quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Imortais

Visualmente deslumbrante, épico aposta no entretenimento em filme que padece de humanidade


Quatro anos após o sucesso comercial de 300, os produtores do longa Gianni Nunnari e Mark Canton resolveram repetir a dose e apostaram no épico Imortais, obra dirigida pelo indiano Tarsem Singh, que promete encantar o espectador com tamanha beleza visual. Explorando a fórmula de construção digital, já utilizada por Zack Snyder em 300, Imortais consegue ser ainda mais grandioso visualmente, mas deixa a desejar, justamente, no seu material humano. Com belas cenas de batalha, e um roteiro regular, o épico funciona como entretenimento para os fãs do gênero, mas deixa a impressão que os produtores e a direção poderiam dar mais atenção à condução do elenco.

Marcando a estreia do indiano Tarsem Singh no ocidente, Imortais narra a história de Teseu (Henry Cavill), camponês que apesar da habilidade nas lutas, vive de forma tranquila ao lado de sua mãe e seu tutor (John Hurt). Tudo muda, no entanto, quando o rei Hiperion (Mickey Rourke) resolve desafiar os deuses e soltar os Titãs. Na busca pelo arco de Épiro, única arma capaz de liberar os titãs, o cruel Hiperion chega à cidade de Teseus, assassinando sua mãe e o tornando escravo. O que Theseus não sabia era que os deuses tinham planos para ele, e com a ajuda da oracula Phaedra (Freida Pinto), acaba se tornando uma das únicas possibilidades de salvação do seu povo.

Apostando em uma trama pouco original, mas eficiente na sua proposta, Imortais se apoia no visual fantástico desenvolvido digitalmente pra conquistar a atenção do público. Com cenários exóticos e extremamente bem recriados, a mitologia grega ganha uma bela forma nas mãos do diretor indiano. É nítido o esforço de Singh em não só criar grandes e deslumbrantes cenários, mas sim obras de artes. Sem exageros e com extrema realidade, cada quadro do filme remete a uma espécie de pintura levada para as salas de cinema. Desde as paisagens, até o figurino, tudo parece detalhadamente construído, o que acaba funcionando muito bem, dando um criativo contraste à violência estilizada apresentada no filme.

Por sinal, assim como 300, Imortais não economiza nas batalhas e na carnificina, o que aqui ganha um representação ainda mais real. Explorando a câmera lenta, bem utilizada por Singh, além de belas coreografias, as cenas de ação são visualmente impressionantes e bem detalhadas. Isso, graças ao recurso da câmera lenta, que dá mais foco as ações dos atores em meio as grandiosas batalhas. Por outro lado, o figurino dos personagens merece algumas ressalvas. Enquanto os "humanos" são bem construídos, destaque para o assustador exército do rei Hiperion, os deuses parecem ter saído do carnaval carioca. Com elmos extremamente confusos, e um visual pouco inspirado, os trajes divinos não criam o impacto esperado. O 3-D, aliás, se não atrapalha, também não apresenta nada de novo para a experiência promovida por Singh. É nítido que a preocupação do diretor está na beleza do material apresentado e não na utilização deste recurso.

Apesar de pequenos equívocos na parte visual, o grande pecado de Imortais está no seu elenco. Com atuações pouco expressivas e extremamente automáticas, a trama acaba perdendo muito do impacto construído pelos efeitos digitais. A começar pelo heroi Teseus, aqui interpretado pelo novo Super-Homem Henry Cavill. Bem nas cenas de ação, Cavill mostra transpiração, mas pouca inspiração. Quem também não foge do lugar comum é Freida Pinto, que na pele do desnecessário interesse romântico de Teseus, tem uma atuação burocrática e de pouca química com Cavill. Tanto que prudentemente, a relação dos dois acaba ficando em segundo plano, principalmente, na parte final do filme. Enquanto os protagonistas têm atuações burocráticas, o vilão Hiperyon, interpretado por Mickey Rourke, se apresenta acima da média, conseguindo, mesmo sem escapar da estereotipagem, ser verdadeiramente assustador e cruel. O curioso, é que justamente um deus, acaba sendo o personagem mais humano do filme. Trata-se de Luke Evans, que na pele de Zeus, apesar do pouco tempo em cena, consegue destacar bem os dilemas do personagem e ter uma atuação digna. Ele, aliás, é o único que consegue destaque no Olimpo, já que o restante dos deuses se apresentam bem, apenas, nas belas cenas de ação.

Nada que estrague o resultado final do filme, que, com ação na medida certa e um visual arrebatador, vai conquistar com extrema facilidade as atenções dos fãs do gênero. Um filme grandioso, que poderia ser ainda melhor, se tivesse encontrado o tão complicado equilíbrio entre a tecnologia e a interpretação.

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