É inevitável a comparação, mas desde o primeiro trailer de Caminhando com Dinossauros 3-D, a imagem que me vem à cabeça é a da franquia Em Busca do Vale Encantado. Rodado no ano de 1988, o longa dirigido por Don Bluth explorava carismáticos personagens e uma trama repleta de interessantes fábulas, se tornando um grande sucesso junto ao público. Prova disso, é que os dinossauros Little Foot e sua turma acabaram rendendo mais doze continuações voltadas para o mercado home-vídeo, fazendo parte - até hoje - das memórias afetivas de muitos marmanjos de plantão. Sem esse mesmo carisma, e com uma trama extremamente insossa, Caminhando com Dinossauros 3-D acaba pecando pela falta de ousadia. Se visualmente o filme é impecável e transfere o espectador para o universo pré-histórico, incluindo ai os papais e mamães de plantão, o desenrolar dos personagens é previsível e pouco inspirado, transformando o longa numa esquecível diversão para a criançada.
Explorando todo o avanço tecnológico que o cinema atual possibilita, e o certo fascínio que o universo pré-histórico provoca no espectador, o longa dirigido por Barry Cook aposta em uma verossímil construção digital dos dinossauros. Se inspirando na famosa série da BBC Walking with Dinosaurs, a animação em 3-D, assinada por John Collee, narra a história do jovem dinossauro Patchi, um Pachyrhinosaurus que sofre em função da sua pequena estatura. Convivendo com as implicâncias de Rock, seu irmão maior, Patchi acaba se apaixonando por Juni, uma companheira de espécie que vive em uma manada diferente. Após um longo período de estiagem, Patchi e sua família começam a migrar para o sul, onde uma grande tragédia acaba os separando. Ao lado de Rock, Patchi terá então que lutar contra os seus predadores naturais, e contra o amadurecimento, para sobreviverem em meio ao selvagem mundo pré-histórico.
Tentando associar noções exatas sobre o modo de vida dos dinossauros a uma trama extremamente clichê, a fábula construída por Cook acaba esbarrando no didatismo e na falta de inspiração. Aproveitando uma série de fórmulas já desgastadas - a separação dos pais, o pequeno fadado a ser o herói, o amor a primeira vista - a jornada do pequeno Patchi só não estraga o resultado final do longa porque caminha em terreno seguro. Afinal, apesar de já utilizadas à exaustão, essas fórmulas geralmente funcionam junto à criançada. No entanto, com exceção do pequeno Patchi e da divertida ave Alex, falta carisma aos personagens, fato que acaba diminuindo consideravelmente a empolgação envolvendo a trama. Outro ponto que acaba incomodando fica pela construção da personalidade dos personagens. Enquanto alguns se comunicam com a fala, geralmente os pequenos e mais novos, os mais velhos emitem "apenas" os seus ruídos tradicionais. Essa opção soa um tanto quanto contraditória, até mesmo para as crianças, e tira bastante do interesse pelos personagens mais experientes. Pra piorar, o início em live-action também soa desnecessário, e a presença de atores reais, incluindo ai Karl Urban (Doom), acaba tornando ainda mais previsível o desfecho da trama. Vale destacar, porém, o bem vindo didatismo na apresentação dos dinossauros, com direito a curiosas e resumidas apresentações, extremamente atrativas para a criançada.
Se a trama soa previsível até mesmo para o seu público alvo, a construção digital, no entanto, vale o ingresso. Com um incrível trabalho digital, a verossimilhança na construção dos dinossauros, e a colocação deles em paisagens reais, funcionam. Desde as
cores, passando pela movimentação e chegando a textura dos personagens, todos esses fatores, imprimem uma grande sensação
de realidade ao material apresentado. As cenas rodadas na água, por exemplo, são de um realismo impressionante, assim como a construção da extinta ave Alex e de todos os bem detalhados dinossauros. Em alguns momentos do longa, inclusive, a impressão que fica é que estamos assistindo a um documentário sobre o reino animal, daqueles transmitidos pela National Geographic (Só que com dinossauros). Digo mais. Se o filme não tivesse diálogos e toda a humanização fabulística, o resultado final seria bem mais interessante. Pelo menos, para o público em geral, até porque se foi o tempo que os longas de animação eram concebidos apenas para as crianças de plantão.
Visualmente impactante, a impressão que fica ao final da projeção é que acabamos de assistir a uma divertida aula sobre a pré-história, voltada para o público infantil. No final das contas, Caminhando com Dinossauros 3-D acaba funcionando por sua beleza digital. Apesar de agradar aquela criançada mais inocente, fica nítido que o longa poderia ser um entretenimento de melhor qualidade. Vide o desempenho dos carismáticos, e ainda hoje assistidos, episódios da franquia Em Busca do Vale Encantado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário