Baseado em incríveis fatos reais, o novo trabalho da diretora Sofia Coppola pode causar um certo incomodo no espectador mais desatento, tamanha superficialidade demonstrada em cena. Porém, nesse caso, não por erros dos realizadores. Pelo contrário, já que este recurso acaba retratando bem o vazio existencial que uma parte da atual juventude alimenta. Em uma época onde alguns valores importantes são descaracterizados, onde o culto as grifes, ao show biz e as celebridades instantâneas cada vez mais ganha força, Bling Ring aparece como um relato preciso, moderno e extremamente interessante de uma geração. Méritos para o ótimo elenco, capitaneado pelo talento de Emma Watson, e para Sofia Coppola, uma diretora cada vez mais madura.
Maturidade, aliás, que fica nítida em cada cena do longa. Não é de hoje que Coppola já demonstra talento e todo o estilo particular em rodar um filme. No entanto, em Bling Ring seu trabalho chega a um nível realmente diferenciado, onde praticamente todas as escolhas são acertadas. Utilizando uma fotografia vibrante, que ressalta bem as cores de Los Angeles, e uma excelente trilha sonora, repleta do Hip Hop de ostentação, Sofia aposta nos flashbacks e no êxtase juvenil para narrar a história de um grupo de jovens insatisfeitos com as suas banais vidas ricas em Beverly Hills. Contando com um ótimo elenco em mãos, a diretora explora cada centímetro da juventude de seus personagens, e do glamour que os envolvem, apostando em diálogos vazios e takes visualmente atrativos. Destaque para o inventivo plano sequência de um dos roubos da gangue.
E quando escrevo diálogos vazios, não quero aqui condenar o roteiro adaptado pela própria Sofia Coppola. Na verdade, todo esse vazio presente em cena é um recurso sagaz, que condiz extremamente com as atitudes dos envolvidos e com esse retrato de uma geração superficial. Justamente ao não se aprofundar nos personagens, e nem julga-los, Sofia mostra o quão fúteis eles são e acaba por sua vez falando a linguagem desse grupo. A trama, baseada no artigo escrito por Nancy Jo Sales, narra a história de Marc (Israel Broussard), um jovem deslocado que ao se transferir para uma nova escola acaba conhecendo Rebecca (Katie Chang), uma bela aluna com um estilo de vida pouco ortodoxo. Aproveitando o fato de ter pais ausentes e separados, Becca vive em festas e de pequenos furtos a carros e casas da região. Numa dessas "noitadas", Becca e Marc acabam invadindo a mansão de Paris Hilton. Impressionados com a facilidade, os dois decidem seguir promovendo uma série de delitos. No entanto, os crimes ganham uma maior proporção quando as amigas de Becca, Nicki (Emma Watson), Sam (Taissa Farmiga) e Chloe (Claire Julian) passam a participar também desses roubos.
Em cima dessa premissa, Sofia Coppola não só explora toda a superficialidade dessa parcela da juventude, mas também aborda a origem desses problemas. Nesse caso, a ausência dos pais. Apesar de não focar muito no processo de criação, o roteiro consegue nos pequenos detalhes dar fundamento as atitude dos personagens, por mais estupidas que elas sejam. Prova disso é a personagem vivida pela competente Leslie Mann. Procurando orientar as suas filhas com mensagens tiradas de livros de auto-ajuda, essa inusitada figura materna usa personalidades de Hollywood e frases vazias - no melhor estilo Miss Universo - como um molde para o caráter de suas filhas.
E todo esse cenário consegue incomodar o espectador graças à promissora trinca de protagonistas. A começar pelo desempenho de Emma Watson (Harry Potter), que cada vez mais vai se livrando da personagem Hermione. Depois do ótimo trabalho em As Vantagens de ser Invisível, Watson mostra toda sua sensualidade em The Bling Ring. Vivendo uma patricinha extremamente dissimulada, que por si só já vale o ingresso, a bela atriz é o grande destaque do longa. Quem também rouba a cena é Israel Broussard. No personagem mais "humano" da trama, o seu Marc acaba fugindo dos clichês e também da superficialidade presente em todo longa. Vale destacar ainda a atuação de Katie Chang, que mostra muito talento na pele de Becca e parece que vai ter vida longa em Hollywood.
O único porém fica pelo excesso das cenas de furto, que se tornam repetitivas ao longo dos 90 minutos de projeção. No entanto, isso não chega a atrapalhar o resultado final de Bling Ring. Um filme propositalmente fútil, que sem a pretensão de se vender como um alerta para a sociedade acaba se mostrando um eficiente retrato de uma juventude cada vez mais desconectada da realidade. Mais um trabalho elegante, moderno e repleto de ritmo conduzido por Sofia Coppola que, aliando humor à critica social, se torna um dos melhores da carreira da diretora.
O único porém fica pelo excesso das cenas de furto, que se tornam repetitivas ao longo dos 90 minutos de projeção. No entanto, isso não chega a atrapalhar o resultado final de Bling Ring. Um filme propositalmente fútil, que sem a pretensão de se vender como um alerta para a sociedade acaba se mostrando um eficiente retrato de uma juventude cada vez mais desconectada da realidade. Mais um trabalho elegante, moderno e repleto de ritmo conduzido por Sofia Coppola que, aliando humor à critica social, se torna um dos melhores da carreira da diretora.
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