trabalhar no piloto automático, não contribuindo nas poucas brechas entre as frenéticas batalhas.


Com gigantescas falhas de continuação, personagens somem e aparecem como num passe de mágica, o roteiro se mostra repetitivo em muitos momentos. Voltando a velha caça dos humanos aos Autobots, as soluções encontradas por Kruger são tão frágeis e confusas quanto toda a história. Ainda que o personagem de Stanley Tucci seja realmente interessante, e que a ideia de explorar comercialmente a tecnologia Transformers funcione visualmente, Bay não consegue trazer qualquer tipo de profundidade a contestada trama. A impressão é que fizeram um grande "brainstorm" na hora de conceber o roteiro, pegaram todas as ideias possíveis e inimagináveis, e realizaram um longa de 2 h e 35 min de duração. Tudo é desculpa para uma explosão maior do que a outra, um robô maior do que o outro, uma batalha maior do que a outra. Como se não bastasse isso, os vícios narrativos de Bay chegam a irritar em muitos momentos. Além da frustrada tentativa de fazer humor a todo o instante, o que diminui o impacto de algumas boas situações, as aceleradas cenas de ação, o nacionalismo excessivo e a forma sexista como explora a bela Nicola Peltz soam completamente desnecessárias.


As muitas falhas, porém, ficam de lado diante da inegável capacidade de Bay em empolgar com seus trabalhos. Ainda que os Autobots já não tenham o mesmo impacto, e que as espetaculares batalhas não segurem todo o longa, o carisma de Optimus Prime e Bumblebee seguem sendo o grande responsável pelos milhares de dólares nas bilheterias mundiais. Enquanto a trama se mostra pouco inspirada, o visual dos novos personagens é realmente inventivo. O samurai Drift e o militar Hound, por exemplo, surpreendem pelos muitos detalhes, conseguindo se destacar rapidamente. O mesmo, aliás, pode-se dizer do vilão LockDown e sua tropa espacial. Carregando no peso desse inimigo, e na sua aura dark, o visual sombrio do antagonista é impecável.


Essas três novas adições, inclusive, ganham mais destaque do que os tão comentados Dinobots. Apesar do visual fantástico dos dinossauros\robôs, os três não tem grande participação na trama, se tornando úteis somente no grandioso clímax. Abrindo mais espaços para os embates entre humanos, Michael Bay aproveita toda a aptidão de Mark Wahlberg dentro do gênero, conseguindo conceber eletrizantes sequências de ação. Levando boa parte do seu filme para a China, o diretor utiliza com habilidade todo o cenário local, que ganha ainda mais destaque devido a competente fotografia de Amir Mokri e o eficiente uso do 3-D. Além de contribuir visualmente, a presença asiática no longa foi mais uma das bem sucedidas estratégias de marketing dos produtores. Prova disso é que em menos de quinze dias, o novo Transformers já é a maior bilheteria de todos os tempos em território Chinês. 


Preferindo pecar pelo excesso do que por omissão, Michael Bay faz de Transformers - A Era da Extinção um daqueles trabalhos que oferecem tudo em troca da diversão. Cada vez menos se levando a sério, o que fica nítido na autocrítica presente em uma das cenas iniciais, Bay aposta em fórmulas repetidas e no carisma de seus Autobots para faturar rios de dinheiro em todo mundo. Por mais que a paciência com a falta de lógica da franquia já esteja se esgotando, se você conseguir deixar o seu cérebro em casa a diversão ainda é garantida.

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