segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cinemaniac indica (Clube dos Cinco)

Quando escrevi o texto sobre A Garota de Rosa Shocking, classifiquei John Hughes como um dos poucos diretores que sabia definir bem a juventude em seus filmes. Sem explorar os clichês do tema, Hughes abordava com extrema felicidade os anseios dos jovens, as suas dúvidas e os seus principais problemas. Até por isto, o diretor se conceituou como um dos grandes nomes da década de 1980, com filmes como Mulher Nota Mil, Gatinhas e Gatões e Clube dos Cinco, que sem dúvidas é um dos maiores trabalhos da carreira de Hughes. Mostrando com extrema inspiração o panorama jovem da sociedade norte-americana, o diretor mostra que é possível discutir temas complicados, sem deixar o entretenimento de lado.

Promovendo um perfil didático e extremamente fiel dos jovens americanos, John Hughes consegue mostrar que os problemas não assombram apenas uma classe, ou um nicho de jovens. Destacando esta segmentação, característica em filmes do atualmente clicherizado gênero High-School, o diretor narra a história de 5 jovens, completamente diferentes, que em função de desvios de conduta precisam passar algumas horas trancadas sob a supervisão de um professor, personagem otimamente interpretado por Paul Gleason. Os cinco jovens são Andrew, o atleta padrão tipicamente perfeito, Brian, o CDF que só se preocupa em tirar notas altas, John, o bad boy revoltado, Claire, a garota popuplar e principal candidata a rainha do baile e Allison, a jovem deslocada que praticamente passa despercebida. Apesar de serem pessoas bem distintas, à medida que o dia transcorre eles passam a aceitar uns aos outros, percebendo que as diferenças são bem menores que eles esperavam.

Apesar da trama simples, o roteiro escrito pelo próprio Hughes é de uma profundidade impar, conseguindo humanizar estas estereotipadas figuras dos blockbusters adolescente. Sem perder o humor, que afinal marcou a carreira do diretor, o longa discute questões comuns aos jovens, como a necessidade de agradar aos pais, a dificuldade do convívio familiar, os anseios da juventude e os medos da fase adulta. Tudo isto, sem cair em clichês ou situações fora da realidade. Mesmo se passando na década de 1980, ou seja, quase 30 anos atrás, acredito que o filme sirva de exemplo para a nova geração de jovens, que cada vez mais deixam de respeitar as diferenças individuais de seus amigos e/ou colegas. Com diálogos expressivos, que funcionam como uma grande discussão, o filme tem como grande mérito, também, a capacidade do seu elenco.

A começar por Molly Ringwald, atriz que protagonizou alguns dos principais filmes de Hughes. Ótima como a "popular" Claire, a carismática personagem se destaca principalmente nos conflitos com "bad-boy" John (Judd Nelson). Apesar do pouco destaque após O Clube dos Cinco, Nelson entrega uma ótima interpretação, talvez a de maior carga dramática, impressionando ao construir um tipo naturalmente rebelde. A cena em que ele retrata a sua relação com os país é brilhante. Já o nome mais "famoso" do filme, Emilio Estevez vai muito bem na pele do jovem atleta pressionado por seus objetivos. Além deles, o elenco ainda traz as presenças de Anthonny Michael Hall, que se destacou em Mulher Nota Mil, e aqui tem uma atuação bem mais centrada, e Ally Sheedy, que apesar de falar pouco é uma das personagens mais expressivas do filme. Demonstrando uma química invejável, o elenco acerta em cheio nas discussões, exaltando através de preciosos e bem-humorados diálogos os anseios, as inseguranças e as dúvidas bem tipicas na transição da adolescência para a fase adulta.

Com Clube dos Cinco Hughes prova ao mundo do cinema que um roteiro criativo, atores de primeira linha e boas ideias já são o suficiente para se fazer um grande filme. Despretensioso e extremamente eficiente, esta comédia comportamental é um daqueles indispensáveis e mais fieis retratos de uma geração. Um clássico que, como a própria canção tema "Don't You (Forget About Me)" diz, não será esquecido.

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