terça-feira, 1 de outubro de 2013

Festival do Rio (O Verão da Minha Vida)

Diferente dos seus personagens, comédia-dramática sabe bem por onde deve caminhar

O genérico título brasileiro pode assustar, mas O Verão de Minha Vida não é mais uma daqueles típicos filmes de férias concebidos para reinarem na "sessão da tarde". Dirigido e roteirizado pela dupla Jim Rash e Nat Faxon, vencedores do Oscar com a trama de Os Descendentes, a comédia dramática se apoia em interessantes personagens para debater sobre o processo de amadurecimento dentro da juventude. Contando com um inspirado desempenho de Sam Rockwell , o longa evita se levar muito a sério, e através de uma original atmosfera mostra as consequências que um relacionamento equivocado na vida de um inseguro jovem de 14 anos.

E o personagem em questão é Duncan (Liam James), um jovem que desde a primeira cena já se mostra "um peixe fora d'água". Enquanto a "nova" família composta por sua mãe Pam (Toni Collete), seu namorado Trent (Steve Carell) e sua filha Laura (Devon Werden) parecem entusiasmados com um promissor inicio de férias na casa de verão do seu futuro padrasto, Duncan se mostra impassível e pouco a vontade com toda a situação. O motivo: Duncan não vai com a cara de Trent e queria estar - na verdade - com o seu verdadeiro pai, que está de mudança para uma nova cidade. Incomodado com a situação, e principalmente com as atitudes de Trent e o desdém de sua própria mãe, Duncan parece não aproveitar um segundo de sua estadia em uma cidade praiana no interior dos Estados Unidos. Pra piorar, Laura não dá o mínimo de atenção para ele, e Duncan acaba passando o seu tempo sozinho, passeando pela cidade em cima de uma bicicleta pouco convencional. Tudo muda, no entanto, quando ele conhece Owen (Sam Rockwell), um solteirão com modo de vida bem peculiar, que trabalha no grande parque aquático da cidade. Deste encontro nasce uma grande relação de amizade, que vai acabar dando um novo sentido para a vida de Duncan.


Em cima dessa interessante trama, a dupla de roteiristas Jim Rash e Nat Faxon consegue desenvolver uma abordagem original sobre a maturidade, que acaba não só girando em torno do jovem protagonista. Na verdade, o roteiro propõe uma analise mais ampla, deixando claro que tanto Duncan, quanto parte dos personagens também tem dificuldades para encontrar o seu rumo. Contando com um elenco de apoio extremamente bem construídos, é interessante ver como a maioria dos personagens passa também por algum tipo de problema envolvendo os seus relacionamentos. Desde os dilemas envolvendo a separação, passando pelo sofrimento do amor incompreendido e chegando ao trauma da infidelidade, todos esses temas são explorados com segurança ao longo do filme, contribuindo para a densidade da trama. Outro grande destaque fica pelas sub-tramas construídas. Além de se concentrar nesse processo de amadurecimento de Duncan, o roteiro apresenta também personagens de apoio extremamente bem sucedidos, que adicionam humor e contribuem muito para o resultado final do filme. Destaque para a vizinha alto astral Betty (Alisson Jenney), sua filha Susanna (Anna Sophia Robb), Caitlyn (Maya Rudolph) e a própria dupla de diretores, que vivem Roddy e Lewis, dois hilários personagens que trabalham no parque aquático.


Além do trabalho eficiente no desenvolvimento da trama, a dupla de diretores mostra grande qualidade também na condução do elenco. Principalmente com o inexperiente Liam James, que no seu primeiro grande papel no cinema tem uma atuação destacada. James consegue um desempenho impressionante nas partes mais introspectivas, convencendo o espectador da sua personalidade introspectiva. Desde o modo de andar, meio arcado quase robótico, até a expressão fechada, o personagem torna nítida a impressão de que está perdido. O grande destaque do filme, no entanto, fica para o eclético Sam Rockwell, que rouba todas as atenções ao dar vida a um personagem irresponsável, cativante e hilário. A química entre Rockwell e James é eficiente, e as cenas envolvendo a dupla sempre proporcionam boas risadas. Em contrapartida, outro grande mérito dos diretores Jim Rash e Nat Faxon fica pelo personagem vivido por Steve Carell. Um completo babaca, com o perdão da palavra, talvez tenha sido o primeiro personagem de Carell que não fosse nada engraçado. Isso, aliás, nem de longe é um demérito para o ator, que consegue uma ótima e diferente interpretação. Vale destacar ainda a sempre competente Toni Collete, a promissora Anna Sophia Robb e o jovem River Alexander, que, apesar do pouco tempo em cena, tem um hilário desempenho.


Eficiente ao contrastar a alegria de um verão com as tristezas e confusões de seus personagens, O Verão da Minha Vida é bem mais que uma simples comédia. Elogiado no festival Sundance, o longa é perspicaz aos escolher o bom humor e a leveza para levar as telas temas mais complexos. Com personagens cativantes, a trama é desenvolvida de forma sensível e, mesmo com algumas concessões ao cinema pipoca, consegue um resultado inventivo e agradável. Mais um bom trabalho da dupla Jim Rash e Nat Faxon que, após o ótimo Os Descendentes, mostram que tem muito mais a oferecer ao cinema. Seja na direção, no roteiro ou até mesmo na atuação.


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