quarta-feira, 7 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

O Peter Parker certo, no espetáculo errado

É inegável a capacidade de entretenimento por trás de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro. Diferente do "apenas" divertido reboot, o longa novamente dirigido por Marc Webb consegue eliminar o tom dispensável e redundante que acabou marcando a volta do herói aracnídeo aos cinemas. Dialogando de forma eficiente com o público mais jovem, a continuação vai muito além do - novamente - ótimo Andrew Garfield, nos apresentando grandiosas cenas de ação e bem sucedidas doses de humor. Porém, na tentativa de corrigir os problemas do início desta franquia, Webb acaba esbarrando numa trama marcada pelos excessos. Na verdade, a impressão que fica é que esta continuação nos apresenta o Peter Parker certo, mas um exagerado espetáculo.

E todo este tom megalomaníaco tem uma explicaçãon óbvia: a tentativa de ampliar o universo do "aranha" nos cinemas. Buscando repetir o êxito da Marvel Studios, a Sony resolveu explorar o vasto repertório de personagens que cercam o herói criado por Stan Lee e Steve Ditko. Tudo isso, no entanto, sem a intenção de perder muito tempo para desenvolver os "novos" personagens. Com roteiro assinado pelo quarteto James Vanderbilt, Jeff Pinkner, Roberto Orci e Alex Kurtzman, o longa se passa pouco após os episódios do reboot. Ainda convivendo com a trágica morte do Capitão Stacy (Denis Leary), Peter Parker (Andrew Garfield) segue dividindo o seu tempo entre a luta contra os criminosos e a paixão por Gwen Stacy (Emma Stone). Apesar de alimentar um grande amor pela filha do Capitão, Peter decide cumprir a sua promessa e termina o seu relacionamento para evitar que o seu amor corra algum risco. Abalado pela dura decisão, Peter acaba reencontrando o seu grande amigo Harry Osborn (Dane DeHaan), que volta a Nova Iorque para assumir a grande corporação Oscorp. Buscando reviver a velha amizade após um longo tempo separado, Harry descobre que está com uma rara doença genética e que precisa do sangue do Homem-Aranha para se recuperar. É ai que os velhos fantasmas de Peter voltam a tona, incluindo o nebuloso passado de seus pais e um temido vilão: Electro (Jamie Foxx). 


Buscando abrir espaço para o desenvolvimento do Sexteto-Sinistro, uma espécie de Os Vingadores formados por vilões, a trama não perde muito tempo em apresentar os "novos" inimigos de Peter Parker. Com um início em ritmo frenético, Marc Webb mostra um grande amadurecimento na utilização do humor e na construção das cenas de ação. Explorando com maestria o CGI e o 3-D, toda a concepção envolvendo o Homem-Aranha - destaque para o seu novo uniforme - soa extremamente fiel aos quadrinhos. É impossível não se empolgar com os realísticos voos de Peter Parker, com os seus saltos tirados diretamente das HQ's, e com as suas criativas formas de salvar o dia. Se prepare então para um show de "carros voadores", descargas elétricas e excessivas câmeras lenta. Opções que, aliás, só ampliam o impacto visual e estético de Electro, muito bem conduzido por Jamie Foxx. Destaque para a grandiosa cena de apresentação do vilão, marcada por explosões, eletricidade e pela insana trilha-sonora. No entanto, se o espetáculo visual impressiona o mesmo já não podemos dizer do desenrolar da trama. Afinal de contas, com tantos personagens e elementos a serem desenvolvidos em cena, Marc Webb acaba se perdendo em meio a megalomania do roteiro.


Enquanto o diretor mostra perícia na condução da relação de Peter Parker com Gwen Stacy e a Tia May, o restante dos personagens têm um decepcionante desenvolvimento. A começar pelo próprio Electro, que, apesar da interessante construção inicial, se torna um elemento subestimado pela própria trama. Uma pena, já que Jamie Foxx está muito à vontade na pele do solitário e obcecado Max. Pior ainda é a introdução do novo Duende Verde. Com um tom extremamente exagerado, quase caricato, o Duende vivido pelo competente Dane DeHaan (Poder sem Limites) é "jogado" em tela de maneira totalmente descuidada. Apresentando de forma superficial a amizade entre Peter e Harry, Webb e os roteiristar modificam drasticamente a origem e as intenções do personagem. Fato que, geralmente, não é muito bem aceito pelos fãs mais revoltados, vide o Mandarim de Homem de Ferro 3. O mais curioso, no entanto, é que esse (nem de longe) é o principal problema do personagem. Na verdade, a nova versão de Harry Osborn seria até bem aceitável se não fosse o preguiçoso e forçado desenvolvimento envolvendo o seu alter-ego Duende Verde. Ainda que DeHaan corrija boa parte dessas falhas com a sua atuação, o fato é que essa opção impede, inclusive, que Electro tenha o seu previsto lugar ao sol dentro da trama. Por outro lado, vale destacar a rápida e divertida participação de Paul Giamatti, pouco explorado como o promissor vilão Rhino.

 

Em meio a altos e baixos, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro é uma evolução em relação ao seu antecessor. Contando com a ótima química do cativante casal da vida real Andrew Garfield e Emma Stone, com a inspirada atuação de Sally Field e com uma empolgante mistura de ação e humor, Marc Webb esbarra nos interesses comerciais do próprio estúdio ao conceber algo maior do que o necessário. Uma grande forçada de barra em prol do provável Sexteto-Sinistro, que, só não derruba todo o trabalho, graças ao excelente e corajoso clímax. Com direito a uma "eletrizante" e inusitada versão da música "Dona Aranha". 

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