Imagine você se três mulheres recém traídas resolvessem se unir contra o homem que as colocou um belo "par de chifres". Essa é a premissa básica de Mulheres ao Ataque, novo longa dirigido por Nick Cassavetes (Diário de uma Paixão), filho dos atores John Cassavetes e Gena Rowlands. Contando com uma grande química entre as protagonistas, a comédia de aparência feminista acaba se perdendo justamente por não acreditar em sua própria identidade. Afinal de contas, apesar de destacar a força e independência da mulher atual, a impressão que fica é que as personagens só querem mesmo uma vida requintada e um homem pra chamar de seu.
Com roteiro assinado por Melissa Stack, a comédia sobre a infidelidade apresenta com destreza as suas complexas e completamente opostas protagonistas. De um lado temos a dona de casa Kate King (Leslie Mann), uma mulher zelosa e insegura que abdicou de sua vida\vaidade para cuidar do marido Mark King (Nikolaj Coster-Waldau). Vivendo nesta redoma do relacionamento perfeito, Kate parece ter completa confiança em relação ao seu par. Já do outro lado temos a sexy e bem sucedida Carly (Cameron Diaz), uma vaidosa advogada que usa do seu poder de atração para conquistar os seus namorados. Buscando dar um rumo para sua vida amorosa, Carly acaba se apaixonando perdidamente por Mark. Tudo muda, no entanto, quando na tentativa de fazer uma surpresa para o namorado, a bela advogada descobre que Mark é casado. Como se não bastasse isso, ela acaba tendo que conviver com os surtos da solitária Kate, que fica completamente desnorteada com a traição do marido. Alimentando certo remorso pela situação, principalmente pela inocência da mulher traída, Carly decide oferecer um ombro amigo. Na tentativa de superar as diferenças e a traição, as duas acabam descobrindo que Mark tem uma terceira amante. Revoltadas com a nova traição, as duas começam a tramar uma inusitada vingança contra o novo casal.
Apresentando uma excelente primeira metade, o toque feminino de Melissa Stack constrói e desenvolve com originalidade as duas protagonistas. Com um preciso tempo de comédia e diálogos interessantes, Nick Cassavetes se apoia na invejável química de Cameron Diaz e Leslie Mann para construir um eficiente início de projeção. Explorando muito bem as diferenças entre a mulher atual vivida por Diaz, e a figura feminina mais antiquada interpretada por Mann, a trama ressalta emoções e sentimentos bem marcantes dentro do imaginário feminino. Lidando de forma bem humorada com temas como a insegurança, a solidão, a inveja e o amor, o roteiro cria o cenário perfeito para a aproximação dessas mulheres tão diferentes. Apresentando um clima de aparente "sismance", é interessante ver como Cassavetes ressalta o lado feminino de forma mais universal, apelando, inclusive, para surpreendentes referências masculinas. Contando com os ótimos desempenhos de Cameron Diaz e Leslie Mann, essa última hilária ao viver uma instável e insegura dona de casa, os quarenta primeiros minutos mostram mulheres que não tem vergonha de admitir os seus erros, de rir deles, e de chutarem o balde na tentativa de dar a volta por cima. Acostumada a trabalhar nas comédias de seu marido Judd Apatow, é impressionante a capacidade de Mann em fazer piadas mais físicas, deixando a vaidade de lado e contrapondo com a figura mais sexy e segura vivida por Diaz. Tudo isso, é verdade, sob um prisma inusitado, mas extremamente crível e interessante. Até a cantora Nicki Minaj, em sua estreia nos cinemas, tem um desempenho extremamente divertido.
Os acertos, no entanto, praticamente param por ai. Quando a trama envereda para uma espécie de "vingança dos nerds" de mulheres traídas, o roteiro e Cassavetes perdem a mão e o longa tem uma queda vertiginosa. Deixando de lado todos os acertos da primeira metade, a história acaba ganhando novos contornos - e curvas - com a entrada do terceiro elo desta vingança: a bela Amber (Kate Upton). Apesar de Upton se esforçar para acompanhar o ritmo das companheiras, a sua personagem é extremamente estereotipada e frágil. Diferente das elaboradas Carly e Kate, Amber é aquela típica ninfeta ingênua, que acaba se tornando um prato cheio para as velhas piadas da loira burra. Uma pena, já que a modelo demonstra um interessante carisma e deixa a impressão que poderia acrescentar mais do que sua a beleza. Com o trio fechado, a trama descamba para uma série de piadas escatológicas de mau gosto, a maioria delas ligadas ao infantilizado contragolpe feminino. Pior ainda é o rumo dado ao "macho alpha" Mark, vivido pelo competente Nikolaj Coster-Waldau (Mama). Estereotipado e unidimensional, é inevitável a dose de vergonha alheia ao assisti-lo interpretando um personagem alvo de escatológicos ataques e pivô de um forçado clímax. Na verdade, a imaturidade no desenvolvimento de Mark, e consequentemente na reação das protagonistas, acaba diluindo boa parte dos acertos envolvendo a afetuosa relação construída entre Carly, Kate e Amber.
Ainda que o competente diretor Nick Cassavetes consiga dar uma boa arredondada na questionável metade final, e que Diaz e Mann demonstrem um grande carisma em cena, Mulheres ao Ataque acaba se confundindo justamente no momento em que deveria afirmar o verdadeiro poder feminino. O que tinha potencial para ser um criativo e original "sismance", enfatizando a ligação afetiva entre as protagonistas, acaba se tornando uma divertida, bem intencionada, mas desnivelada comédia romântica.
Ainda que o competente diretor Nick Cassavetes consiga dar uma boa arredondada na questionável metade final, e que Diaz e Mann demonstrem um grande carisma em cena, Mulheres ao Ataque acaba se confundindo justamente no momento em que deveria afirmar o verdadeiro poder feminino. O que tinha potencial para ser um criativo e original "sismance", enfatizando a ligação afetiva entre as protagonistas, acaba se tornando uma divertida, bem intencionada, mas desnivelada comédia romântica.
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